SUICÍDIO

O SUICÍDIO NO CONTEXTO DO TRABALHO:

UMA REVISÃO DE LITERATURA

Álisson Secchi^[1]

Marisa Canello Kuhn^[2]

Silvana Alba Scortegagna^[3]

Resumo

O suicídio é responsável por um milhão de óbitos por ano no mundo, que corresponde a 1,4% do total de mortes, e está entre as três principais causas de mortes de pessoas entre 15 e 44 anos de idade, motivadas por diferentes causas. Este estudo objetivou investigar os fatores relacionados ao suicídio no contexto do trabalho, por meio de uma revisão de literatura. Os principais achados dizem respeito ao desemprego, valores pessoais/profissionais, novos modelos de gestão pautados no individualismo, a partir da emergência de um mundo do trabalho precarizado, fragmentado. O fator multicausal deve ser considerado no suicídio, incluindo-se as condições de saúde mental das pessoas nas relações de trabalho.

Palavras-chave: Sofrimento, Comunicação, Saúde Mental, Trabalhador, Morte.

INTRODUÇÃO

De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2012), o suicídio é um problema de saúde pública, que atinge cerca de um milhão de pessoas anualmente, sendo a terceira principal causa de morte entre pessoas de 15 a 44 anos. Nos últimos anos as taxas mundiais aumentaram em torno de 60%, sendo que tal crescimento deveria estimular a reflexão sobre o assunto. Contudo, é notória a ausência de estratégias e/ou estudos que impactem o âmbito social, por meio de mudanças comportamentais no sentido de controlar e até mesmo enfrentar tal problema.

Historicamente, desde a Grécia antiga, a morte por suicídio não era um ato condenável, mas passou a ser considerado um crime, no século XVIII, pois diante da falha da tentativa de suicídio, a pessoa poderia ser encarcerada. As discussões sobre o entendimento de tal ato perpassam diferentes momentos sociais/culturais, até suas causas serem atribuídas a fatores biológicos e psicológicos, aos transtornos mentais e às psicopatologias (VENCO & BARRETO, 2010).

Um grande número de variáveis, que se inter-relacionam de forma complexa, podem estar correlacionadas aos índices de suicídio, como como idade, sexo, raça, meio cultural, nível socioeconômico, doença mental, variáveis de personalidade, entre outros fatores.   No entanto não há uma evidência sobre a natureza dessas inter-relações e o grau de significância causal no suicídio. Para fins de estudo, torna-se útil categorizar as causas do suicídio em fundamentais, contribuintes e precipitantes. As causas fundamentais dizem respeito à contextura psicobiológica do próprio indivíduo; as causas contribuintes estão relacionadas a fatores externos que podem influenciar indivíduos com tendência suicida; e as precipitantes, no sentido de “a última gota d´água”, podem vir detonar esse gesto autodestrutivo abertamente (KASTENBAUM; AISENBERG, 1983).

        Neste sentido, muitos fatores, que poderiam passar despercebidos, acabam por enquadrar-se nas categorias contribuinte e/ou precipitante, associadas às condições e características subjetivas do indivíduo. O trabalho, dentro de um contexto gerador de sofrimento, onde o sujeito não consegue dar vazão para sua descarga pulsional, pode desencadear sentimentos de desprazer e tensão (DEJOURS et al, 2015) e influenciar uma ideação suicida, como um fator contribuinte ou precipitante associado a outros fatores.

As difíceis condições de trabalho podem trazer consequências nocivas para os trabalhadores, pois fomentam conflitos em suas vidas, confrontam valores, modificam as suas emoções, o que contribui para a destruição de vínculos no âmbito coletivo. Tal contexto proporciona, gradativamente, a competitividade e a instalação da indiferença com relação ao outro, impactam e alteram a imagem da própria identidade.

Em geral, muitos dos problemas que surgem no contexto de trabalho se devem à gestão, a partir dos novos modelos que desestruturam os coletivos; à psicodinâmica do trabalho; e à qualidade total, que não considera a ética profissional, tampouco a si mesmo, em nome dos padrões da suposta qualidade (VENCO & BARRETO, 2010). As grandes mudanças na economia, que se relacionam às novas configurações do trabalho, (re)organizam esse meio, uma vez que estimulam o consumismo exagerado, sentimentos de incerteza, de vazio, que podem incitar o aumento de casos de suicídios.

Todos estes podem ser fatores que levam ao adoecimento dos trabalhadores nas empresas, inclusive ao afastamento do meio social (VENCO & BARRETO, 2010). Desconhecer ou ignorar isso potencializa a falta de entendimento da relação - suicídio e trabalho -, e agrava a ausência de alternativas que solucionem essa problemática.

Considerando esta realidade que deflagra a configuração capitalista da sociedade que atenta contra a saúde do trabalhador, essa revisão de literatura objetiva investigar os fatores relacionados ao suicídio no contexto do trabalho, por meio das produções científicas entre os anos de 2005 e 2015. São descritos a seguir, o método, os principais resultados e discussão, e por fim, algumas considerações finais.

MÉTODO

O presente estudo segue as recomendações propostas pelo Método Prefered Reporting Items for Systematica Reviewand Metanalyses PRISMA (MOHER, 2009). No que tange aos critérios de elegibilidade, foram incluídos artigos nacionais e internacionais que envolvessem a temática pesquisada, utilizando-se as palavras – chave “trabalho”, “sofrimento”, “suicídio” para o português, e “work”, “suffering” “suicide”, para o inglês, nas bases de dados Lilacs, Medline, Pubmed, Psycinfo, Scielo, Pepsic e biblioteca virtual da UPF, PUC e USP, no período entre 2005 e 2015. Como critério de exclusão, foram eliminados livros, capítulos de livros, e estudos de dados secundários. A figura 1 representa o fluxograma de identificação e seleção dos artigos.

Base de dados: Lilacs, Medline, Pubmed, Psycinfo, Scielo, Pepsic; Biblioteca Virtual: UPF, PUC e USP

                                                                                 [pic 1]

Lilacs Nº: 02

Medline Nº: 03

Pubmed Nº: 11

Psycoinfo Nº: 4

Scielo Nº: 25

Pepsic Nº: 08

Biblioteca Virtual Nº: 12

               [pic 2]

TOTAL: Nº:  65 artigos

[pic 3]

Estudos completos selecionados após leitura dos resumos: Nº: 21
Textos completos avaliados: Nº: 21	Exclusão: estudos de dados secundários.

 [pic 4]

[pic 5]

Estudos incluídos: Nº: 07