RESENHA - PRO DIA NASCER FELIZ
Por: rayanne.seso • 2/11/2017 • Resenha • 2.289 Palavras (10 Páginas) • 817 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PRO DIA NASCER FELIZ
Trabalho apresentado a Professora Fabrícia Vellasquez na disciplina Introdução ao Serviço Social do Curso de Graduação em Serviço Social.
ANA ROSA
ANDREIA OLIVEIRA DA SILVA
RAYANNE DIAS RIBEIRO
VANDRESA GOMES
VICTÓRIA CRISTINA CATRINQUE
YASMIN DE PAIVA REZENDE
Seropédica
06 de outubro de 2017
RESENHA
O documentário “Pro Dia Nascer Feliz” relata o dia-a-dia, as dificuldades, as lutas e a persistência de diversos alunos e professores durante o período de abril de 2004 a outubro de 2005. Lançado em 2005, sob a direção de João Jardim, foi vencedor de três categorias no Festival de Gramado (2006). Trata-se de uma análise do sistema educacional brasileiro, feita a partir do olhar de diversos discentes e docentes dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco (onde visitam uma das regiões mais pobres do país), do ensino público e privado e também pelo olhar de jovens privados de liberdade.
A escola é vista (ou pelo menos deveria ser) como “a porta das oportunidades”, mas, infelizmente, no Brasil, o ensino público é precário, trazendo consequências que dificultam o trabalho do professor e, sucessivamente, o bom desempenho dos alunos.
Clécia, 13 anos, é aluna de um colégio estadual de Manari, em Pernambuco, que, numa linguagem popular, pode-se dizer que “está caindo aos pedaços”, entretanto, gosta de estudar e, apesar de todos os obstáculos que consegue enxergar em sua escola, desde a estrutura precária ao desinteresse dos alunos em aprender, consegue sonhar. É maravilhoso perceber como uma menina tão nova como ela é, do interior do Brasil, dá valor aos estudos e acredita, bem como sua família, que será uma pessoa "de alto nível de estudo" (leia-se formada e bem sucedida).
No sertão pernambucano, na mesma cidade de Clécia, conhecemos Valéria e Mariana. Valéria é a que se sobressai; uma menina que adora ler e que escreve muitíssimo bem. Produz textos, redações e poesias que encantam profundamente quando lidas, por ela, durante o filme, mas que, infelizmente, não tocam da mesma forma seus professores. Segundo a aluna, eles não acreditam que é ela quem escreve e, por isso, dão sempre notas baixas. Como sonhar, estando longe de tudo, se nem os professores a incentivam e crêem que uma aluna pode ser capaz de escrever bem? Para Valéria, que faz magistério, “aqui, a gente, na maioria das vezes, não tem nem chance de sonhar.”
A luta da jovem não acaba aí. Ela e outros estudantes precisam sair de Manari para concluírem o ensino médio, pois este só existe em uma cidade próxima chamada Inajá. São 300 alunos e o prefeito disponibilizou apenas dois ônibus, que, por causa das suas péssimas condições de uso, faz com que muitas vezes os alunos não consigam chegar até o colégio. Em duas semanas de filmagem, Valéria assistiu apenas três aulas, porque o ônibus estava quebrado.
Nessa escola, existe uma professora que não aceita bem essa realidade e, em suas falas, incentiva os alunos a sonharem com uma vida melhor e a acreditarem em si, mesmo que a realidade os impeça de idealizarem um futuro. Ela é uma docente do curso de magistério e quer formar educadores, segundo suas falas em sala de aula, mas sente que nem todos estão ali com o mesmo objetivo, que é aprender. Na visão dela, os alunos, ou a maioria deles, usa a escola como um escape, pois não se interessam pelos estudos, preferindo fazer qualquer outra coisa durante o tempo em que deveriam estar em sala, o que acaba por desmotivar os seus colegas a continuarem dando aulas. Quando na verdade isso acontece por causa do sistema falido que é a educação brasileira, não é culpa do aluno e nem do professor. O sistema fere a todos.
Por conta disso, parece que os educadores, aqueles que deveriam incentivar ao máximo os seus alunos, não acreditam mais que estes possam chegar a uma graduação ou que alguém do interior do estado de Pernambuco possa ter uma profissão além daquilo que o destino parece traçar para eles. O sistema os impede de sonhar?
Num colégio estadual de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, os problemas persistem. Alunos sem aula, professores faltosos, professores que dispensam e alunos adorando a situação porque poderão conversar com os colegas, paquerar e fazer o que eles quiserem nesse tempo. Educadores estressados, claramente exaustos e relação professor-aluno completamente desgastada. Como ensinar tendo o psicológico abalado, acreditando que seus esforços são em vão? Será que ninguém percebe? O mundo do crime que existe além dos muros daquela escola parece, para muitos alunos, ser mais interessante do que aprender.
Ali existe Douglas, que não tem média para passar para o primeiro ano do ensino médio e faz com que os professores discutam o seu futuro e querem dar uma chance a ele, o aprovando. Ele, por sua vez, diz que nada aprendeu na oitava série. O mundo do crime, as armas, o luxo, o fascinam, mas ele não quer que isso influencie em sua vida diretamente. Para muitos, esse parece ser o seu destino: o crime. Mas não é o que se vê. Este aluno faz parte da banda da escola, por incentivo de uma professora, que mesmo sendo mal remunerada, preocupa-se com o destino de seus alunos e consegue enxergar não só o Douglas, aqui em especial ele, mas também os outros, como alguém que pode ser muito mais do que como a sociedade o imagina (um “projeto de bandido”); fazer música, participar desses ensaios, conviver com esses professores que, apesar de todas as dificuldades ainda tentam transformar realidades, faz com que ele fique longe da criminalidade. Ele e seus colegas. Essas professoras não querem que eles fiquem a margem da sociedade e lutam contra isso. Mesmo em um sistema falido há educadores que acreditam e investem em um futuro melhor para os seus educandos. Douglas quer ser militar, tem sonhos.
Em Itaquaquecetuba, São Paulo, existe uma escola pública aparentemente um pouco diferente das outras mostradas até aqui, é bonita e admirada. É notório o interesse de alguns alunos e dos professores, é clara a vontade de aprender; segundo alguns docentes, a escola foi muito bem no ENEM. A visão de Ronaldo, 16 anos, porém, é um pouco diferente: o governo quer passar uma ideia de que o ensino está melhorando, mas não está, porque se estivesse não seria necessária a implantação dos programas de ingresso à universidade e nem cotas. Há outra estudante entrevistada, Keila, que tem 16 anos, aluna que gosta de escrever e o faz bem, porém acredita que suas escritas não têm importância. O que falta para que esses alunos possam se sentir seguros? O problema com a falta de professores e a ausência de aulas persiste e há contradição entre os alunos e a diretora, que quer passar uma imagem de uma escola que parece não existir.
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