BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE HACC45 – TÓPICOS ESPECIAIS EM SAÚDE III
Por: Darlan Silva • 21/5/2017 • Resenha • 1.215 Palavras (5 Páginas) • 656 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS – IHAC
BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE
HACC45 – TÓPICOS ESPECIAIS EM SAÚDE III
SÍNTESE CRÍTICA
A Medicina é uma arte milenar, porém, em comparação com a medicina hipocrática, a prática médica atual foi radicalmente modificada pela assimilação de conceitos cartesianos que se encontram na origem do modelo mecanicista do corpo humano que prevalece até os nossos dias. Este modelo representa um princípio de inteligibilidade do mundo proposto por Descartes, segundo o qual o conhecimento deve ser útil, racional, despido de sentimento e capaz de produzir eficácia social.
Desde Descartes e ao longo dos três últimos séculos, com o surgimento da medicina moderna e o desenvolvimento da industrialização e da economia capitalista, observa-se a ampliação da atuação da medicina e a extrapolação do seu campo de atuação tradicional em relação às doenças, com grande crescimento da definição dos problemas da vida em termos médicos.
A ciência biomédica tem suas raízes no positivismo, com ênfase no método empírico para se chegar ao conhecimento e a sua racionalidade baseia-se em um caráter generalizante, mecanicista e analítico. Generalizante porque se propõe a produzir modelos de validade universal e leis de aplicação geral, não se ocupando de casos individuais; mecanicista porque seus modelos tendem a naturalizar o corpo humano como uma gigantesca máquina, compreendido por uma causalidade linear e possível de ser traduzida em mecanismos; e analítica porque a abordagem teórica e universal adotada para a elucidação das “leis gerais” sobre o funcionamento da “máquina humana” pressupõe o isolamento de partes e que o funcionamento do todo é dado pela soma das partes.
Gastão Wagner de Sousa Campos, em seu texto "A mediação entre conhecimento e práticas sociais", cita Heidegger e a escola de Frankfurt para exemplificar alguns pensadores que caracterizam o contexto moderno como o período de domínio do técnico, da razão instrumental e da desvalorização do ser humano em paralelo com o enfoque, cada vez maior, no interesse do capital, do estado e da produtividade. Mas então coloca a Saúde Coletiva, a concepção de promoção à saúde, a luta pela democracia institucional, a noção de clínica ampliada como espaços de crítica e resistência a essa realidade, pois faz-se necessário racionalidades e sistemas analítico-conceituais para favorecer a liberdade do indivíduo para escolher os meios para manter-se saudável.
O modelo hegemônico atual não está dando conta da situação. Temos o aumento da incidência de doenças como diabetes, obesidade, que dependem de mudança de hábitos, de estilo de vida, de uma relação com o meio ambiente. É preciso resgatar a saúde das pessoas, trabalhar com educação em saúde, profilaxia, prevenção, orientação de hábitos.
Outro ponto importante que deve ser pensado é a não exclusão do saber popular no contexto das práticas de saúde. Luisa ferreira da Silva e Fátima Alves, ressalta que o saber leigo, como forma de conhecimento, é válido e, na sua simbologia cultural, acaba abarcando contextos que o conhecimento científico muitas vezes ignora, como a visão holística da relação corpo-mente que surge como unidade ontológica integradora. A partir da relação dos mundos individual, social, cultural, natural e espiritual, cria-se níveis de conhecimento cognitivo e emocional, que se articularão com representações e crenças, ou seja, com uma subjetividade da qual a prática médica não dispõe. Assim, forma-se a concepção de bem-estar mais aproximada com a realidade e os desejos do indivíduo.
Percebe-se um aumento nos trabalhos científicos na área, nos últimos anos, o que demonstra que existe um movimento em busca de mudanças na realidade brasileira quanto ao quesito práticas médicas e na produção de conhecimento científico. Alguns artigos foram recolhidos para exemplificar a necessidade de se aprofundar o debate na busca por práticas que diminuam a cultura da medicalização e que garantam a saúde do sujeito.
No primeiro artigo, de nome "As mensagens persuasivas dos medicamentos. Verdade ou mentira?" de Paula Renata, o alto índice de automedicação no Brasil é relacionado ao mercado da indústria farmacêutica e a cultura de consumo excessivo dos medicamentos. Um dado preocupante é apontado: apenas um terço dos medicamentos vendidos no Brasil são prescritos por médicos. O uso de placebo é inserido no conteúdo por estar envolvido com o estado psíquico do paciente, o que faz o indivíduo crer que a saúde física é resultante do bem-estar psicossomático. O artigo , contudo, afirma que a medicina tradicional tenta separar o sujeito do tratamento medicamentoso, isolando a condição a ser tratada no contexto subjetivo.
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