Estamira
Por: valescakr • 28/10/2015 • Resenha • 785 Palavras (4 Páginas) • 889 Visualizações
Valesca Kehrle Rodrgues
Atenção Primária à Saúde 1
USF - Córrego da Fortuna
RESENHA DO FILME ESTAMIRA
O documentário nacional dirigido por Marcos Prado leva o nome de sua protagonista, Estamira, senhora que trabalhava no aterro sanitário de Jardim Gramacho. Tal documentário é construído sob a óptica da própria protagonista e obteve uma repercussão internacional com grande reconhecimento da crítica. Estamira revela-se como um verdadeiro paradoxo, pois, embora apresentasse distúrbios psicológicos, havia, em suas falas, um alto teor de consciência, provocando, inclusive, reflexões a cerca de diversos aspectos da conjuntura social. Esse certo nível de sanidade atestado em uma mulher diagnosticada com perturbações mentais nos remete a uma avaliação a cerca da dicotomia saúde-doença.
Segundo o conceito adotado pela Organização Mundial de Saúde (1947), compreende-se por saúde o estado de mais completo bem-estar físico, mental e social. A 8ª Conferência Nacional de Saúde, no entanto, amplia esse conceito, ao tratar a saúde e a doença como superestruturas, ou seja, como resultantes influenciadas por diversos aspectos sociais que englobam o indivíduo. Dessa forma, para que haja uma determinação da saúde ou doença, faz-se necessário, a priori, um levantamento a respeito das condições nas quais o ser humano encontra-se inserido, a exemplo de alimentação, educação, habitação, renda e transporte. É possível, então, analisar a história de Estamira tomando por base um conceito mais amplo do processo saúde-doença.
Sob a óptica da doença como superestrutura, devemos analisar os acontecimentos da vida de Estamira, a fim de entender de que forma eles confluíram para o seu posterior estado. Ainda em sua infância, podemos destacar dois fatos, a ausência de uma figura paterna e abusos sexuais praticados pelo avô. Na adolescência ela foi levada para uma casa de prostituição, onde conheceu quem veio a ser o pai de seu primeiro filho, que a tirou de lá, porém vivia uma vida de muitas mulheres, traindo Estamira diversas vezes, o que fez ela sair de casa com o filho. Ela teve mais duas filhas, sendo uma delas criada por outra família, e um outro bebê, que já nasceu morto. Além desses aspectos, outros traumas ficam evidentes no documentário, entre eles o fato de ter sido estuprada na rua de sua casa e ter tido que internar a mãe em um hospício a mando do marido. Todos esses acontecimentos trágicos acabaram criando em Estamira um sentimento de profunda revolta com Deus, pois ela transferiu para ele as ações que lhe foram feitas. Em uma de suas falas de revolta ela chega a dizer que não quer saber desse deus estuprador.
Estamira desenvolveu uma crença muito forte, na qual a natureza é o principal elemento e ela foi a escolhida para mostrar os valores falidos da sociedade. Esse, inclusive, é o elemento desencadeador de diversas atitudes dela que fazem com que as pessoas vejam-na como louca. No documentário ela fala que Estamira tudo vê, que Estamira está em todo lugar e repete isso diversas vezes. No entanto, em meio a falas e atitudes desconexas indicadoras de distúrbios mentais, ela faz diversas reflexões que indicam um olhar crítico sobre a sociedade. Logo no início ela deixa claro sua relação de afeição com o lixo e diz que o verdadeiro lixo são os valores da sociedade, que ela trabalha com restos e faz, ainda, uma crítica ao grande desperdício, pois muitas coisas que vão para o aterro não deveriam ter sido descartadas.
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