Psicologia da gestalt
Por: anaclaraperdomo • 2/11/2015 • Ensaio • 1.852 Palavras (8 Páginas) • 590 Visualizações
O movimento da Psicologia da Gestalt tem sua origem na Alemanha, no período da Segunda Guerra Mundial, ao mesmo tempo em que o Behaviorismo ganhava força nos Estados Unidos (Schultz & Schultz, 2007).Segundo o mesmo autor as duas vertentes se constituíram através das críticas às ideais da psicologia wundtiana, que, baseada em uma visão associacionista, estabelecia que as percepções fossem constituídas de elementos sensoriais que se associavam.
“Ficamos chocados com a tese de que todo fato psicológico constitui-se de átomos (elementos) inertes não-relacionados e que as associações consistem praticamente nos únicos fatores que combinam esses átomos, introduzindo assim, a ação”(Köhler, 1959, citado por Schultz & Schultz, 2007).
Embora esses dois movimentos tomassem em contrapartida as críticas às ideias da psicologia de Wundt, eles acabam se opondo um ao outro (Schultz & Schultz, 2007). Enquanto o Behaviorismo se preocupava com as características comportamentais observáveis e mensuráveis, a Psicologia da Gestalt se voltava mais para compreender o que seria a consciência, a percepção e o aprendizado por insight.
Como qualquer abordagem, a Psicologia da Gestalt teve seus principais precursores, – aqueles que deram suas raízes filosóficas e metodológicas. Podemos citar: Immanuel Kant, como o primeiro a considerar uma visão ativa a respeito do processo perceptivo; Franz Brentano, que criticou a divisão associacionista da percepção em elementos sensoriais e propôs o estudo do ato da experiência (sem a rigidez do método introspectivo de Wundt); temos também Ernst Mach, físico, com suas análises das sensações de tempo e espaço; Christian von Ehrenfels, filósofo e psicólogo, que estudou as ideias de Mach, e propôs que as percepções não podem ser reduzidas em meras aglutinações de elementos sensoriais; William James, que também criticou o reducionismo perceptivo da psicologia wundtiana; E por último temos o movimento que ocorreu na filosofia e psicologia alemã, a fenomenologia, que buscava o estudo da experiência imediata e como ela ocorria (Schultz & Schultz, 2007).
Além destes, podemos falardos três principais (e os mais importantes) fundadores da Psicologia da Gestalt. Max Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler. Eles partem de uma interrogação sobre as condições da percepção. Montam experiências controladas que buscam reproduzir o fenômeno como é dado na percepção, a fim de conhecer seu mecanismo, ou seja, aquilo que está sob a lógica da experiência imediata (Schultz & Schultz, 2007).
O marco formal do desenvolvimento da Psicologia da Gestalt ocorre em 1910 quando Wertheimer teve a ideia de estudar o Movimento Aparente (a ilusão de movimento que ocorre quando o sujeito é exposto frente a dois estímulos estáticos simultâneos). Ele realizou esta pesquisa na Universidade de Frankfurt, juntamente com Koffka e Köhler que serviram como sujeitos (Schultz & Schultz, 2007). Descobriu-se então, com a ajuda de um taquistoscópio, o que ele denominou de Fenômeno Phi.Wertheimer publicou os resultados dessa pesquisa em 1912, no seu artigo Experimental studies of perception of moviment.
Esse estudo rebateu definitivamente a teoria de Wundt, e confirmou que a soma dos elementos sensoriais através da introspecção é diferente da percepção como um todo. Através dele se definiu claramente, pela primeira vez, a posição gestáltica sobre as qualidades da Forma (Schultz & Schultz, 2007). E pôde-se estabelecer os fatores fundamentais que seriam responsáveis pelo desencadeamento dos processos gestálticos, as leis da Organização Perceptual.
Wertheimer apresentou essas leisem um artigo publicado em 1923. Ele alegava que percebemos os objetos do mesmo modo que observamos o movimento aparente, como unidades completas e não como agrupamentos de sensações individuais. Essas leis ou princípios da Gestalt seriam as regras fundamentais por meio das quais organizamos nosso universo perceptual (Schultz & Schultz, 2007).
• Lei da Proximidade: as partes ou elementos próximos no tempo e no espaço tendem a ser percebidas juntas.
• Lei da Semelhança ou Igualdade: tendência de partes ou elementos similares, ou com a mesma propriedade, serem percebidas como juntos ou segregados dos diferentes.
• Lei da Continuidade: tendência a ver elementos ou figuras conectadas de modo que os percebemos contínuos ou fluindo em uma direção específica.
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• Lei do Fechamento: há uma tendência da nossa percepção em completar as figuras incompletas, de preencher as lacunas.
• Lei da Boa-forma, Simplicidade ou Prägnanz:Há uma tendência de vermos a figura como tendo boa qualidade sob as condições de estímulos. Uma boa Gestalt é simétrica, simples e estável, e não pode ser mais simples nem mais organizada. É o princípio mais importante, que rege todos os outros, segundo Frazão & Fukumitsu (2013).
• O princípio de Figura-fundo: diz que as percepções têm duas partes: uma figura que se destaca com bom contorno e um fundo homogêneo indistinto(Dicionário de psicologia da APA, 2010).Princípio que, segundo Frazão e Fukumitsu (2013), diz que percebemos totalidades e, dependendo das circunstâncias, algo se destaca, torna-se mais proeminente, fica em primeiro plano – a figura –, enquanto o restante permanece em segundo plano – o fundo.
A figura ao lado – o cálice de Rubin, serve para exemplificar como a figura e o fundo são reversíveis e podem alterar conforme as circunstâncias. Dependendo de como a percepção se organizapodemos visualizar dois rostos ou um cálice.
• O princípio de Parte-todo : segundo Ribeiro (1985), é fundamental para a compreensão da Psicologia da Gestalt. A própria palavra Gestalt é traduzida como todo, inteiro, configuração, forma. Segundo suas palavras,
“Quando nos deparamos com algo, a nossa percepção o capta como um todo e a seguir percebemos suas partes. Donde podemos afirmar que o todo é anterior às suas partes. Embora feito de partes, o todo como ente atualiza sua essência, no momento em que ele está de fato inteiro, completo. O todo, na realidade, perde muito de seu significado, da sua importância intrínseca, no momento em que para ser analisado, é dissecado em suas partes. O todo é, na realidade, um fato fenomenológico global e é através desta globalidade que os fenômenos podem ser compreendidos, criando ou dando consciência de sua natureza intrínseca.” (p. 70).
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