RESUMO DO LIVRO A CONSTRUÇÃO DO EU NA MODERNIDADE
Por: hajin • 20/2/2016 • Resenha • 2.853 Palavras (12 Páginas) • 5.943 Visualizações
Da Idade Média ao Renascimento
Na idade média ainda não se considerava o ''eu'', não havia liberdade, porque tudo fazia parte de uma plano maior orientado por Deus. Nessa época não havia privacidade, pois como a vida era voltada a Deus, nada era segredo e nunca se estaria sozinho, e pecar em pensamento já era considerado pecado.
Santo Agostinho viveu entre os séculos IV e V, e seus pensamentos consideravam as noções de interno/externo, espírito/matéria, alto/baixo, eterno/temporal, imutável/mutante. E nesse momento estaria se iniciando uma grande mudança de orientação de vida, com a desvalorização do corpo e de tudo que é mundano, e assim valorização da alma como algo interno, onde a busca por Deus passaria a ser feita dentro de cada um.
Na música se destacava o canto gregoriano, era um coral onde todos cantavam a mesma coisa, no mesmo tom. A letra era um texto sagrado, na música não havia refrão ou passagem bruscas, sem ritmo e nem instrumentos. Assim não havia a possibilidade de dança ou movimentos que insinuassem a dança, pois ela era considerada impura, pecadora, assim como a embriagues e promiscuidade. Nos dias atuais, o canto gregoriano é usado para relaxar ou meditar.
Nessa época havia uma sociedade hierarquizada e não havia ascenção social. Essa sociedade era conhecida como Corpo Social, e destacava a relação de interdependência entre todos os seres onde era estabelecida o papel que cada um desempenhava na sociedade. Era dividida em partes: a alma era ocupada pela igreja; a cabeça, era o governante que se submetia apenas a Deus; o coração ocupado pelo senado; os olhos ouvidos e língua representados por juízes e governadores das províncias; as mãos eram o exército representado pelos oficiais e soldados; o estômago/intestino eram a classe de comerciantes; os pés eram os camponeses que exerciam os trabalhos braçais. Assim, a saúde do corpo social dependia dos mais altos protegerem os mais baixos, e dos mais baixos obedecerem os comandos superiores. Cada um tinha o seu papel, ou seja, todos tinham o seu valor, assim sendo prevalecia aquilo que fosse mais vantajoso para a maioria; aí era gerada a noção de justiça.
Na passagem da idade média ao renascimento, houve diminuição do poder da igreja com advento da reforma, e a crise do sistema feudal e nascimento das cidades, rotas de comércio e expansão marítima. Essas mudanças da época transformaram a vida das pessoas, pois os homens tinham perdido o ponto de referência, e com o novo momento já não tinham mais certeza de nada. Abstendo-se dos costumes medievais, Deus deixou de ser tão presente na questão liberdade, assim o homem passou a construir respostas próprias e passou a ser livre.
Nesse momento houve uma grande valorização do homem com a idéia de que ele deve buscar sua formação e se constituir enquanto humano. Como o homem não nasce predestinado, então durante a evolução ele se forma, educa e assim surgiu a necessidade de cuidar de ''si''. E com essa liberdade, o homem passará a descobrir os caminhos do bem, dentro do que é certo e errado. Então com essa liberdade, o homem se torna o centro, mas ao mesmo tempo é considerado vazio, sem uma estabilidade, por isso o homem deve sempre tornar- se, constituir-se e mover-se.
Os artistas passam a assinar suas obras no renascimento, diferente da idade média onde a arte era considerada inspiração divina, por isso não se assinava as obras, porque as obras eram de Deus. Leonardo D' Vinci e Michelangelo, sem sofrerem restrições da igreja, abriram- se para um novo mundo, seja pelas viagens ou pelo estudo da natureza.
A multiplicidade é uma característica do renascimento, houve abertura para novos conhecimentos, novos costumes, novos hábitos alimentares. A feira de rua data da época medieval, mas no renascimento a feira de rua ganha grande destaque com novidades trazidas de diferentes partes do mundo recém descobertas. Na feira havia alimentos, temperos, tecidos, pessoas e animais a serem comercializados, porém atribuir o valor real a cada coisa era muito difícil, porque uma vez fora de sua origem, o produto perdia seu valor original e se tornava apenas um objeto diferente.
Da mesma forma que as pessoas se questionavam a veracidade dos produtos, dos relatos sobre as viagens exploradas; os explorados também se questionavam sobre as novidades do oriente. Diante de tanta novidade, podia se considerar duas atitudes: a primeira onde se considera a diferença é um erro. A outra atitude é a de auto-crítica, onde se coloca em questão a própria verdade. O homem ocidental considerava possuir a verdade plena, de modo que nenhuma outra cultura pudesse contrariá-lo. Na atualidade ainda há diversas religiões e países com esse tipo de pensamento, e devemos respeitá-los pois, são seus costumes, crença e religião.
A Europa conquistou a América, mas por outro lado deixou de avançar ainda mais, porque ao impor toda sua superioridade, tirava de si mesmo a capacidade de integração com o mundo. E essa vitória de dominação teria se dado a maior habilidade em entender o modo de pensar do outro, através da capacidade de mentir e dissimular, que é o distanciamento entre sua ação e sua intenção, de acordo com seus interesses.
Na pintura, destaca-se Bosch, sua pintura mostra corpos dilacerados em combinações alucinadas, isso porque apesar de ter vivido no renascimento, seus valores eram medievais, e pra ele era o caos; então por isso ele expressa tão bem a fragmentação do século. Outro pintor que trata da fragmentação é Arcimboldo e sua série mais conhecida é a da Quatro estações, onde constrói expressões humanas com elementos típicos de cada época.
A polifonia é típica do renascimento, cada voz canta uma melodia diferente e até mesmo uma letra diferente. Na literatura destacou-se François Rabelais, com o livro Gargantua e Pantagruel , um dos livros mais debochados do século XVI. Trata-se de um mundo de exageros, deboches, excessos, habitados por gigantes. Com Rabelais existe a valorização do riso e de toda forma de prazer corporal, num momento de tendência crescente de só respeitar a seriedade, a contenção e a mente. Umberto Eco escreveu o romance O nome da Rosa, na tentativa de conter o riso, o prazer, existe o esforço de se alcançar o auto-controle durante a idade média.
Com a valorização do ser humano e a imposição de que ele construa e descubra valores segundo os quais viver, impõe-se nesse momento a necessidade de escolher o seu caminho. E essas escolhas implicam na construção da identidade em meio a toda dispersão e fragmentação que acontecia, ou seja, um esforço muito grande. E para orientar a constituição dessa identidade, o mais conhecido é a obra de Dom Quixote de La Mancha, onde se tentava criar uma identidade coesa mesmo que as custas da alucinação.
O pensamento religioso veio se adaptando com o tempo, e Santo Inácio de Loyola criou um manual de Exercícios Espirituais de meditação, que tinham duração de 28 dias, afim de conseguir a iluminação; pois com a liberdade, o homem se encontrava perdido e esse seria um dos caminhos para se resgatar a ordem e trazer o homem de volta a Deus.
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