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A EDUCAÇÃO FÍSICA CULTURAL E AFRICANIDADES: EXU, SABERES DISCENTES E ENCRUZILHADAS

Por:   •  11/2/2023  •  Artigo  •  7.277 Palavras (30 Páginas)  •  131 Visualizações

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EDUCAÇÃO FÍSICA CULTURAL E AFRICANIDADES: EXU, SABERES DISCENTES E ENCRUZILHADAS

CULTURAL PHYSICAL EDUCATION AND AFRICANITIES: EXU, STUDENT KNOWLEDGE AND CROSSROADS

Ronaldo dos Reis

Marcos Garcia Neira

RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo compreender como as/os estudantes significam as práticas corporais de matriz afro-brasileira, tematizadas nas aulas de Educação Física, culturalmente orientadas. O trabalho de campo consistiu na tematização de danças de matrizes culturais afro-brasileiras nas aulas. Os dados produzidos foram submetidos à análise cultural, fazendo emergir, encruzilhadas, mobilizadas no entrecruzamento dos pressupostos do currículo cultural de Educação Física, estudos decoloniais e pedagogia das encruzilhadas. Neste contexto apresentados no pensamento de fronteira, materializado na rejeição de uma maneira única de ler a realidade, na desobediência epistêmica, anunciadas por uma perspectiva pluriversal, constatada nas performatividades das/os estudantes, anunciados em cruzos, rolês e ebós epistemológicos, possibilitando a aspiração de uma epistemologia exuística, observada na ressignificação das gestualidades, nas vivências organizadas, emergindo nas frestas, transgressões, rasuras, devires, incertezas, mobilidades, rebeldias, síncopes, possibilidades de vir a ser e de existir, podendo abrir outros caminhos e novas encruzilhadas.

 

PALAVRA-CHAVE: Africanidades; Currículo cultural; Encruzilhadas.

ABSTRACT

The present research aimed to understand how students mean the body practices of an Afro-Brazilian matrix, thematized in culturally oriented Physical Education classes. The fieldwork consisted of thematization of dances from Afro-Brazilian cultural matrices in the classes. The data produced were subjected to cultural analysis, causing crossroads to emerge, mobilized in the intersection of the assumptions of the cultural curriculum of Physical Education, decolonial studies and pedagogy of crossroads. In this context, presented in frontier thinking, materialized in the rejection of a one way of reading reality, in epistemic disobedience, announced by a pluriversal perspective, verified in the performativities of students, announced in crosses, rolls and epistemological ebós, enabling the aspiration of an exuistic epistemology, observed in the resignification of gestures, in organized experiences, emerging in the cracks, transgressions, erasures, becomings, uncertainties, mobilities, rebellions, syncope, possibilities of becoming and existing, opening up other paths and new crossroads.

KEYWORDS: Africanities; Cultural curriculum; Crossroads.

INTRODUÇÃO

                Inspirado nas teorias pós-críticas, o currículo cultural de Educação Física tem como objetivo formar para a leitura e produção das práticas corporais, almejando a formação de sujeitos solidários. Ao projetar múltiplas identidades, não fixas, não naturais, em constantes transformações, estão suscetíveis às mudanças ocasionadas pelos jogos de poder, que tendem a normalizar discursos a partir do contexto cultural.

Professoras e professores, ao colocarem em ação o currículo cultural, tematizam práticas corporais, entendidas como temas culturais, buscando analisar suas representações e significados perpassados a partir das problematizações, que emergem na decorrência das vivências nas aulas.

Os incômodos, identificados na minha atuação profissional, agenciados pelos princípios ético-políticos do currículo cultural de Educação Física, propiciaram outras formas de se pensar as práticas escolares, bem como outros olhares sobre a presença da população negra na sociedade, que, vez por outra, está enviesada por uma visão estereotipada da/o negra/o escravizada/o pelo europeu.

Isso posto, vale afirmar que, no contexto da pesquisa, debruçamo-nos nas africanidades presentes nas danças, que emergiram no mapeamento das práticas corporais, o que orientou as situações didáticas, propostas nas turmas com quem foi realizado o estudo, a partir de questões: como as/os estudantes percebem a presença/ausência de determinadas práticas corporais no currículo? Como percebem (se percebem) a recorrência de algumas práticas corporais em detrimento de outras nas aulas de Educação Física? Como as/os estudantes inicialmente significam as práticas corporais ao se depararem com a discussão das relações étnico-raciais nas aulas de Educação Física? Quais seriam os efeitos da problematização dessas questões nas aulas de Educação Física?

Uma vez que a Educação Física culturalmente orientada se apresenta como alternativa contra-hegemônica e anti-facista (no contexto desta pesquisa também se apresentando anti-racista), pois afirma as diferenças e se compromete com a formação de sujeitos solidários (NEIRA, 2020), a questão, que orientou nosso estudo, buscou desvelar: quais os efeitos do currículo cultural nas significações das/os estudantes nas aulas de Educação Física, quando são tematizadas práticas corporais oriundas de matrizes culturais afro-brasileiras? Objetivando assim, compreender como as/os estudantes significam as práticas corporais de matriz afro-brasileira, quando tematizadas nas aulas de Educação Física.

Buscamos compreender como se efetiva o processo de representação e significação, recorrendo aos estudos de Stuart Hall (2016), com base em três abordagens de linguagem: a reflexiva, que reflete um significado que já existe no mundo dos objetos, pessoas ou eventos; a intencional, que expressa somente o que o falante quer expressar; e a construcionista, entendida como um produto social, no qual os significados são construídos por meio dos sistemas de representação. Assim, contribuem para a compreensão de como se concretiza o processo de significação, para o qual buscamos compreensão dos efeitos.

Como elemento para análise dos dados, elegemos a análise cultural, influenciados pelos estudos de Ana Luiza Moraes (2015), Maria Lúcia Wortmann (2002), Dagmar Meyer e Marlucy Paraíso (2014), que se apresentaram como possibilidade de análise mais ampla, a partir dos dados produzidos no campo da pesquisa, bem como em articulação com o campo teórico ao qual nossos estudos se debruçaram.

No decorrer das análises dos dados produzidos, emergiram conhecimentos potencializados no entrecruzamento do currículo cultural, dos estudos decoloniais e da pedagogia das encruzilhadas, confirmando o apresentado pelos estudos de Flavio Santos Júnior (2020), Jaqueline Martins (2019), Jorge Oliveira Junior (2017), Letícia Araújo e Marcos Neira (2014), Marcos Neira (2016) e Marcos Ribeiro das Neves (2018), em relação às significações das/os estudantes.

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