RESENHA CRÍTICA: 7 MINUTOS DEPOIS DA MEIA NOITE
Por: Evany Alicia • 1/9/2017 • Resenha • 1.020 Palavras (5 Páginas) • 454 Visualizações
BAYONA, J.A. 7 minutos depois da meia noite. Espanha: Diamond Films, 05 jan. 2017.
Anne Karoline Santos Gouveia, estudante de Psicologia. UniAges, 2017.
O presente trabalho tem o objetivo de caracterizar o processo de luto infantil a partir das diretrizes do diagnóstico reacional e situacional, e desenvolver o papel da fantasia no luto a partir da trama vivida por Connor.
Connor, um garoto introvertido, aparentemente sem relações amigáveis fora da família, passa bastante desenhando, apesar de sofrer com problemas familiares. Sua mãe encontra-se em estado terminal de câncer, seu pai é um tanto ausente, e a relação com sua avó não é nenhum pouco agradável, além de sofrer bullyng na escola.
A trama gira em torno do aparecimento de um monstro meio árvore meio homem que aparece para Connor em meio à sua realidade conturbada e o mundo da fantasia, com a condição de lhe contar três histórias e o menino contar-lhe uma quarta. São estas histórias que servem de cenário para a trama, junto à realidade da mãe doente, da péssima relação com sua avó, do pai ausente e do bullyng sofrido na escola, o que parece não incomodar tanto Connor se comparado aos problemas instaurados na família. Porém, apesar do bullyng não parecer incomodá-lo tanto, Connor tem a sensação de ser invisível para as pessoas. As histórias contadas pelo monstro e vividas, através da sua fantasia por Connor, e as circunstancias da realidade, é o que acaba por promover mudanças na trajetória do garoto, fazendo com que Connor amadureça e consiga compreender o mundo em que vive.
No entanto, Connor tenta negar essa relação com o imaginário que se manifesta para ele, forçando a acreditar que tal fantasia seja algo infantil demais e até mentiroso num momento de sua vida em que exige maturidade, mas que é taxado novo demais para compreender como um adulto a iminente perda de um ente querido, mas se deixa envolver e permite que as histórias contadas estejam diretamente relacionadas com ele e o seu mundo, o que altera a percepção de Connor. Tal relação tem um impacto um tanto negativo nas atitudes de Connor, que busca o tempo inteiro por punição, uma necessidade que o sentimento de culpa lhe traz.
O processo de luto de Connor é acompanhado e compreendido de modo que quem o assiste adentra na fantasia vivida por ele, a qual elucida este momento de diferentes emoções. Segundo Franco e Mazorra (2007), a morte de um genitor, em especial, é uma das experiências mais impactantes que uma criança pode vivenciar, e diante da ausência irreversível de um vínculo provedor de sustentação, a criança se depara com profundos sentimentos de desamparo e impotência.
De acordo com Simonetti (2006), o adoecimento apresenta quatro posições principais, em uma espécie de órbita, sendo estas negação, revolta, depressão e enfrentamento, estas posições não são especificas para a doença, apresentam-se nas maneiras que o ser humano encontra para enfrentar crises, receber notícias ruins, lidar com mudanças, encarar a morte, e, também, reagir a doenças. Ao analisar as reações de Connor diante do quadro terminal da mãe, é possível perceber que o mesmo apresentou estágios do diagnóstico reacional, o qual se baseia nos trabalhos de Elisabeth Kubler-Ross (1989), segundo Simonetti (2006). As emoções de Connor podiam ser expressas nos encontros com o monstro, os quais ocorriam todos os dias sete minutos depois da meia noite, e pareciam não lhe causar medo, além do mais, o monstro vinha sendo seu único companheiro diante da situação.
Por se tratar de uma análise a partir das diretrizes de diagnóstico, remete-se à ideia de patologização do estado emocional de Connor. Porém, o diagnóstico situacional “ampara” a psicologia hospitalar com o avanço que este possibilitou, pois o mesmo permite que a escuta do psicólogo abra-se para a amplitude da vida da pessoa, enfatizando os aspectos que influenciam e são influenciados pela doença, sem que estejam necessariamente relacionados, segundo Simonetti (2006). O diagnóstico situacional tem como objetivo apontar a existência de problemas na forma de enfrentamento da doença e/ou do processo de luto, o diagnóstico trata-se de uma ferramenta para orientar a terapêutica, ainda de acordo com Simonetti (2006). Desta forma, acredita-se proporcionar ao paciente um certo controle da situação pela via do enfrentamento acompanhado devidamente pelo profissional da psicologia. No caso de Connor, o diagnóstico situacional ajudaria a compreender o seu estado reacional e o manejo terapêutico para dar suporte a sua fantasia. Fantasia esta que fora herdada de sua mãe.
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