A Biomassa Subterrânea associada à vegetação nativa de Cerradão

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Biomassa Subterrânea associada à vegetação nativa de Cerradão

Douglas Borges Pereira^[1]*

Sabrina do Couto de Miranda ^[2]**

RESUMO

A fração subterrânea da vegetação tem papel fundamental no funcionamento dos ecossistemas. No entanto, há poucos estudos em relação à biomassa de raízes. Tal fato se deve à dificuldade na amostragem e também à ausência de padronização nas metodologias para a coleta de dados. Para o Cerrado este tipo de estudo é importante, pois grande parte da biomassa vegetal encontra-se na parte subterrânea do solo. Este estudo teve por objetivos estimar a biomassa e o estoque de carbono subterrâneo da vegetação nativa em remanescente de cerradão em Palmeiras de Goiás. Para a coleta das raízes foram abertas 10 quadrículas, com dimensões de 50 x 50 cm e escavado até 30 cm de profundidade, em uma área de remanescente de cerradão. As raízes coletadas foram lavadas, triadas e classificadas de acordo com o diâmetro médio: raízes muito finas (diâmetro < 2 mm); raízes finas (diâmetro entre 2 e 5 mm); raízes médias (diâmetro entre 6 e 10 mm); raízes grossas (diâmetro > 10 mm) e miscelâneas (diâmetros diversos, xilopódios, bulbos, tubérculos e rizomas). A biomassa radicular média e o, respectivo, estoque de carbono no cerradão estudado foram de 12,33 Mg.ha-1 e 5,79 Mg.ha-1. Não houve variação estatística entre quadrículas, contudo a comparação entre as classes de diâmetro mostrou maior contribuição da classe de raízes grossas na biomassa radicular total. Na comparação com outros estudos, o cerradão de Palmeiras de Goiás apresentou menores valores.

Palavras-chave: Raízes. Classe de diâmetro. Cerrado. Conservação.

ABSTRACT

The underground fraction of vegetation plays a fundamental role in the functioning of ecosystems. However, there are few studies regarding the biomass of roots. This is due to the difficulty in sampling and also the lack of standardization in the methodologies for data collection. For the Cerrado this type of study is important, because much of the vegetal biomass is found in the underground part of the soil. This study aimed at estimating the biomass and the underground carbon stock of native vegetation in remnants of cerradão in Palmeiras de Goiás. For the collection of the roots 10 squares were opened, with dimensions of 50 x 50 cm and excavated until 30 cm of depth, in an area of remaining cerradão. The collected roots were washed, sorted and classified according to the average diameter: very thin roots (diameter < 2 mm); thin roots (diameter between 2 and 5 mm); medium roots (diameter between 6 and 10 mm); thick roots (diameter > 10 mm) and miscellaneous roots (various diameters, xylopodes, bulbs, tubers and rhizomes). The average root biomass and the respective carbon stock in the studied cerradão were 12.33 Mg.ha-1 and 5.79 Mg.ha-1. There was no statistical variation between squares, however the comparison between the diameter classes showed a greater contribution of the thick root class in the total root biomass. In comparison with other studies, the cerradão de Palmeiras de Goiás presented lower values.

Key words: Roots. Diameter class. Cerrado. Conservation.

1 INTRODUÇÃO

A vegetação nativa dos biomas brasileiros vem sendo, cada vez mais, fragmentada por conta da expansão dos centros urbanos e de áreas agropecuárias, estas atividades antrópicas estão causando alterações que afetam o clima pela emissão de diferentes Gases de Efeito Estufa (GEEs) na atmosfera. Mesmo o efeito estufa, um fenômeno natural, segundo Hougghton (2003) está sendo intensificado, principalmente, pelo aumento na queima de combustíveis fósseis e alterações no uso da terra.

Dessa forma, as florestas aparecem como importantes contribuintes ambientais por meio do sequestro de gás carbônico (CO2) atmosférico (DIAS-FILHO, 2006). O processo de conversão do CO2 em carbono orgânico pela fotossíntese pode variar de acordo com algumas características da vegetação como: condições climáticas da região, estágios de sucessão e a variação genética das espécies presentes (WATZLAWICK et al., 2004). No cenário das mudanças climáticas globais e alteração no ciclo do carbono é necessário a ampliação de estudos voltados para a mensuração da biomassa e estoque de carbono alocados na vegetação (BUSTAMANTE; OLIVEIRA, 2008).

No contexto de importantes ecossistemas  savânicos mundiais, o Cerrado se destaca pela grande extensão territorial "visto que faz fronteira com quase" todos os biomas brasileiros, exceto os Pampas. De acordo com Faleiro et al. (2008), trata-se da savana mais rica e biodiversa do mundo abrigando cerca de 5% da flora e fauna mundial. Ribeiro e Walter (2008) descreveram 11 tipos fitofisionômicos diferentes para o Cerrado que são agrupadas em formações florestais (mata ciliar, mata de galeria, mata seca e cerradão), savânicas (cerrado sentido restrito, parque de cerrado, palmeiral e vereda) e campestres (campo sujo, campo limpo e campo rupestre). Para o entendimento desse bioma é crucial compreender a dinâmica espacial e temporal na mudança de uso da terra levando em consideração os três tipos de formações vegetais, bem como, as diferenças no estoque de carbono (ZIMBRES et al., 2020).

Dentre as fitofisionomias do Cerrado, o cerradão é fisionomicamente semelhante a uma floresta, mas do ponto de vista florístico compartilha várias espécies com o cerrado sentido restrito (MIRANDA et al., 2017). São escassos na literatura estudos relacionados ao cerradão, destes a maior parte traz dados sobre o estoque de carbono e biomassa na parte aérea, com poucos trabalhos abordando estimativas para a porção subterrânea (conectar as duas frases)(não entendi). A escassez de dados pode ser pela dificuldade na quantificação da biomassa presente nas raízes em diferentes ecossistemas, já que as metodologias empregadas são complexas de serem executadas e demandam muito tempo e mão de obra para sua execução (AZEVEDO, 2014). Dessa forma, compreender as relações entre a parte aérea e subterrânea em vegetações nativas refinam as estimativas de biomassa e estoque de carbono, bem como, minimizam os impactos de amostragens destrutivas (SANTOS, 2010).