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Resenha:O Reino da contemplação passiva'

Por:   •  5/7/2017  •  Resenha  •  1.263 Palavras (6 Páginas)  •  519 Visualizações

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Ao decorrer do texto ‘’O Reino da Contemplação Passiva’’, de Anselm Jappe, o escritor alemão inicia uma profunda análise de suas ideias, tendo como base  inicial a crítica radical do espetáculo, formulada por Guy Debord em seu livro ‘’A Sociedade do Espetáculo’’. A construção do texto começa com o reconhecimento por parte de Jappe que a crítica de Debord vai realmente muito além de uma simples crítica à televisão e aos meios de comunicação em massa. ‘’Isso não acontece somente sob o plano televisivo, e não somente na publicidade, mas também sob muitos outros planos: na sociedade do espetáculo, também a política - incluindo uma boa parte daquela que se proclama revolucionária - a cultura, o urbanismo...’’ (primeiro parágrafo).

O escritor deixa em evidência no texto, em seguida, que a televisão de hoje em dia pode ser compreendida como um espetáculo que nada mais é do que uma categoria social. Segundo ele, a maioria das informações emitidas pela TV não colocam em questão relações comuns da sociedade. Ele cita o exemplo da França, onde a taxa de violência e obscenidade nos canais é de elevado índice, podendo assim causar efeitos sobre as crianças. ‘’Nestes, e em tantos chamados debates públicos, não existe, pois, obviamente, qualquer conceitualização da relação entre sociedade e TV, porque a existência da TV, assim como a existência da sociedade na qual vivemos, é de tal modo evidente que e ‘’natural’’ para estas ‘’opiniões públicas’’ e para seus representantes, que não podem nem se quer ser percebida, como tudo que é bastante óbvio’’(terceiro parágrafo).

Jappe alega que a TV, por ser uma transmissão de imagens, algumas pessoas acreditam que ela possa ser uma forma de faculdade visual do homem, e que o sucesso da televisão está ligada a isso. Nesse sentido, fica claro a ideia de que a imagem é o principal atrativo.‘’O sucesso que a televisão obteve, a partir de seu início, no mundo inteiro, seria o resultado de uma fome de imagens, uma fome congênita do homem [...] Deste modo o espetáculo deve-se-ia ao fato de que o homem moderno é demasiado espectador’’ (quarto parágrafo).

Ainda sobre a questão relacionada a imagem transmitida, o texto destaca que a estrutura essencial da televisão não é apenas a transmissão de imagem, mas sim que os meios eletrônicos podem passar a mesma mensagem independentemente da forma de comunicação. Para comprovar tal ideia, Jappe usou como exemplo as famosas considerações de Theodor Adorno e Horkeimer sobre a ‘’indústria cultural’’, publicada em 1947. Nessas considerações, esse mesmo tema foi abordado com base nas rádios o no cinema, deixando em evidência que a questão não é a forma como o conteúdo é passado, mas sim o recado que é levado até o ouvinte e ao espectador.

Ao longo do texto, também fica evidente as consequências que a televisão trás para a vida dos seres humanos. O que deveria ser apenas uma opção de alegria e entretenimento, na verdade só faz afastar os membros de uma família. O escritor cita que alguns críticos inclusive comparam a TV como uma ‘’caixa de Pandora’’, tendo em vista que a mesma não passa de uma ilusão de algo bom, quando na verdade é um mal disfarçado de bem instalado nas casas ao redor do mundo. ‘’É particulamente difundido lamentar o impacto negativo da TV sobre a vida familiar. Faz-se notar que a tradicional mesa de jantar, em torno da qual a família se reunia olhando-se no rosto e falando, desapareceu em proveito da televisão em frente à qual os membros da família se alienam olhando para um ponto de fuga em comum em vez de olharem um para o outro’’ (Parágrafo dez).

Durante o décimo segundo parágrafo do texto, o autor finalmente explica o que é espetáculo na visão dele e de Debord. Segundo ele, a televisão não é caracterizada pelo simples fatos de olhar, mas sim o olhar fixo e imóvel. E a expressão ‘’espetacular’’, no que se refere à TV, não é no sentido de algo maravilhoso, mas infelizmente de algo banal por trazer uma visão mais inocente da realidade.  ‘’Se Debord disse que tudo é espetáculo, é pelo fato que tudo, da política ao tráfico, das cidades à cultura, tende a reproduzir o indivíduo isolado. [...] Ele não faz outra coisa senão olhar este mundo, portanto ser um espectador do espetáculo’’ (décimo segundo parágrafo)

Em seguida, Jappe resume de forma clara que o conceito de ‘’sociedade do espetáculo’’ reduz o homem ao papel de espectador. E, de acordo com o princípio no qual Debord cita, o espetáculo é um estágio no desenvolvimento da mercadoria, sendo que a televisão é um dos mais importantes itens de mercadoria no mundo todo. Isso ele insinua como um grande empobrecimento da ‘’vida vivida’’, por conta desse predomínio da mercadoria e do espetáculo. ‘’A televisão é, portanto, uma espécie de apogeu da sociedade da mercadoria, não somente porque faz vender, mas porque potencializa a estrutura fundamental da sociedade moderna: a contemplação inerte, isto que o homem criou sem sabê-lo e igualmente sem querê-lo’’ (décimo oitavo parágrafo).

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