Resumo do Livro “Psicanálise com crianças”
Por: Paulo Vitor D'Urce • 21/11/2022 • Resenha • 2.586 Palavras (11 Páginas) • 227 Visualizações
Resumo do livro “Psicanálise com crianças”
1. O conceito de infância
A autora Teresinha Costa, antes de começar adentrando na psicanálise em si, fez-se necessário a contextualização da ideia de criança no passado e como ela é vista nos tempos atuais. Em tempos anteriores não se tinha o conceito de infância, diferenciando a criança do adulto e entendo as peculiaridades entre eles, esse entendimento só surgirá a partir do século XVII.
Na Idade Média, a criança era vista apenas como um “pequeno adulto”, não tinha o tratamento diferenciado de que necessitava, com a sociedade entendendo suas demandas intelectuais, comportamentais e emocionais. No campo, a criança era inserida no trabalho e no meio adulto logo assim em que se conquistava alguma autonomia. A construção desse desprendimento para com a criança se deve pela alta mortalidade da época, em que poucas delas sobreviviam.
Quanto à aprendizagem, a criança da idade média era mais educada pela comunidade que estava inserida do que pelos pais ou escola. Havia também a banalização de assuntos sexuais perante a presença das crianças, já que se tinha o pensamento de que fosse um tema indiferente para elas.
Com a Renascença, o ambiente doméstico é privatizado e a família passa a orbitar a vida daquela criança, preparando-a moralmente.
Do século XVII até o XVIII, a ideia de uma criança inocente e que precisa de estudos começa tomando forma.
No século XVII, a criança permanecia sendo vista como um peso para os pais. A partir dos pensamentos de Santo Agostinho, onde ele tinha a visão de que antes de obter educação e moralidade, reinava a maldade na infância. Com base nisso, pedagogos indicavam uma postura fria e rigorosa dos pais.
Com o passar do tempo essa visão tem uma mudança, com o iluminismo tendo influência sobre a educação até o século XX. O pensamento de Rousseau passou a nortear a sociedade, acreditando de que havia bondade no homem e o mundo que poderia corrompê-lo. A educação que era a resposta contra a corrupção.
O crescimento da ciência passa a tornar necessária uma educação mais padrão e formal, dando essa responsabilidade para as escolas, e tornando os pais cada vez mais distantes dessa tarefa.
Então, com uma visão histórica, percebe-se que antes havia total descaso com a infância e com o passar do tempo foi criada uma ideia de que a criança era um ser sem sexualidade, sem desejos ou questionamentos sobre tal. Somente com as teorias psicossexuais de Freud que tais pensamentos são refeitos.
2. Os primórdios da psicanálise com crianças
Embora as perspectivas que vigoravam no mundo iam contra isso, Freud começa a teorizar sobre a sexualidade e a essencial construção dela na infância. O psicanalista desenvolve a teoria da sedução, onde as neuroses ocorridas na vida adulta eram oriundas de traumas sexuais da infância. Com o tempo ele percebe que todos esses abusos podem não ter realmente ocorrido, e sim tendo um caráter fantasioso na psique infantil daquele sujeito. Portanto, Freud entende que esses sintomas histéricos viriam de desejos reprimidos vindos de diversas fantasias, o que mostra que a realidade psíquica se mostra mais decisiva na construção psicossexual do que a realidade factual.
Em seu livro Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud caracteriza a criança como um ser perverso-polimorfo, e que suas pulsões sexuais se dão por zonas erógenas vinculadas a tarefas vitais do nosso corpo, como a boca e o ânus, fazendo com que a sexualidade infantil seja pré-genital.
Freud também diferencia instinto de pulsão, o primeiro sendo em busca de sobrevivência, e o segundo em busca de satisfação e prazer.
A prática da psicanálise com crianças começa com as mulheres, que na época eram impedidas de frequentarem universidades, então aplicavam nas escolas em que trabalhavam.
Freud não acreditava que a análise poderia ser feita com crianças, a primeira considerada foi o caso do pequeno Hans, que o fez mudar de ideia. As teorias levantadas no livro citado anteriormente se confirmaram, e trazendo três pontos essenciais para o andamento de uma análise: demanda, transferência e interpretação.
A demanda, no caso de crianças, é percebida pelos adultos que a rodeiam. Nos primeiros sintomas de fobia de cavalo do pequeno Hans, seu pai, Max Graf, procurou Freud por meio de cartas pedindo ajuda.
A transferência, no caso de crianças, se entrelaça o lado paterno com o médico. O pequeno Hans já tinha no seu pai a visão afetiva, mas era em Freud que ele tinha o, citando Lacan, sujeito suposto saber, já que ele tinha conhecimento de que o pai trocava cartas com o psicanalista.
O terceiro ponto, a interpretação, se fez necessária para o entendimento de que essa fobia de cavalos era, na verdade, o medo de uma eventual briga pelos desejos sexuais pela mãe, e essa interpretação de Freud que resultou na cura da neurose.
Embora Freud tenha criado o alicerce teórico da análise com crianças, ainda faltava um grande fator: a descoberta da brincadeira como ponte de acesso para o inconsciente infantil, vindo somente em 1908, com o artigo “O poeta e o fantasiar”.
Por isso, entende-se que por mais semelhanças que se tenham na psique infantil e adulta, as crianças não vão conseguir usar a associação livre, e então vem a função da brincadeira. A concepção verdadeira da psicanálise com crianças se dá com as primeiras pesquisadoras e analistas: Hermine von Hug-Hellmuth, Anna Freud e Melanie Klein.
3. Hermine von Hug-Hellmuth
Começou sua carreira como professora, sendo aceita na Universidade de Viena anos depois, porém não abandonou seu cargo. Em seu trabalho analítico, usava de jogos e desenhos para acessar acontecimentos traumáticos. Seu método combinava a interpretação do inconsciente com a pedagogia.
Acreditava que uma análise precoce, antes da passagem pelas questões edipianas, mais poderia atrapalhar do que auxiliar a criança.
4. Anna Freud
Última filha de Freud, conviveu com a visão de que só os homens da família eram dignos de sucesso, não conseguiu ingressar na universidade para cursar medicina, então virou professora primária, porém sentia que essa não era a profissão que desejava. Como não existiam escolas de psicanálise na época, assistia as conferências introdutórias de psicanálise feitas
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