Psicologia aplicada ao trabalho
Resenha: Psicologia aplicada ao trabalho. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: lupitacachorra • 21/11/2013 • Resenha • 823 Palavras (4 Páginas) • 606 Visualizações
Em 1999 iniciou-se uma colaboração entre o Centro de
Psicologia Aplicada ao Trabalho (CPAT) e o Serviço
de Aconselhamento Psicológico (SAP), ambos do Instituto
de Psicologia da Universidade de São Paulo, buscando
articular psicologia do trabalho e psicologia clínica em torno
dos temas trabalho e desemprego. Esta iniciativa foi motivada
pela identificação de demandas por ajuda psicológica
dirigidas ao SAP por clientes que viviam dificuldades no trabalho
e os efeitos do desemprego.
A primeira atividade conjunta buscou identificar, por um
lado, como o trabalho e o desemprego se apresentavam nas
chamadas queixas psicológicas e, por outro, como os estagiários,
estudantes do 5o ano de psicologia, acolhiam e lidavam
com estas queixas na posição de atendentes de um serviço
clínico-psicológico (Menezes Junior et al., 1999)1. Esta aproximação
empírica do tema foi disparadora do questionamento
sobre a construção de objetos historicamente confinados em
áreas específicas da psicologia, neste caso, psicologia do
trabalho e psicologia clínica, recortando a experiência de indivíduos
e grupos em esferas isoladas e relativamente incomunicáveis
entre si. As práticas de intervenção e de formação da
psicologia reproduzem e expressam esta fragmentação.
A tentativa de superação desta fragmentação requereu
uma aproximação dos modos como as temáticas do trabalho
e desemprego aparecem e/ou são silenciadas nas leituras
hegemônicas na psicologia do trabalho e nas teorias
psicoterápicas.
O pensamento clínico-psicológico dominante localiza o
trabalho e o desemprego no pano de fundo sócio-econômico:
o trabalho e o desemprego, como fenômenos, são objetos
da psicologia do trabalho, da economia, da sociologia, e o
trabalho - categoria fundamental para a concepção ocidental
moderna de homem (Antunes, 1995) - é conceito periférico
nas teorias psicoterápicas.
No atendimento psicológico realizado pelo SAP predominam
duas posições polares que ora tomam a experiência do
Estudos de Psicologia 2004, 9(2), 365-371
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cliente desempregado ou com dificuldades no trabalho como
frutos de peculiaridades psicológicas do indivíduo - dinâmica
da personalidade, problemas motivacionais, conflitos inconscientes,
bloqueios emocionais, entre outros - ora como
frutos dos determinantes sócio-econômicos que tornam o
indivíduo “mais uma vítima do sistema”2.
Por outro lado, a visão hegemônica sobre o trabalho na
psicologia do trabalho sofre a influência de uma concepção
utilitarista: “aquilo que tem valor, não em si mesmo, mas
como meio para um fim julgado bom, de qualquer ponto de
vista” (Lalande, 1999, p. 1182). E, segundo o mesmo autor,
utilitarismo é “toda doutrina que faz do útil (...) o princípio
de todos os valores, na ordem do conhecimento assim como
na da ação” (p. 1182).
Por este viés, a psicologia do trabalho restringiu o trabalho
à força de trabalho que a gestão de “recursos humanos” precisa
domar. Nesta perspectiva, o desemprego não é uma questão.
Essa vertente da psicologia do trabalho é socialmente
reconhecida e legitimada como sendo a psicologia
organizacional e do trabalho, construindo um espaço de aplicação
dos conhecimentos da psicologia e, sustentada nessa
tecnologia, abrindo um importante campo de atuação profissional
(Prillelntensky, 1994).
O caráter utilitarista está claramente posto, tanto para o
trabalho humano em geral como para o trabalho dos psicólogos
e psicólogas, em particular, ou seja, trabalhar é um meio
para a busca de eficiência e produtividade do negócio. Trabalhar
é uma atividade humana que não tem valor em si, mas
apenas na medida em que se configura como meio para finalidades
de lucro. Como dizia Marx (1980), na sociedade capitalista,
trabalho é mercadoria. A psicologia abraça esse ramo
de
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