A Ritalina no Brasil: Produções, discussões e práticas
Por: 140216 • 8/3/2019 • Resenha • 773 Palavras (4 Páginas) • 207 Visualizações
Identificação do Artigo
Título:A ritalina no Brasil: produções, discussões e práticas
Referência: ORTEGA, Francisco.; et al. Interface: comunicação, saúde e educação.V, 14, n. 34, p. 499-510, jul./set.2010.
Resumo do Artigo
O presente artigo tem como objetivo apresentar uma pesquisa em andamento sobre as representações sociais do uso do medicamento ritalina no Brasil entre 1998 e 2008. Nesse período, houve um aumento considerável na venda do medicamento e sua expansão para outros fins além do terapêutico.
Inicialmente, os autores discorreram sobre o aumento exagerado do consumo do metilfenidato, conhecido no Brasil como ritalina. O crescimento da produção mundial de 1990 a 2006 representa um aumento de mais de 1200%. No Brasil seguindo, a tendência, o uso vem crescendo ao longo dos anos. No ano 2000, o consumo nacional foi de 23kg. Apenas seis anos depois, o Brasil fabricava 226kg de metilfenidato e importava outros 91kg.
Sabe-se que a ritalina ficou conhecida como um estimulante eficiente para tratar os diagnosticados com TDHA. Questiona-se o número alto de pessoas diagnosticadas com essa patologia. A indissociabilidade TDAH-ritalina, construída ao longo dos anos 1980 e 1990 fez com que a ampliação dos critérios diagnósticos para o TDHA necessariamente aumentasse o número das prescrições do metilfenidato.
A fim de melhor compreender os discursos brasileiros sobre o metilfenidato, os argumentos que justificam o seu uso, os autores analisaram os principais periódicos brasileiros de psiquiatria, assim como os principais jornais e revistas de grande circulação, nos períodos de 1998 a 2008. Percebeu-se que todas as publicações científicas analisadas pelos autores, que abordam o TDHA, confirmam, em seus resultados, a eficácia do uso do medicamento como terapêutica para o transtorno, e concluem que o medicamento é imprescindível no tratamento do transtorno. No entanto, apresentou-se uma preocupação com o excesso de diagnósticos e prescrição do estimulante, sobretudo, por envolver crianças. Especula-se sobre uma possível dependência ao uso do medicamento. O uso não-médico do medicamento não é abordado em nenhuma das publicações científicas pesquisadas pelos autores.
Ademais, os autores reconhecem que pessoas saudáveis (que não apresentam critérios para o diagnóstico de TDHA ou qualquer outra doença que justifique o uso do medicamento) passaram a utilizar esse fármaco para melhor desempenho acadêmico. No Brasil, não foram encontrados artigos científicos nem investigações epidemiológicas que abordem o assunto na realidade brasileira. A falta de cuidado com a segurança da medicação seria uma consequência do interesse comercial da indústria farmacêutica, que valoriza os benefícios dos remédios procurando ampliar a necessidade de consumo de seu produto.
Ressaltou-se, por fim, a alteração das fronteiras do que é moralmente aceito. De um uso lícito e controlado da droga, temos passado para um uso ilícito e abusivo. A expansão do uso da medicação para além dos limites da terapêutica e do objetivo de restituição da normatividade dos indivíduos afetados pelo transtorno tem suscitado amplo debate.
Comentários da Resenhista
O tema do artigo em questão repercutiu no cenário nacional poucos anos após a sua publicação, haja vista que em 2011, a ANVISA vetou temporariamente a fabricação de metilfenidato (ritalina). Tal proibição foi decorrente de um estranho consumo excessivo desse medicamento. Descobriu-se muitos diagnósticos de TDHA equivocados, cuja função não era terapêutica nem mesmo necessária, mas visava simplesmente atender os interesses da indústria farmacêutica.
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