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Sofisticação ou Sócrates Paideia

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Por:   •  4/6/2014  •  Tese  •  2.755 Palavras (12 Páginas)  •  211 Visualizações

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de professor, ele vai aos poucos trazendo à mente do escravo conceitos que esse último parecia ignorar. Com a sequência do ensinamento, Sócrates leva o escravo à aporia. O Filósofo lembra a Menon sobre a ironia que este fez a ele dizendo que ele parecia com um peixe-elétrico que entorpecia quem se aproximava. O fato do escravo estar entorpecido por experimentar a aporia como faria o peixe-elétrico não quer dizer que tenhamos causado algum dano a ele.24 Logo após este aparente impasse, o escravo “rememora” a solução do problema matemático que Sócrates o propôs. Possuir ciência, para Sócrates, é relembrar-se do que já sabíamos de vidas passadas.

No Fédon, Sócrates ensina que o saber é uma reminiscência. Ele dá um exemplo: a lira traz à mente das pessoas a imagem do amor, dessa maneira quando o apaixonado vê um destes instrumentos, ele se lembra da pessoa amada.25 E isso é uma forma de anamnese. A alma cada vez que renasce esquece temporariamente o que sabia, e é por isso que a Paideia vai fazer o homem instruir-se pelo método da recordação.

5.Paideia sofística ou Paideia socrática?26: Protágoras

Sócrates é surpreendido um dia com o chamado de seu amigo Hipócrates. Esse o avisa que na cidade encontra-se o famoso sofista Protágoras. Sócrates percebe a excitação de seu amigo com o fato, mas tenta fazê-lo se acalmar com algumas perguntas. Entre elas é saber no quê o ensinamento de Protágoras melhora ou transforma a pessoa? Hipócrates o responde dizendo que Protágoras transforma seus alunos em sofistas. Isso não agrada a Sócrates. Hipócrates acrescenta que os sofistas ensinam a seus alunos como tornarem-se excelentes oradores, mas Sócrates o faz ver que tornar-se orador para defender algo indefinido não será de muita utilidade, e o adverte que a aula de Protágoras pode colocar sua alma em risco27. Os sofistas não são pessoas em que se possa confiar.

É a vez de Protágoras apresentar-se e expor sua doutrina. Ele vê os sofistas como pessoas que vestem a roupagem da poesia, da música e do atletismo. Estas atividades faziam parte da Paideia dos sofistas e isso lhes causava grande orgulho. O objetivo do sofista é tornar a pessoa melhor, diz Protágoras. Enquanto outros sofistas ensinam aos seus alunos a arte do quadrivium, Protágoras se preocupa mais com aulas sobre política e assuntos do Estado.

Sócrates por sua vez acha impossível que Protágoras possa ensinar a arte da política a alguém porque os assuntos de Estado podem ser dominados por pessoas de qualquer profissão, e ele prossegue dizendo que é muito difícil que o talento político do pai possa ser transmitido ao filho, e dá como exemplos os filhos de Péricles presentes no diálogo. Protágoras responde à observação de Sócrates com um mito. No início, quando os deuses criaram a raça humana, dois Titãs, Prometeu e Epimeteu ficaram responsáveis por distribuírem habilidades aos humanos. Epimeteu ficou com esta responsabilidade e dotou humanos e animais com algumas características. Porém, o estado do ser humano foi considerado lamentável por parte de Prometeu. Em um gesto desesperado, ele roubou o fogo divino aos deuses e o deu aos seres humanos. No entanto a arte política era desconhecida do homem. Prometeu, então, roubou o fogo de Hefaístos e a arte de Atena e novamente deu aos humanos. Nasceu, assim, a religião. O homem, mesmo assim, continuou a viver em grupos espalhados sendo destruídos por animais selvagens. Faltava-lhes a arte da política. Zeus então enviou Hermes para distribuir justiça a todos sem exceção. Todo o ser humano compartilha deste quinhão da Justiça, caso contrário não seriam humanos.28

Protágoras insiste no valor da educação e na possibilidade do ensino da virtude dando como exemplo o fato dos pais preocuparem-se tanto com a educação dos filhos, inclusive pagando a professores para essa tarefa. Ele questiona o porquê de Sócrates se espantar com tudo isto. Sócrates, por sua vez, apenas direciona o diálogo para o problema do saber e do conhecimento. Ele se preocupa com o fato de muitos possuírem o saber mas acabarem sendo arrastados e vencidos pelo prazer. A Paideia socrática acredita que um homem com um conhecimento verdadeiro sobre o mal jamais agirá injustamente. Protágoras concorda com a opinião de Sócrates de que a sabedoria e o conhecimento são as coisas mais poderosas. Sócrates o faz ver que mesmo que isso seja algo que a maioria concorda, isso não faz necessariamente com que vivam desta maneira. A pessoa que recusa o bem é aquela que escolhe o mal maior em detrimento do bem menor.29 Ser vencido pelo prazer é uma ignorância, e só age dessa forma quem não tem o conhecimento. Ninguém busca voluntariamente o mal. A Paideia socrática pretende fazer do conhecimento do verdadeiro e do Bem uma maneira de evitar a ignorância de uma vida vivida pela busca de prazeres.

6.A Paideia como formação do verdadeiro político: Górgias

No Górgias uma batalha é travada entre dois políticos com formações diferentes: Sócrates e Cálicles. O começo do diálogo é um confronto dialético entre Sócrates e dois sofistas, Górgias e Polo. Sócrates consegue vencer os dois com relativa facilidade. Presente na cena está o experiente político Cálicles, que logo pergunta a Querofonte se Sócrates não está brincando.30 Ele percebe que o que Sócrates ensina pode virar o mundo de cabeça para baixo. Sócrates o responde dizendo que ele e Cálicles estão apaixonados por duas coisas diferentes: ele pela filosofia, e Cálicles pelo povo.31 A fúria de Cálicles deve-se ao fato de Sócrates ter dito anteriormente que cometer injustiça é pior do que sofrê-la. Para Cálicles, nenhum homem desejaria sofrer injustiça a não ser um escravo. Como uma espécie de Nietzsche avant la lettre, ele julga que este tipo de convenção foi feita pelos fracos para dominarem os mais fortes. A lei da natureza é implacável e supõe o domínio dos mais fortes sobre os mais fracos. O homem forte rompe com os grilhões da lei e da moral. Cálicles julga que Sócrates está com o espírito amolecido por causa da filosofia, pois essa é tida por ele como sendo adequada apenas à juventude, e nunca ao homem amadurecido.32

Segundo Jaeger(1995, pág 668),

“este esboço de uma doutrina da sociedade baseada na teoria da luta pela sobrevivência deixa à educação um papel inferior. Sócrates opunha a filosofia da educação à filosofia da força. Era a Paideia que era para ele o critério da felicidade humana, contida na kalokagathia do justo”

Cálicles possui uma alma tirânica e faz uma espécie de advertência a Sócrates. Se Sócrates fosse acusado injustamente por causa de seus ensinamentos filosóficos, mesmo que o acusador fosse

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