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Um estudo sobre o bullying como forma de reprodução social da violência

Por:   •  15/9/2017  •  Artigo  •  4.434 Palavras (18 Páginas)  •  501 Visualizações

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UM ESTUDO SOBRE O BULLYING COMO FORMA DE REPRODUÇÃO SOCIAL DA VIOLÊNCIA

Resumo

O presente trabalho trata-se de um estudo observacional realizado no município de Betim – MG, a partir de um inquérito de base populacional, cujo objetivo foi investigar o bullying (comportamento violento, sem motivação aparente, repetitivo, intencional que expressa-se, principalmente no ambiente escolar através de agressões, discriminações, preconceitos e exclusão social) evidenciando-o como uma manifestação eminentemente humana e socialmente construída.  Identificou-se forte presença de bullying entre os adolescentes pesquisados e sua correlação com a violência doméstica e social. Faz-se necessário estudar o fenômeno de forma ampliada, considerando o contexto no qual se insere.

Palavras chave: Bullying, Adolescente, Violência doméstica, Violência social.

Abstract

This work it is an observational study in the municipality of Betim - MG, from a population-based survey, which aimed to investigate the bullying (violent behavior without apparent motivation, repetitive, intentional that is expressed mainly in the school environment through aggression, discrimination, prejudice and social exclusion) showing it as an eminently human and socially constructed manifestation. It identified strong presence of bullying among adolescents surveyed and its correlation with domestic and social violence. It is necessary to study the phenomenon expanded form, considering the context in which it operates.

Key words: Bullying, teen, domestic violence, social violence.

1 - INTRODUÇÃO

O atual modelo de sociedade no qual vivemos deflagra um processo contemporâneo, porém, não antigo, onde se percebe de um lado, uma minoria populacional privilegiada, detentora dos meios de produção, com os quais se sustenta nessa condição de privilégio e dominação, enquanto que a grande parcela restante fica à mercê dos bens sociais, relegada a uma condição de dominados. Tal estrutura social torna evidente as contradições históricas e culturalmente instauradas ao longo da construção de nossa sociedade.

É nesse contexto de desigualdades, da divergência de interesses entre membros pertencentes a classes sociais distintas e que frequentemente se confrontam, que emergem conflitos, intolerâncias, preconceitos, aversão ao diferente, dentre outras formas de violência, muitas vezes naturalizadas no modelo societário vigente.

Fato social complexo, histórico e multicausal, a violência encontra nos diferentes espaços de interação social, terreno fértil para a sua produção e reprodução. Mediada pela hierarquia social, classifica e ordena os homens, de acordo com sua classe social, entre inferiores e superiores, comandantes e comandados (CROCHIK, 2012).

Nessa perspectiva, estudos acerca das ocorrências de violência entre crianças e adolescentes, bem como da população jovem e seus processos de socialização nos diferentes espaços, vem ganhando destaque no cenário nacional e internacional, haja vista a condição peculiar de desenvolvimento destes.

Pensada a partir de várias perspectivas, a adolescência, corresponde a etapa de vida entre 10 e 19 anos, período de transição entre a infância e a fase adulta, marcada principalmente por um complexo processo de crescimento, do desenvolvimento biopsicossocial e da personalidade humana. O processo de adolescer caracteriza-se também pela inserção do indivíduo em determinada cultura. É neste contexto que surge a necessidade de construção de uma nova identidade, o desenvolvimento de novos papéis sociais, o afastamento do grupo familiar e a aproximação dos grupos de pares (ARAÚJO, 2008).

Espaço privilegiado de interação entre os adolescentes, o ambiente escolar propicia a estes o exercício de habilidades pró-sociais, contribuindo para seu desenvolvimento interpessoal e fortalecimento de habilidades para a vida em sociedade.  Contudo, é também neste espaço que as dificuldades de relacionamento e interação entre os pares se tornam mais evidentes. Comportamentos agressivos, discriminações, preconceitos e exclusão social, são exemplos da violência tida como escolar.  

Paula e D’Aura-Tardeli (2009) apud Crochik (2012), assim conceituam a violência escolar: “violência na escola”, que se refere à presença da violência que tem origem fora dos muros escolares e “violência da escola”, que é gerada pela própria instituição a partir de suas regras. Não se tem aqui a intenção de reduzir a importância das regras institucionais, dada a sua contribuição na organização das relações pessoais e sociais para uma boa convivência, mas, a de destacar a escola como uma importante instituição onde objetivos como a civilidade entre os alunos, a convivência pacífica, a resolutividade dos conflitos e o estabelecimento de normas construídas coletivamente, devem ser apreciados.

Dentre as diversas formas de violência que se manifestam no ambiente escolar, embora não se restrinjam a este espaço, destaca-se o bullying, comportamento violento, sem motivação aparente, repetitivo, intencional e caracterizado pelo desequilíbrio de poder entre os envolvidos (OLWEUS, 1993).

O bullying pode ocorrer de duas maneiras: direta, “que inclui agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences), e verbais, (apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, constranger)”; e indireta, “através da disseminação de rumores desagradáveis e desqualificadores, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social” (FANTE, 2005).

Ganha também destaque o Cyberbullying que por definição, compreende o uso de ferramentas tecnológicas para assediar, ameaçar, constranger ou humilhar outra pessoa, simular ou tentar violar senhas das vítimas (JUVONEN; GROSS (2008) apud WENDT; LISBOA, 2013).

Identificam-se entre os envolvidos nas ocorrências de bullying os perfis de vítima, vítima-agressora, agressores e espectadores. As vítimas são geralmente crianças que apresentam características diferentes das demais, estigmas e/ou atributos considerados negativos, já a vítima-agressora é aquela que reproduz os maus-tratos sofridos. Quanto ao agressor ou bully, este sente uma necessidade imperiosa de dominar e subjugar os outros, de se impor mediante o poder e a ameaça de conseguir aquilo a que se propõe. Os espectadores definem-se como aqueles que presenciam o bullying, porém não o sofrem nem o praticam. Independente dos papéis assumidos nas ocorrências de bullying, os prejuízos acarretados a todos os envolvidos são significativos e na maioria das vezes duradouros (FANTE, 2005).

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