UM ESTUDO DA CONSTRUÇÃO DO MOVIMENTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA
Por: Ana Paula Vancard • 31/1/2017 • Trabalho acadêmico • 4.497 Palavras (18 Páginas) • 347 Visualizações
UESPI – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ
ANA PAULA VANDERLEY CARDOSO
UM ESTUDO DA CONSTRUÇÃO DO MOVIMENTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA
TERESINA
2017
ANA PAULA VANDERLEY CARDOSO
UM ESTUDO DA CONSTRUÇÃO DO MOVIMENTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA
Trabalho sobre a construção do movimento da reforma psiquiátrica e articulação teórica com a análise do filme sobre Nise da Silveira, para obtenção da segunda nota da disciplina de Psicopatologia I, do 5º período do curso de Psicologia.
Professora Ms. Ângela Carvalho
TERESINA
2017
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4
A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA .................................................... 4
Fatores e precursores históricos ................................................................ 4
O paradigma científico/psiquiátrico moderno ............................................ 6
O paradigma da complexidade .................................................................... 8
O paradigma da reforma psiquiátrica .......................................................... 9
As principais mudanças ocorridas na visão e no cuidado em saúde mental ...................................................................................................................... 10
Articulando a teoria com o filme Nise, o coração da loucura ................. 12
CONCLUSÃO .................................................................................................. 15
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 17
4
INTRODUÇÃO
Um conceito socialmente construído, a loucura faz parte da humanidade desde o início dos tempos. O entendimento do que é loucura, no entanto, permaneceu obscuro, turvo e estigmatizado durante séculos e veio à uma compreensão adequada só depois de muito padecerem aqueles em sofrimento psíquico que foram institucionalizados, pelo saber e poder médico psiquiátrico construído com o desenvolvimento social, até a renovação desse paradigma científico moderno.
Movimentos como a luta antimanicomial e reforma psiquiátrica no Brasil, surgiram fortemente influenciados pela Revolução Francesa e Reforma Sanitária, e foram resultados de uma transformação na ótica do modelo científico tradicional que eclodiram no Brasil do século XX, expondo a realidade da violência psiquiátrica e a necessidade de reconfigurar as práticas de cuidado à saúde mental, antes vista como uma doença moral.
Este trabalho é resultante do estudo da psicopatologia e o processo da reforma psiquiátrica brasileira debatido em sala de aula e aprofundado através de artigos científicos que englobam este tema. A busca por uma reflexão acerca desse processo será feita com base nos materiais bibliográficos que descrevem como se deu este percurso dentro do contexto da realidade brasileira; como o louco e o poder psiquiátrico eram tidos antes na sociedade, bem como verificar as possíveis renovações no tratamento da saúde mental.
A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA
Fatores e precursores históricos
No Brasil, a psiquiatria tomou espaço no século XIX com a chegada da Família Real Brasileira, a fim de organizar o processo de urbanização da época de acordo com o desenvolvimento mercantil. A psiquiatria da época, com seu saber e poder científico, atuava como um dispositivo de intervenção na vida de todos aqueles que
5
apresentavam comportamentos tidos como desviantes e inadequados à realidade social, enclausurando esses sujeitos em hospitais psiquiátricos para o tratamento. Dessa maneira, foi-se estruturando na realidade brasileira a relação de poder da figura do médico sobre o louco e a institucionalização dessa loucura dentro dos manicômios.
Phillippe Pinel, médico francês e um dos pais da psiquiatria, ainda no século XVIII propôs a criação de hospitais exclusivos para tratar os loucos por meio da ordem, disciplina e do enfraquecimento dos comportamentos e condutas tidas como desviantes e inadequadas. Com o avançar do tempo, os métodos utilizados nos manicômios sofreram alterações desde sua gênese e passaram a impor com ainda mais dureza o estabelecimento da conduta organizada e disciplinada dos pacientes, adotando medidas físicas para tal. Nesse contexto, é possível refletir que desde o início do saber psiquiátrico, a loucura era tida não apenas como uma doença mental, mas também como uma doença moral que necessitava ser extinta do próprio doente e do convívio social, tendo como tratamento a própria moral e confinamento destes que permaneciam escondidos da sociedade.
A compreensão moral da loucura permanece no Brasil e ao redor do mundo até o século XX, onde foram crescendo os primeiros movimentos questionadores dos métodos de intervenção psiquiátrica. Foi na segunda metade do século XX que esses movimentos no Brasil ganharam ainda mais força, principalmente influenciados pela revolução liderada pelo psiquiatra italiano Franco Basaglia, que iniciou uma intensa transformação e reforma no sistema de saúde mental da Itália. Em 1971, Basaglia pôs fim aos manicômios e aos modelos de instituições tradicionais psiquiátricas, abolindo com elas, os métodos violentos e abusivos para o tratamento dos transtornos mentais. Anos mais tarde, em 13 de maio de 1978 constituiu-se a lei 180, de autoria do próprio Basaglia que proibia a reabertura dos manicômios fechados e a criação de novos, bem como garantia o acesso da população ao tratamento psiquiátrico de qualidade e propunha a organização de uma rede de atenção à saúde mental.
Foi dentro desse contexto que eclodiu no Brasil do final da década de 1970 as primeiras denúncias dos abusos e maus tratos nos tratamentos daqueles portadores de transtornos mentais feitas por funcionários dos hospitais psiquiátricos, que formaram o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental. O fechamento
...