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Resenha: A sociedade em rede — A era da informação: economia, sociedade e cultura

Por:   •  11/1/2018  •  Resenha  •  6.512 Palavras (27 Páginas)  •  941 Visualizações

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1. Resenha de "A sociedade em rede — a era da informação: economia, sociedade e cultura", de Manuel Castells

Na parte introdutória do livro, o autor assume como irreversível o avanço da informatização. Afirma que necessariamente nesse novo liberalismo de escala global todas as relações orbitam ao redor do mercado. Consequentemente, no contexto onde ao mesmo tempo habitam a rede (dimensão virtual) e o ser (agente), imperam a estratificação das comunidades e um aculturamento sistemático, interferindo negativamente nos movimentos sociais. Rompem-se as normas internacionais e dilui-se a oposição política. De maneira que apenas uma reformulação do indivíduo seria capaz de resistir aos obstáculos da nova sociedade, a sociedade em rede.

Ao lidar com os modelos, atores e locais da revolução tecnológica, Castells é categórico ao afirmar que tal revolução foi iniciada pelo Estado — em oposição à fantasia do empreendedor de garagem. Tecnologia e informação relevam-se, assim, como fundamentais agentes da metamorfose humana e das estruturas sociais. Agentes capazes de interferir nas mais importantes dimensões materiais da vida humana, o espaço e o tempo, reduzindo este último a nível meramente de conceito. Esvaziando-o a ponto de se atingir um grau de perfeita intemporalidade.

Nessa conjuntura ressurge o debate do paradigma da redefinição do ser, a tentativa de se preservar a qualidade de vida sem que homem e máquinas precisem se distanciar. Afinal, é da própria evolução da natureza humana que tecnologia e rede derivam.

2. Resenha de "Planos locais de promoção da saúde: intersetorialidade(s) construída(s) no território", de Simone Tetu Moysés e Ronice Franco de Sá

Ao definirem “território”, as autoras tratam-no como o local onde se manifesta o poder nas suas variadas formas (jurídico-político, cultural, econômico). Território consolida-se, então, quando da apropriação do espaço por atores sociais, onde lhes é permitido expandir suas políticas e dinamizar suas interações.

O artigo sustenta como fundamental o desenvolvimento de estratégias territoriais/locais a fim de se efetivarem ações promotoras de saúde. De outro lado, ele aponta como um desafio, no cenário brasileiro, a elaboração e aplicação de políticas públicas desse caráter. Sua carência se dá pelo ainda precoce conceito de territorialidade e territorialização, que enfraquece uma compreensão direcional dos espaços e assim o desenvolvimento de políticas específicas de saúde. O processo de institucionalização e gestão do SUS, uma vez fundamentado em estratégias de territorialização, pode servir de exemplo para a construção de políticas de promoção da saúde orientadas às demandas de diferentes recortes sociais.

Uma das práticas capazes de extrair potencialidades da população interessada é o Método Bambu: uma consulta de “quereres” e um mapeamento de prioridades de forma participativa. Tal método poderia desvelar redescobertas de percepções, viabilizando a realização de planos de ação.

Moysés e de Sá entendem que as propostas precisam ir além das práticas de apoio/desenvolvimento comunitário, ações governamentais e profissionais planejadas em bloco. É preciso dar voz aos atores locais, articular seu discurso com a elaboração das políticas públicas, uma vez que apenas a comunidade pode necessariamente apontar as suas especificidades.

3. Resenha de "Desafios do planejamento em políticas públicas: diferentes visões e práticas", de José Antônio Puppim de Oliveira

O autor rompe com as fantasias típicas em torno do termo “planejamento”, destacando que na realidade brasileira — enquanto idealmente se esperam resultados automáticos ao serem observadas fórmulas de implementação —, por décadas programas e políticas públicas costumam apresentar impactos negativos ou inesperados.

Lançada a questão “por que falhamos?”, os costumeiros erros e fracassos apontam uma resposta: tudo começa no equivocado distanciamento entre elaboração e implementação de políticas públicas, relegando planejamento à mera prática de empilhar planos.

Um dos primeiros programas a tornar-se referência no fracasso resultante dessa dissociação foi a tentativa de oferecer apoio a minorias étnicas, nos EUA, pela então recentemente criada agência Economic Development Administration (EDA). Seu malogro admirável despertou a atenção de especialistas à carência na abordagem acadêmica da implementação de políticas públicas. Contudo, 30 anos após o episódio, mesmo com vários teóricos debruçados sobre o tema, o assunto implementação não resulta em um consenso. As diferentes associações por vezes mais confundem que esclarecem seu papel político. Na realidade, peca-se ao não se compreender o tema como uma sucessão complexa de eventos no planejamento; eventos estes muitas vezes imprevisíveis ou incontroláveis.

Deste cenário turbulento, eclodem teorias a respeito do comportamento dos setores públicos durante o processo de planejamento. Duas grandes correntes de pensamento destacam-se, futura e eventualmente convergindo: as abordagens top-down (ênfase aos agentes técnicos) e bottom-up (descentralização do poder; atores abaixo da camada de poder ganhando voz).

4. Resenha de "O mito da desterritorialização: do fim dos territórios à multiteritorialidade", de Rogério Haesbert

O autor entende que, antes de um processo de desterritorialização (a perda ou destruição de territórios), vivenciamos na maior parte das vezes uma complexificação de um processo de (re)territorialização muito mais múltiplo, o "multiterritorial".

Foi nesse sentido que se reconheceu a desterritorialização como um "mito". Não porque não exista, mas sim ao saber que tal fenômeno está ligado à sua contraface, os movimentos de (re)territorialização.

Na Geografia, não se pode falar em desterritorialização sem reterritorialização pelo fato de o homem ser um "animal territorial" (ou "territorializador"). O que existe é um movimento complexo de territorialização, que inclui a vivência de diversos territórios — a multiterritorialidade.

Por outro lado, na dimensão social da desterritorialização, a menos enfatizada, o termo se aplica melhor: os "desterritorializados" (ou os precariamente "territorializados") perdem de fato o "controle" e/ou a "segurança" sobre seus territórios.

Compreensão duplicada de território em vista da etimologia: terra-territorium (dominação jurídico política do elemento "terra" como recurso) e terreo-territor (dominação jurídico-política pela inspiração do medo, nos quais indivíduos são alijados ou impedidos de entrar em determinado espaço territorial). Assim, no território pode-se desmembrar o conceito de poder objetivo, o de dominação, quanto o simbólico, o de apropriação.

O território múltiplo permite a sobreposição e a multiplicidade de territorialidades, ao contrário do espaço "unifuncional" reproduzido pela lógica capitalista. Assim, o território, imerso em relação de dominação e/ou apropriação sociedade-espaço, admite um continuum que vai da dominação político-econômica mais concreta e funcional à apropriação mais subjetiva e/ou "cultural-simbólica".

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