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ESTUDO DA UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS AGROINDUSTRIAIS NO CULTIVO DO FUNGO

Por:   •  21/5/2017  •  Trabalho acadêmico  •  5.312 Palavras (22 Páginas)  •  334 Visualizações

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ESTUDO DA UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS AGROINDUSTRIAIS NO CULTIVO DO FUNGO Pleurotus sajor-caju PARA BIORREMEDIAÇÃO DE EFLUENTES TÊXTEIS COM O CORANTE ALARANJADO REMAZOL 3R (AR3R)

  1. INTRODUÇÃO

As atividades agroindustriais, incluindo as agropecuárias, têm provocado sérios problemas de contaminação e poluição ambiental no solo e em águas superficiais e subterrâneas.1, 2 Como os resíduos sólidos gerados por setor apresentam, em geral, grande quantidade de material orgânico, o seu lançamento em corpos hídricos pode reduzir a concentração de oxigênio dissolvido nesse meio, provocando a morte de animais, exalação de odores fétidos e gases agressivos, além de dificultar o tratamento dos efluentes.1, 2 Sabe-se também que o aumento de nutrientes em corpos d’água causado pelo lançamento de resíduos agroindustriais pode gerar um fenômeno conhecido como eutrofização, caracterizado por uma proliferação excessiva de algas, que, ao entrarem em decomposição, aumentam o número de microorganismos no ecossistema aquático e provocam deterioração da qualidade hídrica.1, 2

Neste contexto, surge a necessidade de se ter um bom aproveitamento de resíduos sólidos agroindustriais, a exemplo do cultivo de fungos da espécie Pleurotus sajor-caju a partir da utilização destes rejeitos como principal fonte energética no substrato.3 Classificados como basidiomicetos causadores da podridão branca da madeira, estes cogumelos decompõem enzimaticamente o substrato, solubilizando carboidratos (como a celulose e a hemicelulose), lignina, CO2 e água, utilizando-os em seu metabolismo.4, 5, 6, 7, 8 A proposta de incorporar resíduos agroindustriais ao meio de cultura de Pleurotus sajor-caju tem se revelado promissora, uma vez que, ao final do processo, obtém-se um resíduo com menor potencial poluidor, já que este foi parcialmente digerido pelo complexo lignocelulolítico do cogumelo.6, 7

Em busca da execução e do aprimoramento deste processo, tem-se desenvolvido o cultivo de fungos em sacos de polipropileno, por meio de uma técnica chinesa conhecida como Jun-Cao, que possibilita o aproveitamento de diferentes resíduos agroindustriais, além de ser vantajosa por aumentar a velocidade de miceliação e consequentemente reduzir o tempo de frutificação, permitindo a produção do cogumelo durante o ano todo em curtos períodos para colheita.9, 10

Com base neste método, conduziu-se este trabalho com o objetivo de avaliar o potencial de utilização de três diferentes resíduos agroindustriais como fonte principal de carbono no cultivo de Pleurotus sajor-caju: bagaço de uva, polpa de café e resíduos oriundos do beneficiamento têxtil do algodão.9, 10 Tendo em vista que as diferentes composições no meio de cultura resultam em ganhos metabólicos para o fungo, utilizou-se uma mistura complementar ao resíduo, formada por água, arroz com casca, farelo de trigo (como fonte de nitrogênio), gesso agrícola (para controlar o pH e garantir friabilidade ao substrato, aumentando sua porosidade e evitando sua compactação) e calcário (capaz de suprir a elevada exigência de cálcio pelas espécies do gênero Pleurotus sp.9, 11)

Além do aproveitamento de resíduos agroindustriais, esta técnica permite que o fungo realize a biorremediação de substâncias nocivas ao ambiente, como os corantes têxteis, pois, quando colocado em contato com outros compostos orgânicos poluentes, inclusive tóxicos e recalcitrantes, o basidiomiceto Pleurotus sajor-caju é capaz de degradá-los eficientemente.6, 7, 12, 13 

A importância da detoxificação de corantes se deve ao fato de que, quando não tratados adequadamente, os efluentes oriundos do setor têxtil podem provocar alterações nos ciclos biológicos ao entrar em contato com corpos hídricos, diminuindo a transparência da água e impedindo a penetração da radiação solar, alterando o regime de solubilidade dos gases e reduzindo a taxa fotossintética de organismos aquáticos, pondo em risco a estabilidade desses ecossistemas e a vida em seu entorno.1, 14, 15, 16, 17, 18  Além disso, os impactos ambientais são intensificados pela elevada demanda mundial por corantes têxteis, estimada em 750.000 a 800.000 toneladas por ano, na qual cerca de 20% é descartada, pois não consegue fixar-se às fibras.19

Complementarmente, a gama de preocupações em torno dos corantes sintéticos, principalmente os do tipo azo, como o Alaranjado Remazol 3R, se deve ao potencial cancerígeno e mutagênico que estes compostos apresentam, além da resistência à tratamentos convencionais, decorrente de sua complexa estrutura química, necessária para garantir o nível de qualidade exigido pelo consumidor.  13, 14, 15, 20

A partir daí, espera-se que a integração entre cogumelos e resíduos sólidos agroindustriais implique em uma redução de diversos efeitos negativos sobre o ecossistema, de modo a proporcionar uma destinação correta dos rejeitos, além de minimizar os impactos ambientais causados pelo lançamento de efluentes têxteis não-tratados em corpos d’água.

  1. OBJETIVOS

Avaliar a utilização de diferentes resíduos sólidos agroindustriais como substrato no cultivo do fungo Pleurotus sajor-caju, de modo a definir um modelo viável de tratamento de efluentes têxteis contaminados com o corante Alaranjado Remazol 3R (AR3R), a partir do processo de biorremediação realizado pelo Pleurotus sajor-caju.

  1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Em meio à crescente necessidade de confecção de artigos para vestuário, torna-se evidente a elevada importância da indústria têxtil à civilização humana. Entretanto, sabe-se também que este setor possui elevado potencial poluidor ao ambiente, devido principalmente às características dos corantes, classificados como compostos tóxicos e de difícil degradação pela natureza, com alto potencial mutagênico e carcinogênico.15, 16, 21, 22 A preocupação com a contaminação ambiental por corantes têxteis deve-se também à sua elevada demanda mundial, estimada em 750.000 a 800.000 toneladas por ano,19 na qual o Brasil é responsável pelo consumo de 26.500 toneladas por ano de corantes, os quais apresentam registros de mais de 8.000 tipos.19 Dentre estes, o corante sintético Alaranjado Remazol 3R (AR3R) merece destaque, pois pertence à família dos azocorantes, potencialmente carcinogênicos e mutagênicos, além de apresentarem elevada resistência à degradação natural e à tratamentos convencionais.14, 23

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