A AVALIAÇÃO PÓS-ANESTÉSICA JÁ CHEGOU
Por: Julio Brandao • 12/8/2020 • Artigo • 1.210 Palavras (5 Páginas) • 226 Visualizações
A avaliação pós-anestésica já chegou.
Vera Azevedo
Cesar de Araújo Miranda
Julio Brandão
A avaliação pós-operatória ou serviço de avaliação pós-anestésica é um componente essencial aos cuidados perioperatórios. De fato, a anestesiologia é vista atualmente como uma especialidade perioperatória cada vez mais envolvida na determinação dos desfechos imediatos e a longo prazo. Entretanto, apesar dos cuidados pré-operatórios e o intraoperatório em si, já estarem bem estabelecidos como áreas de atuação rotineiras do anestesiologista, o mesmo não se pode dizer a respeito do período pós-operatório. Considerando que a analgesia, a manutenção da homeostase e a prevenção de complicações pós anestésicas constituem as principais metas a serem alcançadas pela nossa especialidade, e que tais metas encontram-se sob risco considerável no pós-operatório, torna-se imperativo um acompanhamento mais estreito também nesse período. Hoje está muito claro na literatura que o desenvolvimento do serviço de anestesia clínica dedicado a realizar avaliações pós-anestésicas melhora significativamente o serviço prestado aos nossos pacientes, trazendo muitas vantagens não só para o paciente, mas também para todos os participantes envolvidos.
Atualmente a avaliação pós-anestésica está disseminada na maior parte dos serviços de anestesiologia em países desenvolvidos e nos grandes centros de pesquisa clínica demonstrando uma forte tendência na implantação deste tipo de serviço também nos paises em desenvolvimento.
Geralmente nos serviços onde o anestesiologista não acompanha os pacientes no pós-operatório, o manejo da dor e das náuseas e vômitos, por exemplo, muito frequentemente fica a cargo do cirurgião assistente, sendo que tais cuidados, em geral, não são o foco de atenção e estudo dos cirurgiões, ficando frequentemente em segundo plano. Assim, o desconforto e o cuidado inadequado são mais comuns. Da mesma maneira, a prescrição inapropriada, desmedida e indiscriminada de opióides traz todas as suas consequências ruins deletérias para o paciente, podendo, inclusive, determinar retardo da alta hospitalar, como já bem descrito na literatura. Alem disso, a estratificação e diversificação dos tratamentos da dor e de náuseas e vômitos pós-operatórios(NVPO) também não são priorizados, fazendo com que as taxas de controle álgico e a incidência de NVPO ainda sejam relativamente altas, em contraste com a queda relacionada aos serviços onde o anestesiologista também trabalha no pós-operatório acompanhando os pacientes com a sua expertise e experiência em tais cuidados.
Há tempos percebeu-se que dados comparativos sugeriram que as visitas pós-operatórias realizadas por anestesiologistas podem melhorar a satisfação do paciente, o que faz toda diferenca na avaliação e acreditação hospitalar, tanto em termos numéricos como práticos. No entanto, faltam dados na literatura sobre vários componentes dessas visitas; ainda não está claro com que frequência os anestesiologistas devem realizar avaliações pós-operatórias, onde devem ser realizadas e se elas servem ou não como um meio efetivo na detecção de complicações relacionadas à prática da anestesiologia. Nos Estados Unidos, as agências reguladoras como os centros de Medicare e Medicaid Services (CMS) e The Joint Commission (TJC) exigem que as avaliações pós-operatórias sejam realizadas após cada anestesia dentro de um período de tempo especificado. Muito comumente elas são realizadas em torno de 24h após o procedimento anestésico, desde que o paciente não tenha efeitos residuais como sedação. Recomenda-se que ela seja feita antes das 48h iniciais após o procedimento, mesmo que o paciente esteja numa UTI e sedado.
A realização da visita e a sua documentação apropriada em prontuário determina melhores condutas e abordagem da dor, NVPO e outras complicações, além de interferir diretamente na acreditação do hospital. À medida que os encargos regulatórios no setor de saúde continuam a aumentar, um modelo sistemático para garantir o cumprimento de tais exigências torna-se cada vez mais necessário. Podemos ainda analisar que tal implementação pode gerar economia, uma vez que o controle adequado da ansiedade, dor, NVPO, etc poderá promover uma alta mais precoce e efeitos adversos menores em função do uso racional de terapias medicamentosas, além de trazer melhor satisfação ao paciente/cliente. Um serviço de acompanhamento pós-operatório robusto é parte integrante de um programa de garantia de qualidade tanto para o departamento de anestesiologia quanto para o hospital. O acompanhamento apropriado do paciente e a documentação da visita são consistentes com o ambiente de saúde em evolução no mundo atual e tão exigente.
O acompanhamento pós-operatório do paciente ganhou importância crescente pois os órgãos reguladores e os pagadores colocam maior ênfase na melhoria da qualidade, em relatórios com os resultados e na redução dos custos dos cuidados. As condições da CMS para participação nos serviços de anestesia descrevem quem pode completar a avaliação, o período de tempo dentro do qual precisa ser completado (48h) após a cirurgia e requisitos de documentação específicos do paciente, como inclusão dos sinais vitais dos pacientes, estado mental, avaliação da dor, náuseas e vômitos e complicações outras.
Assim, diversos scores de avaliação pós-operatórias foram criados para mensurar o conforto, a melhora, a recuperação e a satisfação dos pacientes no pós-operatório, focando em diferentes pontos, incluindo os questionarios QoR, QoR-40, etc.
A avaliação pós-anestésica costuma ser curta, rápida, com parte dos dados já contidos nos prontuários(sinais vitais, outras avaliações médicas, etc.), ficando para o anestesiologista basicamente as perguntas mais inerentes a sua área, incluindo conforto, dor, PONV, ansiedade, prurido, etc. Assim, aumenta-se a mensuração das informações mais relevantes sobre eventos adversos, pontos para melhorias e implementacoes, etc.
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