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Transferência Rumos e Percursos da Noção de Transferência e seu Manejo no Discurso Analítico

Por:   •  14/9/2022  •  Trabalho acadêmico  •  3.823 Palavras (16 Páginas)  •  110 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

COLEGIADO DE PSICOLOGIA

FERNANDA AGATHA CARVALHO SANTANA

MATEUS DA SILVA BOA MORTE

Rumos e percursos da noção de transferência e seu manejo no discurso analítico.

FEIRA DE SANTANA – BA

Junho de 2021

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

FERNANDA AGATHA CARVALHO SANTANA

MATEUS DA SILVA BOA MORTE

Rumos e percursos da noção de transferência e seu manejo no discurso analítico.

Avaliação da disciplina de Teorias e Técnicas Psicoterápicas I (CHF919). Apresentado como requisito parcial ao quarto semestre do curso de Psicologia/ Bacharelado (DCHF)  

Docente: Dr. João Gabriel Lima da Silva

FEIRA DE SANTANA – BA

Junho de 2021

RESUMO

A transferência é considerada um dos conceitos fundamentais para a teoria e prática analítica, mostrando-se presente desde o início do tratamento. A partir dos impasses manifestos na clínica, Sigmund Freud passa a elaborar o conceito, considerando ali a sua ambivalência entre resistência e chave do tratamento analítico. Lacan vai retomar o fenômeno, inovando-o teoricamente, com as noções de Objeto a e Sujeito suposto Saber.

Palavras-chave: Amor; Transferência; Clínica Analítica

INTRODUÇÃO

Considerada pelo seu criador, Sigmund Freud, a terceira ferida narcísica na tez da humanidade (FREUD, 1918/2010), a psicanálise pode ser vista como um efeito de nossas experiências enquanto seres de fala, conjugando elementos indispensáveis para tratar dos dramas de nosso desejo (MAURANO, 2006). Se encararmos o desejo como essa falta que nos compõe de forma estrutural, enxergaremos a transferência, conceito fundamental da elaboração freudiana, o modo como a demanda de amor anseia em ser acolhida, tratada e desmontada na experiência analítica.

Podemos dizer que cada pessoa ama de maneira singular, e o modo como esse investimento libidinal opera no movimento do amor se organiza de maneiras próprias. Transferência, do alemão Übertragung, se dá na instauração de laços efetivos no decorrer da análise, onde uma série de fantasias é repetida, ganhando assim novas translações. Há no tratamento analítico aspirações que, paulatinamente, vão sendo transferidas para o analista. A passagem da criança pelo complexo de Édipo deixa marcas significativas no campo simbólico e imaginário. No decorrer do tratamento, tais marcas são endereçadas à figura do analista, que ocupará uma posição na história do analisante, assim como um lugar nas suas fantasias sexuais inconscientes.

 Conforme nos diz Siqueira (2014), a investigação sobre as causas e sentidos dos sintomas neuróticos, ainda em seus primeiros passos, mostrou a Sigmund Freud e Josef Breuer os infortúnios apresentados na dimensão sexual do psiquismo, explicitados principalmente nos afetos suscitados durante o tratamento da paciente Anna O, descrito nos Estudos sobre a histeria (1895). Frente a Eros, Breuer e Freud seguem por vias distintas: enquanto Breuer recua, Freud encontra ali as matrizes do que futuramente será considerada por ele a “alavanca para o sucesso terapêutico” da nova práxis que estava fundando, fornecendo ferramentas para compreender as complexidades das relações transferenciais e o seu manejo nas vias do tratamento analítico. Arriscamos dizer aqui que a psicanálise encontra as suas bases no amor.

Apesar de aparecer conceitualmente a partir de 1910, nos escritos sobre a técnica analítica, a transferência pode ser encarada muito antes disso como a “chave da invenção desse novo método de tratamento” (MAURANO, 2006, p.15), ocupando o lugar de condição preliminar para a cura, a chave para a entrada em análise. O término prematuro do tratamento, descrito no caso Dora foi crucial para que se descobrisse como se desvela a relação transferencial (NASIO, 1999). A falha de Freud, no referido caso, foi não reconhecer a importância das conjugações amorosas no percurso do tratamento, falhando assim no manejo da transferência. Na magna opus freudiana, A interpretação dos Sonhos (1900/1996), há referências a condição de transporte realizado pelas representações numa operação onde são deslocados afetos e sentido, que mais tarde é implicada na transferência, no modo como isso se projeta ao Outro (MEIRELLES, 2012).

O percurso analítico depende do fenômeno da transferência para alcançar o sucesso, visto que, a partir dela o analista pode agir sobre as fantasias do sujeito. Ao inserir o analista em suas fantasias, o paciente passa a apresentar resistências ao tratamento, ocultando informações e apresentando mudanças na forma de relatar o conteúdo. O elemento ligado à resistência é transferido à pessoa do analista, à nível de representação. O chamado Amor de transferência, onde a resistência à análise se reveste da forma de um amor. O fim último da análise não é o bem, mas Eros (SIQUEIRA, 2014).

A psicanálise faz uso de Eros para cumprir os objetivos, oferecendo o amor de transferência como o motor do processo analítico. Tal dimensão amorosa perpassa as experiências humanas, sendo intensificadas na análise, como um efeito do tratamento. Por se presentificar em todas as relações do sujeito, esta não se difere em nada da experiência que atravessamos ao encontrar o amor, a não ser por revelar-se como um caminho para a atualização do inconsciente através da intervenção do analista (MAURANO, 2006).  É através da posição em que o paciente coloca o analista que todo o trabalho da análise se torna possível, mediante a intervenção no processo transferencial (FREUD, 1912[1911-1913] /1976). Não se pode reprimir o paciente em seu amor de transferência, do mesmo modo como não se pode corresponder a ele. É um equívoco achar que o paciente deseja o analista per si. Sendo uma forma de amor, a transferência é exposta em sua dualidade de motor e obstáculo no tratamento.

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