Resenha - Sobre a Morte e o Morrer
Por: Serena Marçal • 29/10/2017 • Resenha • 2.259 Palavras (10 Páginas) • 1.307 Visualizações
O texto a seguir apresenta uma resenha sobre o livro “Sobre a morte e o morrer”, de Elisabeth Kübler-Ross. A última edição da obra é de 2008, e é publicada pela editora Martins Fontes.
A autora inicia o livro falando que, antigamente, as epidemias dizimaram muitas vidas. Porém, atualmente, há muitos avanços medicinais e biológicos que impedem muitas mortes. Com isso, aumenta-se número de idosos e doenças crônicas e o número de problemas emocionais, mais do que físicos. As mudanças que ocorreram nos últimos séculos acabam por ser responsáveis pelo nosso crescente medo da morte.
O homem sempre abominou a morte, e provavelmente continuará assim. Mas isso tem uma explicação lógica para a psiquiatria: em nosso inconsciente, nós não somos capazes de morrer; só morremos se algo “do mal” nos matar. Por isso, o morrer vem de alguém ou algo mal.
O livro em questão procura então, a partir de relatos de experiências reais, retratar diversas situações em que indivíduos se deparam com a morte, além de trazer comentários pertinentes aos profissionais da saúde, em relação ao modo de lidar com a morte.
A criança vê a morte como algo que não é permanente, mas quando crescemos percebemos que nossos desejos mais fortes não conseguem transformas o impossível em possível. A culpa desaparece, mas o nosso medo da morte continua ali, “escondido”, até que seja despertado. A morte ainda é pra nós um acontecimento pavoroso, mesmo que possamos dominá-lo em alguns momentos. Quando é permitido a um paciente passar seus últimos dias em ambiente familiar, lhe é requerido uma melhor adaptação frente à morte.
Morrer é triste, em vários aspectos, além de ser algo muito solitário. O caminho percorrido pelo paciente desde sua casa à emergência é o primeiro capítulo da morte. Quando ele está muito doente, vira alguém que quase não tem capacidade ou direito de opinar, sendo que outra pessoa é que decide por ele. Mas temos que sempre lembrar que o enfermo possui desejos, angústias, sentimentos e o direito de ser ouvido. Aos poucos, nesse processo, ele vai sendo tratado como objeto e as decisões são tomadas sem o seu parecer. Assim, ele sofre, por vezes, até mais emocionalmente do que fisicamente. As necessidades do mesmo não mudam através dos anos, mas o que muda é nossa aptidão em satisfazê-las.
Em seguida, a autora traz que o relacionamento entre os seres humanos vem perdendo espaço em nossa sociedade, sendo substituído pelo contato cada vez menor, e seu valor passa a ser concentrado em números e massas, não mais no próprio indivíduo. Um exemplo disso é a substituição do contato professor-aluno pelo ensino à distância. Com o avanço rápido da tecnologia, os homens desenvolvem diversas coisas, e entre elas, armas mais potentes. Com isso, vemos destruições em massa e precisamos também aprender a lidar com a morte em massa. Nessas situações, não paramos para refletir sobre a situação, não pensamos na nossa própria morte e nem somos capazes de enfrentar essa possibilidade.
Outro aspecto relevante a ser ressaltado é a religião. Antigamente, a morte era uma possibilidade de redenção, e havia o pós-morte. Atualmente, o número de adeptos é menor, e os encontros religiosos começam a ter mais função social do que religiosa. Não estamos preparados para morrer, portanto. Não sabemos lidar com a morte ao nosso entorno e tentamos evitá-la a todo custo. Mas até que ponto isso nos faz bem?
Nesse ponto, cabe uma reflexão. Estamos acostumados e ver brincadeiras com a morte, a lidar com ela como algo distante. Isso quando não mudamos inclusive finais de filme para que não ocorra morte. Mas, vamos morrer inevitavelmente. Por isso talvez a morte possa ser desencadeadora de tantos transtornos depressivos ou outros mais, e aprender a lidar melhor com ela poderia nos poupar de mais sofrimento.
Estamos prolongando cada vez mais a vida a partir de tratamentos, medicamentos e máquinas, sem ficarmos preocupados com o paciente, mas preocupados com o equipamento que possibilita que ele esteja vivo. Nesse momento, devemos nos ater à nossa relação com ele e na relação médico-paciente, algo fundamental para o enfrentamento da morte.
Através das entrevistas realizadas, foram relatadas inúmeras dificuldades, uma vez que a equipe médica não desenvolve o hábito de esclarecer ao paciente sobre sua situação. Há uma esquiva quanto ao mesmo, como se isso fosse capaz de diminuir o sofrimento, mas na verdade o que acontece é que ele aumentava. Esses pacientes tinham desejo e necessidade de falar sobre seus anseios e suas angústias frente à possibilidade de morte. O trabalho de entrevistas foi feito com auxílio de padres e estudantes, através da coleta de relatos e discussão dos mesmos sob várias óticas. A partir disso, foram elaboradas as fases pelas quais o paciente passa diante do morrer. Durante e depois do processo, percebe-se a importância do diálogo e das relações interpessoais nessa situação.
O primeiro sentimento relatado na pesquisa é a negação. Para lutar pela vida, é necessário deixar essa condição de lado. Mas esse momento não significa que o indivíduo não queira conversar sobre o que está acontecendo com ele; é mais uma forma de adaptação. Em seguida, há a fase da aceitação parcial.
O sentimento da raiva surge quando já não é mais possível manter firme a negação. Essa fase é difícil para quem está perto da pessoa, pois o mesmo projeta sua raiva em tudo à sua volta. Um dos alvos mais comum dessa fase são os enfermeiros, e é por isso que se torna necessário que os mesmos tenham conhecimento disso para não piorarem o quadro do paciente. Na prática, observamos que as coisas não funcionam assim. Muitos enfermeiros, médicos e profissionais da saúde que estão perto dessas pessoas não dão contam de lidar com essa fase, levam para o pessoal e maltratam o indivíduo, enquanto o que ele precisa é totalmente o oposto. Cabe preparo dos mesmos, inclusive teórico, mas é algo não muito valorizado ainda.
O terceiro estágio é a barganha, o qual é muito útil ao paciente. Ele começa a ter reações de esperança, acredita que alguma divindade irá dar a ele o que quer, como a cura. É algo muito comum em pacientes terminais, mas na verdade essa fase é uma tentativa de adiantamento. Seria como uma recompensa por “bom comportamento”, e a equipe deve estar atenta à esse momento.
A quarta fase é depressão, quando o paciente não pode mais negar sua condição e precisa ser submetido a diversos procedimentos. Ele começa a perder coisas importantes, como sua identidade por exemplo. Os encargos financeiros fazem com que os mesmos despendam suas economias, abrindo mão inclusive de sonhos pessoais. Muitos perdem o emprego e se afastam do convívio da família. Esses fatores são bastante conhecidos por quem trata de tais indivíduos.
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