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TCC - Práticas Educativas

Por:   •  30/5/2016  •  Relatório de pesquisa  •  7.684 Palavras (31 Páginas)  •  279 Visualizações

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UNIVERSIDADE PAULISTA

Instituto de Ciências Humanas

Curso de Psicologia

Práticas educativas de mães frente ao abuso de álcool por suas jovens filhas

São Paulo

2015

1. Introdução

1.1) Do consumo social do álcool à constituição de um adoecimento

O consumo de bebidas alcoólicas acompanha a humanidade desde seus primórdios, essa substância ocupa lugar de destaque em várias culturas e esse costume é transmitido de geração a geração. O álcool já foi tratado como elemento simbólico em rituais religiosos, como foi o vinho na Eucaristia, retratando a energia vital, fruto da união de elementos opostos, água e fogo. Também marca presença há séculos, em diversos tipos de confraternizações e eventos servindo de companheiro em brindes a tudo e a todos. Ao longo da história serviu como remédio, perfume e até componente de poções mágicas, no entanto sua principal função era, e continua sendo, a de principal acompanhamento nas refeições (GIGLIOTTI & BESSA, 2004).

No entanto, com o advento da revolução industrial surgiram as grandes aglomerações urbanas, aconteceram grandes transformações sociais e econômicas, a produção e a disponibilidade do álcool aumentaram exponencialmente e associado a isso os preços despencaram passando a ser acessível a um número cada vez maior de consumidores. Desta forma, houve mudança drástica na relação do homem com o álcool, mostrando sua outra face, uma vez que deixou aquele simbolismo de religiosidade e confraternização, passando a ser associado a eventos agressivos, violentos e desagregadores. Portanto, o álcool é uma substância ambígua em que ao mesmo tempo pode estar associado a situações agregadoras e lucrativas, mas, também pode, quando usado em descontrole, tornar-se um problema de saúde pública (GIGLIOTTI & BESSA, 2004).

Ainda os autores acima nos trazem informações a respeito do surgimento do conceito de alcoolismo¹, o qual data do século XVIII em meados de 1849, e que já nesta época falava-se em doença crônica, mencionando a intoxicação decorrente do uso excessivo de álcool associada com sintomas de ordem física e psiquiátrica. Mas, foi somente no final do século XX, que o conceito da doença passou a exigir como requisitos a tolerância, a abstinência e a perda do controle no consumo. Sendo a tolerância uma necessidade de doses cada vez maiores para obterem-se os mesmos efeitos conseguidos anteriormente com doses menores e a abstinência representada pela presença de efeitos físicos e/ou psíquicos desprazerosos na ausência ou diminuição do consumo do álcool.

De acordo com Gigliotti e Bessa (2004) foi em 1976 que surgiu a denominação Síndrome de Dependência de Álcool (SDA) a qual se caracteriza como uma enfermidade desenvolvida ao longo da vida e, portanto não estática, assim como, tem origem multifatorial englobando fatores biológicos, psíquicos e sociais. Desta forma a dependência do álcool seria uma maneira deturpada em que o indivíduo se relaciona com a bebida, ocasião em que as razões do indivíduo começar a beber se misturam àquelas típicas da dependência tendo como consequência o surgimento de um círculo vicioso retroalimentado que transcende a presença da tolerância e abstinência. Por fim, os autores nos relatam que existem diversas maneiras de consumo de álcool, em uma complexa interação de fatores biopsicossociais e que em boa parte dos casos não resultará em dependência, no entanto a Síndrome de Dependência de Álcool é um transtorno psiquiátrico, de abrangência mundial, com severas implicações na vida do indivíduo, e sendo assim, estudar seus efeitos na população feminina acaba se tornando de grande relevância.

1.2) Diferenças de gênero no consumo de álcool

Ao abordarmos as diferenças entre homens e mulheres em relação ao consumo do álcool, a primeira característica é de ordem física, ou seja, diante da ingestão de quantidades equivalentes de álcool, há a repercussão de efeitos mais nocivos no organismo feminino do que no masculino. Tal evento ocorre porque elas têm menor capacidade de metabolização dessa substância no organismo, em razão da menor quantidade de água e maior proporção de gordura corpórea. Desta forma fica fácil compreender porque a mulher necessita de menores quantidades para ficar embriagada. Essas combinações acarretam para elas maior propensão a desenvolver cirrose hepática e miocardiopatias, assim como a instalação da dependência alcoólica ocorre de forma mais rápida. Quando a mulher desenvolve a dependência do álcool apresenta maior prevalência de transtornos psiquiátricos e sintomas emocionais (ESPER, CORRADI-WEBSTER, CARVALHO e FURTADO, 2013).

Segundo César (2006) por anos o alcoolismo foi identificado com o gênero masculino e um dos argumentos que embasava tal afirmação era que a prevalência de mulheres em serviços de saúde especializados era mínima. Desta maneira esta ausência instigou alguns estudiosos a investigar o comportamento social diante do alcoolismo feminino, com base nesses estudos a autora constatou que a vinculação do sexo masculino ao uso do álcool tem um forte componente social, uma vez que para as mulheres o consumo de bebidas alcoólicas sofre maior repressão e os padrões morais impostos a elas são mais rígidos ocasionando maior estigmatização. A autora afirma que as diferenças no comportamento de beber entre homens e mulheres se originam na formação, ou seja, na construção da identidade de gêneros adquirida através da educação de meninos e meninas. Seguindo essa linha de raciocínio, ela aponta para o fato de que homens alcoolistas tendem a apresentar um comportamento com reações externalizadas, enquanto que as mulheres estão mais propensas a um comportamento retraído, internalizando as emoções. Outra questão interessante, diz respeito à autoimagem, a preocupação das mulheres é maior se comparada com a dos homens, uma vez que há uma cobrança maior relacionada aos papéis que elas desempenham socialmente, por exemplo, o da maternidade ou algumas condutas que são consideradas inadequadas para elas. Essa maior repressão moral acaba por gerar sentimentos de culpa por parte delas. Em contrapartida, a autora indica que elas possuem uma maior capacidade em reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, portanto, elas teriam mais controle sobre o beber e consequentemente tornam-se bebedoras sociais com mais facilidade do que os homens.

Já sabemos

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