Possibilidades Pedagógicas De Desnaturalização Dos Marcadores De Gênero Nas Aulas De Educação Física
Por: Ednara Araujo Nepomuceno • 6/7/2023 • Trabalho acadêmico • 6.646 Palavras (27 Páginas) • 87 Visualizações
Possibilidades pedagógicas de desnaturalização dos marcadores de gênero nas aulas de Educação Física
Ednara Araújo Nepomuceno[1]
Erineusa Maria da Silva[2]
Ueberson Ribeiro Almeida[3]
Resumo
O intuíto deste artigo é apresentar possibilidades pedagógicas, fruto de uma a pesquisa realizada durante o mestrado profissional em Educação Física em uma escola de ensino fundamental em Serra/ES, para problematizar a desnaturalização dos marcadores de gênero das práticas corporais em aulas de educação física escolar, especificamente sobre (in)visibilidade das mulheres no esporte por meio do planejamento participativo com os/as estudantes. As fases metodológicas da pesquisa no mestrado compreenderam em: apresentação do projeto a comunidade escolar, implementação de questionários diagnósticos (estudantes, pais/mães/responsáveis, servidores/as), análises dos dados produzidos nos questionários, planejamento com os/as estudantes, apresentação dos dados coletados em seus questionários, atividades pedagógicas, roda de conversa, simulação de júri (decreto-lei), confecção de cartazes, charges, vídeos, músicas, fotografias, palestras/oficinas com parceiros/as nas intervenções metodológicas pedagógicas. Apresentaremos neste artigo quatro experiências pedagógicas que conforme as aulas práticas, debates e as discursões geradas, serviram de reflexões sobre a temática abordada nas aulas de educação física que são relacionadas aos esportes tradicionais (futsal/futebol) e aos esporte de aventura (skate).
Palavras-chave: Práticas corporais; Esportes tradicionais e de aventura; Gênero.
Abstract
The purpose of this article is to present pedagogical possibilities, the result of a research carried out during the professional master's degree in Physical Education in an elementary school in Serra/ES, to problematize the denaturalization of gender markers of bodily practices in school physical education classes , specifically on the (in)visibility of women in sport through participatory planning with students. The methodological phases of the master's research included: presentation of the project to the school community, implementation of diagnostic questionnaires (students, parents/mothers/guardians, civil servants), analysis of the data produced in the questionnaires, planning with the students, presentation of the data collected in their questionnaires, pedagogical activities, conversation wheel, jury simulation (decree-law), making of posters, cartoons, videos, music, photographs, lectures/workshops with partners in the pedagogical methodological interventions. In this article, we will present four pedagogical experiences that, according to the practical classes, debates and discussions generated, served as reflections on the theme addressed in physical education classes that are related to traditional sports (futsal/soccer) and adventure sports (skateboard).
Keywords: Body practices, Sports, Female skateboard, Gender
Introdução
Este artigo apresenta possibilidades pedagógicas que foram realizadas durante o mestrado profissional em Educação Física a qual problematizamos “A desnaturalização dos marcadores de gênero das práticas corporais em aulas de educação física escolar”,[4] na EMEF Profª Iolanda Schineider Rangel da Silva, Município de Serra/ES, com as turmas dos 9ºA e B, durante o ano de 2022.
Nossa pesquisa girou em torno da ideia de que as relações de gênero são, não somente social e historicamente distintas, mas constituem marcadores de desigualdade que perpassam nossas condições, comportamentos e ações, inclusive nas diversas práticas corporais que realizamos. Isso se inicia muito cedo na educação familiar onde ainda se perpetua uma educação marcadamente sexista, mesmo que mais sutilmente na atualidade devido aos avanços no debate de gênero.
Meninos ainda seguem sendo educados para serem mais durões, viris e aventureiros, enquanto as meninas, educadas para serem mães, dóceis, sensíveis e frágeis. Esses movimentos são organizados e regulamentados pela cultura patriarcal que permeia nossa sociedade, ditando, adestrando, treinando, adaptando e moldando o gênero (JAGGAR; BORDO, 1997).
Em uma sociedade culturalmente patriarcal como a brasileira, prevalece a figura masculina como lugar de poder e superioridade. As suas características são determinadas socialmente como aquele que é capaz de conduzir a vida social, moral, política e familiar, conferindo-lhe a centralidade do poder, organizados em vários espaços (CUNHA, 2014).
A cultura patriarcal legitima o arbitrário cultural e acabamos incorporando-o como natural (BOURDIEU, 2005). Ou seja, tomamos algo que é construído social e culturalmente como algo vinculado à natureza humana conforme o sexo biológico. Assim, acabamos aceitando com “naturalidade” a oposição binária entre o sexo maculino e o feminino, estabelecendo o que passamos a denominar de marcadores de gênero (papéis, comportamentos, valores, condições etc) sobre todos os âmbitos da existência humana, seja, no lar, no mundo do trabalho ou na escola de forma a reforçar as desigualdades entre os homens e as mulheres (cis ou transvestigêneres).
A respeito dessa realidade, podemos citar outros exemplos que fazem parte dessa configuração de uma sociedade patriarcal, que diz respeito as formas de vivenciar as sexualidades. Para o patriarcado só existe uma forma “normal” de experimentá-las, a heteronormatividade. Desta forma, outras formas e desejos relacionados com esse assunto são consideradas anormais, o que acaba gerando violência, preconceitos, intolerância, desrespeitos e exclusões com a comunidade LGBTQIA+.
Em relação à participação dos/as estudantes por gênero nas aulas de Educação Física, cada professor/a, de forma muito particular, já vivenciou e vivencia diversas situações conflituosas desta participação e como cada gênero se relaciona com/nas aulas. Podemos citar, neste contexto, dois extremos desta relação. De um lado é notório a desmotivação das meninas na medida que os anos escolares aumentam; ou então, quando algumas se destacam, por habilidade, enfrentam situações constrangedores de machismo e preconceito. Outra situação enfrentada , é quando elas querem participar das aulas, mas não possuindo “habilidade”, escutam dos meninos, frequentemente, que elas estão “atrapalhando”. Essas são algumas das inúmeras situações que as meninas (cis e trans) enfrentam nas aulas.
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