NICHOS ECOLÓGICOS E ADAPTAÇÕES
Por: cvgs • 19/2/2017 • Pesquisas Acadêmicas • 1.424 Palavras (6 Páginas) • 1.256 Visualizações
NICHOS ECOLÓGICOS E ADAPTAÇÕES
(do livro Ciência Ambiental de G. Tyler Miller Jr.)
Cada espécie de um ecossistema tem função ou meio de vida específico. Se perguntarmos a um ecólogo que papel certas espécies, como um aligátor, exercem em um ecossistema, ele descreverá o nicho ecológico, ou nicho, dessa espécie. Trata-se da maneira como vive a espécie ou sua função na comunidade ou ecossistema e envolve tudo aquilo que afeta sua sobrevivência e reprodução.
O nicho ecológico de uma espécie difere de seu habitat, o local físico onde ela se encontra. Os ecólogos costumam dizer que o nicho é a profissão da espécie, e que o habitat é o endereço.
O nicho fundamental de uma espécie consiste na variedade potencial total de condições e recursos físicos, químicos e biológicos que ela poderia teoricamente utilizar, se pudesse evitar competição direta com outras espécies. Claro que, em um determinado ecossistema, as diferentes espécies competem umas com as outras pelos mesmos recursos. Resumindo, os nichos se sobrepõem entre as espécies que competem umas com as outras.
Para sobreviver e evitar competir pelos mesmos recursos, uma espécie geralmente ocupa apenas uma parte do seu nicho fundamental em uma determinada comunidade ou ecossistema, é que os ecólogos chamam de nicho realizado. Por analogia, você pode ser capaz de ser o presidente de determinada empresa (seu nicho profissional fundamental), mas a competição com as outras pessoas pode fazer que você seja apenas o vice-presidente (seu nicho profissional realizado).
ESPÉCIES GENERALISTAS E ESPECIALISTAS
Algumas espécies têm funções ecológicas mais amplas; outras exercem papéis mais estreitos ou especializados.
Os cientistas usam os nichos das espécies para classificá-las em generalistas ou especialistas. As espécies generalistas têm nichos amplos (Figura 4.4, curva da direita). Elas podem viver em diversos lugares, comer diversos alimentos e tolerar uma variedade de condições ambientais. Moscas, baratas, camundongos, ratos, veados-de-cauda-branca, guaxinins, coiotes, cobras cabeça-de-cobre, bagres americanos e os seres humanos são espécies generalistas.
As espécies especialistas ocupam nichos mais estreitos (Figura 4.4, curva da esquerda). Elas podem viver em apenas um tipo de habitat, consumir um ou alguns tipos de alimento ou tolerar uma pequena variedade de climas e outras condições ambientais. Isso faz que as especialistas sejam mais susceptíveis à extinção caso ocorram mudanças ambientais.
Por exemplo, as salamandras-tigre se reproduzem apenas em lagos sem peixes, onde suas larvas não são comidas. O pica-pau-de-penacho-vermelho, ameaçado de extinção, cava buracos para o ninho quase sempre em pinheiros de folhas longas, com pelo menos 75 anos de idade. Os pandas-gigantes da China, espécie ameaçada, se alimentam quase unicamente de espécies de bambu. Alguns pássaros costeiros também ocupam nichos especializados, alimentando-se de crustáceos, insetos e outros organismos nas praias arenosas e áreas costeiras alagadiças nas adjacências (Figura 4.5).
É melhor ser um generalista? Ou um especialista? Depende. Quando as condições ambientais são constantes, como em uma floresta tropical, os especialistas levam vantagens porque têm menos concorrentes. Sob condições ambientais que sofrem rápidas transformações, os generalistas se saem muito melhor.
A seleção natural pode aumentar o número de especialistas, quando várias espécies têm de competir acirradamente por recursos escassos. Com o passar do tempo, uma espécie pode evoluir em uma variedade de espécies com diferentes adaptações, que reduzem a competição e permitem que elas compartilhem os recursos limitados.
A divergência evolucionária de uma única espécie em uma série de espécies similares com nichos especializados pode ser ilustrada considerando-se os pássaros saíra, que vivem nas ilhas do Havaí. Tendo como ponto de partida uma única espécie antecessora, inúmeras espécies de saíras evoluíram com diferentes tipos de bicos, para alimentarem-se de fontes, como certos tipos de insetos, néctar de determinadas flores e tipos específicos de sementes e frutos (Figura 4.6).
LIMITES DA ADAPTAÇÃO
A capacidade de uma população se adaptar a novas condições ambientais é limitada por seu conjunto de genes e pela velocidade na qual ela pode se reproduzir.
Será que as adaptações a novas condições ambientais permitirão, em um futuro não tão distante, que nossa pele se torne resistente aos efeitos prejudiciais da radiação ultravioleta? Que nossos pulmões tolerem a poluição? E que nosso fígado desintoxique melhor os poluentes? A resposta é não, em virtude de dois limites à adaptação na natureza.
Primeiro, uma mudança nas condições ambientais pode acarretar adaptação apenas nas características genéticas já presentes no conjunto de genes de uma população. É preciso ter o dado genético para jogar o jogo do dado genético.
Segundo, mesmo que uma característica hereditária benéfica esteja presente em uma população, sua capacidade de adaptar-se pode estar limitada a sua capacidade reprodutiva. As populações de espécies geneticamente variadas que se reproduzem com rapidez - como ervas-daninhas, mosquitos, ratos, bactérias e baratas – adaptam-se a mudanças nas condições ambientais em um curto espaço de tempo. Por outro lado, as espécies incapazes de produzir um grande número de indivíduos de uma forma acelerada – como elefantes, tigres, tubarões e seres humanos – levam muito tempo (milhares ou até milhões de anos) para adaptar-se por meio da seleção genética. É preciso estar apto a jogar o dado genético rapidamente.
Uma má notícia para os membros de uma população: mesmo existindo uma característica genética favorável, seria necessário que a maior parte da população morresse ou se tornasse estéril para que os indivíduos com a característica pudessem predominar e passá-la adiante. Como conseqüência, a maioria dos jogadores é expulsa do jogo genético antes que tenha chance de vencer. A maior parte dos membros da população humana teria de morrer prematuramente por centenas de milhares de gerações para que uma nova característica genética predominasse – uma solução pouco desejável para os problemas ambientais que enfrentamos.
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