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Resenha estamira - como a sociedade vê portadores de disturbios mentais

Por:   •  1/5/2017  •  Resenha  •  1.214 Palavras (5 Páginas)  •  490 Visualizações

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TCS IB- TRABALHO DE CAMPO SUPERVISIONADO

Resenha do documentário “Estamira”

Preceptora: Eliana Gabbay

Aluna: Júlia Correia Cardoso Guimarães

Turma: 216- A


  • Introdução

O documentário, lançado em 2005, conta a história de Estamira, uma senhora que apresentava distúrbios mentais, vivia e trabalhava no aterro sanitário de Jardim Gramacho. Tornou-se conhecida por um discurso que mistura lucidez e loucura, abrangendo temáticas como: a vida, Deus, o trabalho, a sociedade e reflexões existenciais.

O filme é retrato da nossa sociedade doente, em que reinam a desigualdade e a miséria. O filme é a expressão dos marginalizados- uma mulher, negra, pobre, e portadora de distúrbios mentais, chamada Estamira é a protagonista do filme e sua vida ganha ênfase. O filme é, justamente por isso, incômodo, pesado e denso, porque mostra como a nossa sociedade é cruel e nós, seus membros, culpados.

  • A resenha

Inicialmente confesso que senti um pouco de raiva dos diretores e da equipe do documentário, porque ao invés de tomar alguma providência para ajudá-la, ficavam filmando enquanto ela delirava e surtava. Com o desenrolar do filme, compreendi melhor sua história e esse sentimento passou.

Estamira é uma mulher sofrida, porque passou por várias experiências traumáticas, a começar quando era criança quando foi abusada por seu avô, alguém que deveria ser um protetor- e não um agressor. Depois, na adolescência, foi obrigada a se prostituir e a viver em um prostíbulo. Quando se casou sofreu por sucessivos episódios de traição por parte de seu ex-marido e dois episódios de violência sexual quando voltava de seu trabalho. Todo esse sofrimento - junto com o componente genético (sua mãe também era portadora de doenças mentais) - podem ter contribuído para sua enfermidade.

Antes de surtar, Estamira era uma pessoa muito religiosa, e depois do surto ela demonstra revolta contra o Deus a quem descarrega todo o seu ódio por julgar que ele permitiu todo o sofrimento que viveu. Ela, por conta da doença, não consegue relacionar o seu ódio a Deus a seu passado e à dor que vivenciou.

Além disso, o filme retrata sua relação com os demais ao seu redor, como seu amigo João, os demais trabalhadores do lixão e seus familiares. João também trabalha no lixão, com quem tem grande amizade. Carolina, sua filha mais velha, explica que prefere ver sua mãe livre no lixão do que trancada em um hospital psiquiátrico. Hernani, também seu filho, é religioso e vê a revolta da mãe contra Deus como uma possessão por espíritos demoníacos. Sua filha caçula não foi criada pela protagonista, mas por uma outra mulher e por conta disso, sua filha sente muito ressentimento por achar que abandonou sua mãe.

Estamira sente grande remorso por ter internando sua própria mãe, que era doente mental, em um hospício e permitir que continuasse lá mesmo sabendo que ela era maltratada. A própria Estamira sofreu uma internação forçada a mando de seu filho mais velho e nutre grande mágoa desse epsódio. Ela conta que foi pega enquanto trabalhava no lixão, amarrada e algemada como uma fera, um monstro e levada para clínica forçadamente. Esse episódio me fez lembrar de um trecho do texto “Louco, eu? ” quando diz que, por serem desprovidos de razão, muitos indivíduos se acham no direito de tomar decisões a respeito da vida do doente, como se esses últimos perdessem o direito e a autonomia de opinar sobre sua própria vida.

Estamira apesar de sua loucura, tem lapsos de sanidade e durante esses períodos apresenta uma percepção aguçada da realidade e grande sensibilidade. Ela diz que o lixão é um “depósito dos restos e descuido” e diz ainda o homem deveria proteger, guardar, economizar, cuidar e usar o quanto pode e não simplesmente descartar. Traz, assim, uma profunda reflexão sobre nossa sociedade e o modelo de consumo vigente.

Fala que muitos alunos não aprendem na escola, mas copiam; para ela o aprendizado é proveniente das “ocorrências”, das experiências de vida. Em outra ocasião ela diz que ficou muito ofendida com o tratamento da médica e que ela não é médica, mas “copiadora”, por insistir em lhe medicar diazepam.

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