Rio de Janeiro, entre a violência e a cidadania

ENSAIO SOBRE A VIOLÊNCIA E A CIDADANIA NO RIO DE JANEIRO

Quando o assunto é Rio de Janeiro, uma das primeiras imagens que se vem à cabeça é

a da violência desenfreada que lá se instaurou. A morte recente da vereadora Marielle Franco,

ativista dos direitos humanos, trouxe à tona o seu lado mais macabro, evidenciando o grave

estado de anomia da cidade, que não poupa nenhum de seus filhos.

A ex-capital brasileira tem um grande histórico de violência e segregação, porém é no

século XXI que ela assume proporções colossais. Este cenário caótico fortalece os

argumentos dos que pregam a violência e a repressão estatal contra os “marginais”,

proporcionando assim um genocídio sobre o mantra da legalidade contra a periferia, já que a

truculência tem alvo, que se define pela cor e classe, tal discriminação tem origem histórica e

seu caráter denegridor e estereotipado é reproduzido pela mídia diariamente, delimitando-os

através de seus programas tanto fictícios, tanto informativos, onde em muitas das vezes a

linha que os separa se mostra extremamente tênue. A mídia prega seus dogmas de maneira

imperativa, o bom, o mau, o certo e o errado é estigmatizado sob condições econômicas da

qual a maior parte da população é excluída, as exceções que rompem com as barreiras e se

opõem as estatísticas muitas vezes terminam mortos, banhados pelo próprio sangue. Todos

pregam a paz, mas o preço que deve ser pago para alcança-la é ocultado e suas lutas são

taxadas de utópicas, a redução das desigualdades é uma das principais ferramentas para

enfrenta-la, entretanto, fazê-la é enfrentar os detentores do poder político e econômico, assim

sendo, enquanto a desordem e a miséria auxiliarem na manutenção do poder haverá aqueles

que plantarão o caos e abraçaram a política do medo, criminalizar será sempre uma ótima

alternativa quando a assimilação social for ameaça ao status quo.

Com a execução da vereadora Marielle, explicitou-se a tentativa de matar e calar

aqueles que buscam garantir e expandir a cidadania, a cidade maravilhosa se tornou

perturbadora aos despojados de poder, criando um estado em que se corrompe e precariza a

própria identidade dos cidadãos locais, onde aí, os grandes meios de comunicações se calam

sobre as malesas e fazem coro a uma intervenção militar na cidade, que se põe sob o teor da

legalidade, assim como em 1964. Lutar pela cidadania é entrar em uma guerra