TREINAMENTO INTERVALADO DE ALTA INTENSIDADE: QUEBRANDO PARADIGMAS NA REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR
Por: Claudia Moraes • 6/6/2017 • Trabalho acadêmico • 3.412 Palavras (14 Páginas) • 643 Visualizações
TREINAMENTO INTERVALADO DE ALTA INTENSIDADE: QUEBRANDO PARADIGMAS NA REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR.
Escrito por: Morgana Ricardo Dalpiaz, Gilson Pires Dorneles, Mariana Pinkoski de Souza, Alessandra Peres, Mariane Borba Monteiro, Maristela Padilha de Souza. (Rio Grande do Sul).
Publicado em: Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.10. n.57. p.16-28. Jan./Fev. 2016. ISSN 1981-9900.
INTRODUÇÃO:
Protocolos e métodos do treinamento intervalado de alta intensidade (High Intensity Interval Training, HIIT) tem despertado o interesse da comunidade científica (Tjonna e colaboradores, 2013).
Este método de treinamento consiste em uma alternância de períodos de exercício aeróbio em alta intensidade com períodos de recuperação passiva ou ativa em uma intensidade moderada-baixa.
O Colégio Americano de Medicina do Exercício recomenda um mínimo de 150 minutos de exercício aeróbio moderado contínuo (EMC) por semana para o desenvolvimento e a manutenção da saúde física (Thompson, Gordon e Pescatello, 2009).
No entanto, estudos apontam que a aplicação de sessões de HIIT com frequência de 2-3 vezes por semana, com duração média de 20 a 30 minutos por sessão de exercício, apresentam adaptações semelhantes a protocolos e treinamentos que possuam maiores volumes de tempo ou de distância percorrida por sessão (Burgomaster e colaboradores 2008; Bartlett e colaboradores, 2011).
Estes achados são importantes em uma perspectiva de saúde pública, pois a justificativa de “falta de tempo” permanece como uma das principais barreiras para a adesão de uma boa parcela da população a programas de treinamento físico.
É importante ressaltar, no entanto, a complexidade de prescrição desse tipo de treinamento, uma vez que as alterações na combinação de variáveis como tempo de exercício, número de séries e repetições de estímulos (tiros), e tempo e tipo de intervalo utilizado podem acarretar em diferentes respostas sistêmicas agudas e possivelmente alterar adaptações crônicas (Guiraud e colaboradores, 2010).
Observa-se maior efetividade na diminuição da adiposidade corporal quando empregados protocolos de HIIT em comparação ao ECM, sendo um importante fator no controle do desenvolvimento de comorbidades associadas à obesidade, como diabetes mellitus, hipertensão arterial e dislipidemias (Trapp e colaboradores, 2008; Bussau e colaboradores, 2006), reduzindo a probabilidade de desenvolvimento de doenças cardiometabólicas. Diversos estudos têm demonstrado os benefícios da aplicação do HIIT em programas de reabilitação cardíaca.
MATERIAIS E MÉTODOS:
No período de fevereiro de 2013 a maio de 2013 foram analisados estudos originais encontrados na base de dados Medline/Pubmed e disponibilizados pelo portal Periódicos CAPES para avaliação das respostas agudas e adaptações crônicas. Utilizou-se em associação os descritores “High Intensity Interval Training” e “Cardiac Rehabilitation”, com data de publicação entre os anos 2003 e 2013.
Como critérios de inclusão, aceitou-se delineamento de ensaio clínico randomizado para as adaptações crônicas e ensaios clínicos para respostas agudas, indivíduos apresentando doenças cardiovasculares e com intervenção baseada no HIIT.
RESULTADOS:
Na busca eletrônica, foram encontrados 35 artigos originais, após avaliação dos títulos e resumos, foram selecionados 27 estudos considerados relevantes, sendo os demais excluídos por não apresentarem consonância com o tema.
De 18 estudos selecionados, sete estudos abordavam as respostas agudas a protocolos do HIIT e 11 estudos avaliaram as adaptações crônicas do HIIT na reabilitação cardíaca. Estes artigos avaliaram os efeitos do HIIT sobre as seguintes doenças: hipertensão arterial (2 artigos), insuficiência cardíaca (7 artigos), infarto agudo miocárdio (um artigo), angina estável (3 artigos), doença arterial coronariana (6 artigos).
- Aspectos gerais do HIIT: Inicialmente, o desenvolvimento e a prescrição de protocolos de treinamento intervalado, como o HIIT, foram direcionados para sujeitos saudáveis e atletas, como por exemplo, a adaptação do teste de potência anaeróbia de Wingate, no qual se desenvolve basicamente em 30 segundos de esforço supramáximo em cicloergômetro. Em geral, indivíduos realizavam quatro ou seis repetições separados por intervalos de 4 minutos de recuperação passiva ou ativa em uma intensidade acima de 120%VO2Máx (Rognmo e colaboradores, 2004; Astorino e colaboradores, 2012). Porém, este tipo de treinamento mostrou-se muito exigente para uma boa parcela da população, e exigia que os sujeitos possuíssem uma alta motivação ou grande tolerância à acidose anaeróbia, sendo pouco provável que o protocolo estivesse adequado para indivíduos sedentários ou com excesso de tecido adiposo devido à sua intensidade elevada (Trapp e colaboradores, 2008; Gibala e colaboradores, 2009). Em termos de reabilitação cardiovascular, o HIIT é empregado entre cinco a 10 repetições com duração de até 30 segundos com intervalos de recuperação entre 30 e 90 segundos (Guiraud e colaboradores, 2010; Gibala e colaboradores, 2009; Meyer e colaboradores, 2012; Freyssin e colaboradores, 2012). Outro protocolo muito utilizado apresenta maior tempo de exercício em esforços máximos, utilizando quatro repetições de quatro minutos, com tempo de recuperação de três minutos entre cada repetição (Moholdt e colaboradores, 2011; Munk e colaboradores, 2009). Neste contexto, as intensidades de esforços permanecem elevadas, porém não passando de 100% de seus valores máximos.
Com o objetivo de aplicar o HIIT na reabilitação cardiovascular, Guiraud e colaboradores (2010) compararam quatro diferentes protocolos de HIIT em indivíduos com doença arterial coronariana. Os protocolos consistiam em: 10 repetições de esforços a 100% da potência aeróbia máxima (MAP) com duração de 15 segundos com intervalos de 15 segundos passivos (a) ou ativo (b) ou com intensidade de 50% da MAP, ou três repetições de esforços a 100% da MAP com duração de 60 segundos com intervalos de 60 segundos passivos (c) ou ativo (d) à 50% da MAP. Os resultados do estudo apontaram que a utilização de intervalos passivos resultava em um aumento do tempo de exaustão dos indivíduos em comparação à recuperação ativa, independentemente do tempo sob alta intensidade do exercício (15 segundos ou 60 segundos). Os autores concluíram que ao considerar fatores como a percepção de esforço, o tempo de exercício em intensidade superior à 80% do VO2Pico e o tempo de exaustão prolongado, o protocolo (a), apresentou maior segurança cardiovascular para o emprego em programas de reabilitação cardiovascular.
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