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REFLEXÕES SOBRE O CASO “A MULHER DESENCARNADA” E SUA RELAÇÃO COM AS NEUROCIÊNCIAS

Por:   •  23/10/2022  •  Trabalho acadêmico  •  1.370 Palavras (6 Páginas)  •  265 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANRO

ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE PSICOLOGIA

Aliny Drago Marianelli

REFLEXÕES SOBRE O CASO “A MULHER DESENCARNADA” E SUA RELAÇÃO COM AS NEUROCIÊNCIAS

Vitória

2022

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANRO

ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE PSICOLOGIA

REFLEXÕES SOBRE O CASO “A MULHER DESENCARNADA” E SUA RELAÇÃO COM AS NEUROCIÊNCIAS

Trabalho apresentado como atividade avaliativa da matéria de Estudos em Psicologia IV, ministrada pela Profa. Dra. Mariane Lima de Souza e por Juliana Pinheiro Ramos.

Aliny Drago Marianelli

Vitória

 2022

Este trabalho visa relacionar o texto “A mulher desencarnada” (Oliver Sacks, 1895) e o vídeo “A Mulher Desencarnada – Oliver Sacks” (Vinicius Bolongnese, 2013) com os conceitos de neurociências, relativos à consciência, à propriocepção, ao dualismo mente-corpo, XXX

O vídeo “A Mulher Desencarnada – Oliver Sacks” (Bolongnese, 2013) traz o caso de Christina, retirado do livro “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu” de Oliver Sacks (1985). Christina levava uma vida normal, desempenhava seu papel de mãe e seu trabalho como programadora de computadores, além de gostar muito de balé, hóquei, equitação e poesia, até que certo dia foi surpreendida com fortes dores abdominais e, ao chegar no hospital, descobriu que necessitaria retirar a vesícula biliar. Como procedimento padrão, precisou ficar internada por alguns dias, como uma espécie de estágio pré-operatório. Em uma dessas noites no hospital, Christina teve um sonho em que seu corpo oscilava fortemente, suas mãos tinham movimentos desastrados e que por vezes não conseguia sentir as coisas em que tocava, nem o chão sob seus pés. Tamanha a intensidade e particularidade do sonho, a mulher decidiu pedir a opinião de um psiquiatra, o qual a respondeu que se tratava de um caso de ansiedade histérica. Horas mais tarde, tudo que ocorreu no sonho foi transposto para a realidade.

Pelo relato apresentado no vídeo e pela descrição do caso no livro, não é possível afirmar se se tratava de apenas um sonho ou se, naquela noite, Christina já apresentava seus primeiros sintomas. Talvez ela não estivesse em estado de vigília presenciando tudo aquilo e a sua consciência, ao perceber o que se passava, organizou as informações para que elas fossem interpretadas como se ela estivesse dormindo. Afinal, dada a extravagância do conteúdo e o modus operandi do cérebro humano em encontrar coerência nas coisas do mundo, nada mais esperado do que interpretar a situação vivida como um sonho: é mais coerente concluir que se trata de uma quimera do que algo que pode ser possível e existente na realidade (REF TEXTO DA CS GIBBS SEI LA). 

No dia após o “sonho”, Christina só ficava de pé se olhasse para os pés, só segurava coisas na mão se estivesse olhando para elas, seu corpo e seu rosto ficavam soltos (como se não tivessem tônus muscular) e sem expressão; ela havia perdido o controle do corpo, como se estivesse desencarnada – como se ela não estivesse recebendo informações do cérebro. A hipótese de que ela estivesse com a Síndrome Biparietal foi descartada, pois os exames detectaram que o cérebro recebia as informações sensoriais, só não era possível trabalhar com elas.

Por fim, concluíram que se tratava de um caso de perda total da propriocepção, derivada de uma polineurite aguda que afetou as raízes sensoriais dos nervos espinhais e cranianos por todo neuroeixo (Bolongnese, 2013).

A propriocepção pode ser entendida como o sexto sentido humano, pois é a partir dela que o cérebro se mantém informado sobre o estado no qual o corpo se encontra. Tal fenômeno é responsável por afetar a percepção da temperatura, de toques leves e da dor, além de dizer da

aferência dada ao sistema nervoso central (SNC) pelos diversos tipos de receptores sensoriais presentes em várias estruturas. Trata-se do input sensorial dos receptores dos fusos musculares, tendões e articulações para discriminar a posição e o movimento articular, inclusive a direção, a amplitude e a velocidade, bem como a tensão relativa sobre os tendões (Martimbianco et al., 2008).        

A propriocepção é uma das vertentes da autoconsciência humana, sendo um esquema perceptivo do próprio corpo. De acordo com Freud (1923, p. 238, apud Fontes, 2006), “o ego é antes de tudo um ego corporal”; “o ego deriva em última instância das sensações corporais, principalmente daquelas que têm sua fonte na superfície do corpo”, sendo assim, o ego funcionaria como uma projeção mental da superfície do corpo, isto é, totalmente relacionado com a propriocepção.

Em casos típicos, a propriocepção funciona junto com a visão e com sistema vestibular, desempenhando a função perceptiva do próprio corpo (Sacks, 1985). Como uma dessas se tornara faltante para Christina, ela adotou como estratégia a técnica de olhar para cada parte do corpo que desejava mover e, assim, conseguia movê-la. Com essa nova configuração, seus movimentos passam a ser conscientes e monitorados, contrários ao automatismo ao qual ela estava habituada antes da doença.

Assim, ao olhar para o órgão, Christina conseguia manter uma parte do seu senso do corpo, já que havia perdido completamente sua propriocepção. Essa nova forma de funcionamento fez com que ela tivesse que criar novas modulações neurais e novos padrões de comportamento para habitar no mundo com sua doença. Com o tempo, esses movimentos que eram planejados, passaram a ser cada vez mais naturais, mostrando que seu cérebro foi capaz de criar uma nova rede neural padrão, isto é, uma nova forma de automatismo para as atividades cotidianas – sempre com o auxílio dos olhos. Portanto, “como a natureza falhara, ela recorrera ao “artifício”, mas o artifício era sugerido pela natureza e logo se tornara uma ‘segunda natureza’” (Sacks, 1985, p.52).

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