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Mente E Corpo

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Por:   •  26/9/2014  •  8.469 Palavras (34 Páginas)  •  499 Visualizações

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Resumo: O artigo começa dando uma visão panorâmica do processo

pelo qual se passou, na modernidade, da libertação da palavra à

industrialização da palavra, esboçando algumas reações a esse desenvolvimento,

em particular a de Heidegger. Prossegue pelo exame

detalhado da regra de verbalização do inconsciente, sobre a qual

repousa a clínica freudiana, mostrando os limites teóricos e clínicos

desse tipo de comunicação entre o analista e o analisando. Passa, em

seguida, ao estudo da comunicação não-verbal, característica da clínica

winnicottiana dos psicóticos, para concluir: 1) que certos modos

do inconsciente são comunicáveis, mas não verbalizáveis, 2) que

a crise da comunicação verbal, detectada por Winnicott na psicanálise,

apresenta paralelos notáveis com a crítica de Heidegger da palavra

gramaticalmente – isto é, ciberneticamente – correta, como o

único meio de falar sobre os seres humanos e seus assuntos.

Palavras-chave: linguagem, verbalização, inconsciente nãoverbalizável,

comunicação silenciosa.

1 Texto ampliado e modificado da palestra proferida na Sociedade de Psicanálise do

Rio de Janeiro, em 24/10/97, e reapresentada no III Colóquio Winnicott, PUC-SP,

05-07/06/98.

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Zeljko Loparic

Abstract: The article starts by giving an overview of the process by

which the liberation of speech became the industrialization of speech

in Modern Times, outlining some reactions to it, such as the one

formulated by Heidegger. It continues with a detailed study of the

rule for verbalization of the unconscious, upon which the Freudian

psychoanalysis is founded, showing theoretical and clinical limits of

this kind of communication between the analyst and the analyzand.

It goes over to the examination of the different modes of non-verbal

communication, characteristic of the Winnicottian clinic of

psychotics, in order to conclude 1) that some modes of the

unconscious are communicable, but not verbalizable; 2) that the

crises of verbal communication, detected by Winnicott in

psychoanalysis, exhibits noteworthy parallels to the Heideggerian

critique of the grammatically, that is, cibernatically correct language

as the only means of talking about human beings and affairs.

Key-words: language, verbalization, non verbalizable unconsciousness,

silent communication.

1. O imperativo de verbalizar tudo

Desde o início, a clínica psicanalítica definiu-se pela relação especial

com a linguagem. Anna O. chamou o tratamento com Breuer de

“talking cure”, “cura pela fala”.2 Mas não se tratava de uma fala qualquer.

Era um dizer enigmático, que seduzia e, ao mesmo tempo, atemorizava.

Tanto é assim que Breuer fechou os ouvidos. Foi preciso Freud ter adivinhado,

nessa corrente verbal da paciente de Breuer, a presença de um sintoma

a ser interpretado, para que essa fala começasse a fazer sentido clínico.

Com isso, Freud fazia a sua grande e verdadeira descoberta: a dos poderes

terapêuticos da verbalização – na presença viva de uma outra pessoa – de

verdades reprimidas e, por isso, fontes de distúrbios individuais e

interpessoais.

2 No texto original de Os estudos sobre a histeria (1895), esse termo aparece em inglês.

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É dizível o inconsciente?

Desde então, não somente as patologias psíquicas mas também

a estrutura do ser humano, a sua vida sexual, o seu desenvolvimento cultural

em geral, isto é, os temas centrais da psicanálise tradicional, passaram

a ser tratados em função da sua relação com a fala. A começar pelo

problema pré-psicanalítico da afasia, estudado por Freud, até a questão

da palavra plena de Lacan, a verbalização, a oralidade, o caráter propriamente

glóssico3, lingual, da fala permaneceu no centro da teorização e da

prática clínica de tipo psicanalítico.4

As práticas de verbalizar o censurado começaram na cultura

ocidental muito antes do surgimento da psicanálise. Os confessionários

católicos eram os primeiros lugares desse tipo de uso da palavra. Os libertinos

franceses do Século das Luzes foram mais longe e tentaram dizer o

obsceno publicamente, e não mais sob o segredo da confissão ou apenas

sussurrando-o na alcova. O Marquês de Sade levou essa prática ao extremo

e começou a verbalizar o abominável. Só os mais comuns dos seus libertinos

se comprazem na simples luxúria, na natureza desenfreada. Os mais

radicais procuram “irritações”

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