A Dieta Hospitalar
Por: Edvania Santos • 28/11/2020 • Trabalho acadêmico • 9.440 Palavras (38 Páginas) • 361 Visualizações
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SALVADOR FACULDADE DE ENFERMAGEM
DIETA HOSPITALAR
DISFAGIA, PRÉ E PÓS OPERATÓRIO, PREPARATÓRIO DE EXAME
Salvador-BA 2020.2
Trabalho apresentado à Universidade Católica do Salvador
– UCSAL - Faculdade de Enfermagem, ao curso de Bacharelado em Enfermagem, como parte da avaliação da II Unidade da disciplina de nutrição.
Orientadora: Claudineia Almeida
Salvador-BA 2020.2
Comprometimento da deglutição | Disfagia
A deglutição pode ser definida como a passagem do bolo alimentar e de líquidos através da cavidade oral, da faringe e do esôfago para o estômago em uma velocidade apropriada. A deglutição é um processo complexo que depende tanto de componentes voluntários quanto reflexivos. Cinco nervos cranianos e mais de 50 músculos na cabeça e no pescoço estão envolvidos na deglutição orfaríngea.9 Quando esse processo apresenta algum comprometimento, tem-se a disfagia.
O termo disfagia deriva do grego dys, que significa “desordena-do” ou “doente”, e phago, que significa “comer” ou “engolir”. Apesar de ser identificada pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10 código R13) como “sinais e sintomas digestivos”, o termo é frequentemente usado, não tão apropriadamente, como doença ou distúrbio. A disfagia compromete a capacidade de alimentar-se e pode causar complicações como pneumonia por aspiração, perda de peso, desidratação e obstrução das vias respiratórias, o que representa maior morbidade e mortalidade, promovendo maior tempo de hospitalização e necessidade de cuidados especializados.
Trata-se de um problema comum e estima-se que 1 em cada 17 pessoas venha a desenvolvê-la ao longo da vida. Afeta cerca de 40 a 70% de pacientes com acidente vascular cerebral, de 60 a 80% de pacientes com doenças neurodegenerativas, até 13% de idosos com idade a partir de 65 anos e, desses, a maioria (> 51%) encontra-se institucionalizada, além de 60 a 75% de pacientes que receberam radioterapia para câncer de cabeça e pescoço.
A disfagia pode ocorrer por diversas causas de acordo com a perspectiva de análise, podendo ser divididas em causas anatômicas e fisiopatológicas. Do ponto de vista anatômico, a disfagia resulta de alterações na orofaringe e/ou no esôfago. Já na perspectiva fisiopatológica, a disfagia pode ser causada por doenças estruturais e orgânicas (sejam benignas ou malignas), ou doenças
que alterem a fisiologia dos sistemas envolvidos no processo de deglutição (principalmente comprometimento de motilidade e/ou percepção).9
Na tentativa de se chegar à etiologia da disfagia para melhor definição da conduta terapêutica, é preciso distinguir as causas que afetam a faringe e o esôfago proximal (orofaríngea ou disfagia alta) e aquelas que acometem o corpo esofágico e a junção esofagogástrica (esofágica ou disfagia baixa). No entanto, os dois tipos podem se manifestar ao mesmo tempo. De qualquer modo, a investigação deve contar com uma detalhada história médica, incluindo a localização, os alimentos e líquidos que desencadeiem os sintomas, uso de medicamentos, duração dos sintomas e se apresentam progressão ou intermitência.
Tipos de disfagia
A manifestação mais comum da disfagia, a orofaríngea, apresenta três principais populações de risco: idosos, pacientes com doenças neurodegenerativas (doença de Parkinson, esclerose múltipla) ou neurológicas e pacientes com doenças de cabeça e pescoço.9 Também pode se apresentar em pacientes jovens, sendo causada principalmente por doenças musculares, formação de membranas e anéis. É o tipo de disfagia que apresenta maior risco de complicações respiratórias.
A disfagia orofaríngea causa várias complicações que aumentam morbidade e mortalidade, tais como desnutrição, desidratação, asfixia e aspiração brônquica, a qual resulta em infecções respiratórias e pneumonia aspirativa.10 Esse tipo de disfagia é tão impactante à saúde de idosos quanto as doenças cardiovasculares, metabólicas e alguns tipos de câncer.
Já a disfagia esofágica pode ocorrer como resultado de causas mecânicas extrínsecas e intrínsecas, distúrbios neuromusculares secundários ou primários ou por processos inflamatórios do corpo esofágico ou do esfíncter esofágico inferior. A disfagia em resposta a líquidos e alimentos sólidos sugere uma
anormalidade motora do esôfago, como a acalasia, situação comum na doença de Chagas. Por outro lado, a disfagia exclusiva para alimentos sólidos indica uma anormalidade estrutural como estenose, anel de Schatzki ou tumor. Comparada à disfagia orofaríngea, a esofágica apresenta menor risco de sintomas respiratórios, o que pode acontecer em casos avançados não tratados.
Manejo nutricional
A avaliação clínica para detecção da disfagia deve ser uma prática multiprofissional, contando com a participação do médico, fonoaudiólogo e nutricionista. Alguns protocolos são propostos para esse fim: o Protocolo de Avaliação do Risco para Disfagia (PARD) e o Protocolo de Introdução e Transição da Alimentação por Via Oral (PITA).
O PARD torna possível a detecção do risco inicial para disfagia, sendo considerado um protocolo de triagem. Nele são ofertados volumes controlados de água e alimento pastoso homogêneo. Esse instrumento auxilia o fonoaudiólogo a identificar e interpretar a alteração na dinâmica da deglutição, caracterizando os sinais clínicos sugestivos de penetração laríngea ou aspiração laringotraqueal e definindo, pontualmente, a gravidade da disfagia. Por meio desse protocolo é possível adotar condutas a partir dos resultados da avaliação, que classifica o paciente segundo sete níveis de disfagia.
Nível I | Deglutição normal. Normal para líquido e pastoso em todos os itens avaliados. A alimentação por via oral é recomendada.
Nível II | Deglutição funcional. São esperadas compensações espontâneas de dificuldades leves em uma consistência pelo menos, com ausência de sinais de
risco de aspiração. A alimentação por via oral é recomendada, mas pode ser necessário tempo adicional para esta tarefa.
Nível III | Disfagia orofaríngea leve. Distúrbio de deglutição presente, com necessidade de orientações específicas dadas pelo fonoaudiólogo durante a deglutição. Necessidade de pequenas modificações na dieta; tosse e/ou pigarro espontâneos e eficazes; leves alterações orais com compensações adequadas.
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