Transcrição entrevista sobre TCC
Por: Isabelle Lemgruber • 1/12/2016 • Trabalho acadêmico • 2.145 Palavras (9 Páginas) • 381 Visualizações
‘’A primeira pergunta que a gente gostaria de fazer é: O que fez você se interessar pela TCC?’’ É uma abordagem prática, maravilhosa, inteligente. Ela é toda embasada em teoria, baseada em evidência, é a única abordagem que é assim. E meu interesse também é Psicologia do Esporte, desde que eu estava no segundo período da faculdade, que foi onde eu decidi fazer matéria de qualquer curso e resolvi fazer uma de educação física, que é minha outra área de interesse. E no esporte trabalha com TCC, então, desde que eu estava no segundo período e junto com o esporte, fui estudando a TCC pra poder aplicar. E também por não achar que a psicanálise cabe tanto no mundo atual. Por ser tudo mais dinâmico, e a vida requer coisas práticas, não dá pra pensar assim: Chega uma pessoa com anorexia, a psicanálise trata? Trata, lógico, mas em 2 anos e meio, 3. Eu quero isso? Não quero. Eu quero algo pra daqui a 4 meses, 5 meses. Eu quero salvar uma vida. Começa daí. E assim a escolha da abordagem são corações se encontram, e não tem como fugir.
‘’E como foi a sua formação?’’ Eu sou psicóloga, formada pela UFMG, sou Mestre em Ciências do Esporte pela UFMG, Doutora em Psicologia pela UFRJ, atualmente faço curso de Terapia de esquema, que é uma nova abordagem na TCC. Sou sócia-proprietária da Ação Cognitiva, que um centro de formação do Terapeuta Cognitivo-Comportamental, para quem já formou, então a gente dá supervisão de estágio, de atendimento, faz workshop, isso tudo para preparar a pessoa e trabalhar empreendedorismo, e para trabalhar o profissional na sua autonomia.
‘’Qual que é o perfil? Qual é mais ou menos o perfil de quem procura a TCC?’’ Não tem perfil, tem tudo. Não tem perfil específico. Tem adulto, tem criança, tem todos os transtornos possíveis, todas as demandas possíveis. Não tem um perfil específico. Tem muito atualmente encaminhamento, que eu tenho percebido, de psiquiatra que já vem indicado, até aqui na Clínica Escola a gente tem percebido e recebe muito. TCC...TCC...Então já vem com esse encaminhamento direto para TCC. O paciente nem sabe o que que é, chega : ‘’Ah, pediram isso aqui’’.
‘’Ainda chega muita gente sem saber o que é a TCC, ou eles já chegam sabendo alguma coisa?’’ Chega, chega para fazer terapia né? Ah, indica um terapeuta. Mas algumas já chegam sabendo, porque tem o google né? A pessoa já vai lá buscar e gosta. Eu tenho uma paciente atual que ela fez análise por 30/40 anos da vida dela, aí ela descobriu a TCC lendo um artigo, alguma coisa na internet e resolveu mudar, ela me achou pelo site da Associação de Terapia Cognitiva, que era perto da casa dela o endereço e resolveu :’’ Ah, eu li e gostei’’ e ela está adorando e a cada sessão ela diz ‘’Ah, é tão bom você conversar comigo, olhando pra mim e eu não ficar olhando pro teto’’. É muito diferente, as questões são mais práticas. E ela tá aproveitando bem.
‘’É muito diferente a postura do Terapeuta Cognitivo para alguém da Psicanálise?’’ Completamente. Porque o que é que acontece, a TCC é altamente colaborativa, a gente caminha junto com o paciente o tempo todo, a gente fala com ele o que ele tem, porque ele tá daquele jeito e como é que juntos a gente pode fazer pra mudar aquele quadro. A gente chama de Descoberta Guiada. Caminhando como se, tivesse pronto para o empurrão mas aí o paciente que vai sozinho. A gente ajuda ele a trilhar aquele caminho. ‘’E é diferente da Psicanálise o tempo de tratamento. É muito mais dinâmico’’ Sim, é muito mais dinâmico, muito mais, porque a gente não espera a pessoa descobrir que ela é assim por causa disso, disso e disso. A gente já vai lá e mostra. Partindo aqui da sua história de vida, das suas experiências todas, do passado ou de alguma interferência da sua família no seu jeito de ser, algum momento da sua vida, passa a desenvolver essas crenças disfuncionais e por isso a sua forma de lidar com o mundo hoje. Então a gente já mostra pra ele esse caminho. Então ele já sabe porque ele, e com isso ele já consegue prevenir várias situações. Vamos imaginar: A pessoa tem o que a gente chama de crença de desvalor, ela se sente desvalorizada em suas ações, então vamos imaginar que na empresa dela vai chegar um funcionário novo, então a chance dela achar que ela vai ser trocada, que o trabalho dela não está bom, é muito grande. Entendeu? Alguma coisa ele vai ativar, então se conhecendo, sabendo que isso é possível de acontecer, ela já vai se preparando. Então se vier aquele pensamento, que a gente ensina a pessoa, a identificar e compreender seu pensamentos, então se vier aquele pensamento e me der uma raiva danada desse funcionário novo, eu já sei porque. Então, quando vier essa raiva, o que é que eu devo fazer? Identificar que pensamento que foi esse, o que é que tá acontecendo para não chegar e ir lá sem educação com o cara, ou ter alguma reação explosiva, enfim.
‘’Você costuma usar algum instrumento para tratar essas crenças disfuncionais?’’ Não, é que assim, a TCC tem muita técnica, muitos protocolos, mas a gente não fica só usando técnicas. A gente adapta a técnica ao paciente, e não o paciente a técnica. Então vamos imaginar: a pessoa, para ela compreender a crença, a gente vai explicando de onde começou, agora para ela re-significar essa crença, a gente pode fazer, então vamos imaginar, a pessoa fala ‘’tudo que eu faço, dá errado’’, então pode ser no questionamento: ‘’ah, todas as coisas que você faz não dá certo? Então você chegou na faculdade fazendo tudo errado?’’, ‘’Não, não foi bem assim’’. Então a pessoa começa a se questionar, e começar a re-elaborar outras coisas ali na sua vida. Com criança também a gente trabalha essa re-estruturação cognitiva, aí da forma mais lúdica. Um exemplo: o paciente que eu atendo ele estava assim muito nervoso de ir pra escola, de 8/9 anos, e porque a professora toda aula chamava alguém para ler na frente e eles tinham sido recém-alfabetizados, naquela leitura que ainda engasga. Imagina para a criança? Morre de vergonha né? Vão rir de mim, e desencadeia um monte de coisa. Aí ela não queria ir para a escola por causa disso, e a mãe falava que estava com dor de cabeça, até febre emocional, só para não ir. E aí eu fui e perguntei ‘’ Como chama o seu melhor amigo da escola?’’ Aí ela foi e falou o nome do fulaninho e perguntei ‘’ Quando ele tem que apresentar também, quando ele tem que ler lá na frente, porque a professora chama todo mundo da sala, o que você acha que passa na cabeça dele?’’ ‘’ Ah, eu acho que ele fica com vergonha, com medo de errar, todo mundo rir dele e achar que ele é burro, que ele ainda não sabe ler direito’’, ‘’Pois é, você é melhor amigo dele né? ‘’, ‘’Pois é ‘’, ‘’ O que você poderia falar pra ele nessa hora para ele ficar mais calmo?’’ , ‘’Ah cara, não fica nervoso não, tá todo mundo igual, a gente ainda não sabe ler direito, fica tranquilo, todo mundo aqui é amigo’’ Aí ele ‘’Olha, vou usar isso, também vou fazer isso comigo’’. Então, essas descobertas guiadas, então a gente estimula, a gente provoca, para a pessoa poder reagir.
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