A Violência na Adolescência

As raízes da violência remontam interações entre diversos fatores biológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos. Muito já foi estudado a respeito das raízes, sendo os fatores causais mais estudados as variáveis sociais, demográficas e econômicas. Porém vários estudos que correlacionam a violência, com recorte na faixa etária dos  adolescentes, e fatores como desigualdade social, densidade populacional e desemprego apresentam resultados contraditórios. Exemplos disso no Brasil, como o Rio de Janeiro, onde a desigualdade social representada pelo índice de Gini e homicídios mostram-se positivamente associados, enquanto em São Paulo observa-se forte correlação negativa entre taxas de homicídios em adolescentes e índice socioeconômico. Já em Belo Horizonte, estudos mostram que as condições socioeconômicas em si não são responsáveis pelos homicídios, mas sim o fato de áreas carentes serem também assoladas pelo tráfico.

Embora os dados e associações ainda não cheguem aos resultados satisfatórios que expliquem o atual cenário, é necessário aprofundamento em tais estudos epidemiológicos, dado os altos custos que a violência impõe às economias nacionais: 2% do PIB brasileiro é direcionado para  gastos de serviços de saúde(1996-1997) devido a atos violentos. Importante ressaltar que, para  medir o impacto econômico representado por acidentes e violência,  utiliza-se dados de gastos hospitalares com internação. A exemplo, no Brasil, em 2006, esse gasto no SUS foi de quase 74 milhões de reais, sendo as principais causas das mortes por fatores externos os acidentes de transporte e quedas acidentais.

Para além do impacto econômico gerado pela violência, estatísticas mundiais evidenciam que países pobres ou em desenvolvimento têm populações com maiores riscos de sofrer atos violentos. No que se refere ao Brasil, mortes por causas externas(homicídios, suicídios e acidentes de trânsito) passaram a ocupar importante papel na estrutura de mortalidade do país após a década de 80 e, especificamente, a morte por homicídio passar a ser a principal causa de óbito de brasileiros de 1 a 39 anos.  No que tange à faixa etária dos jovens(15 a 29 anos), representam a maior taxa de vítimas de homicídio, sendo maior esse percentual no sexo masculino(de 4 a 5 vezes maior que na feminina).

Percebe-se, a partir da análise dos dados, que tal percentual possui histórico antigo no país, remontando a década de 50 e 60, no Rio de Janeiro e em São Paulo respectivamente, quando esses índices entraram em ancensão. Antes da década de 80, a morte por acidentes de transporte compunha uma maior percentagem que mortes por homicídios no índice de mortes por causas externas em adolescentes. A partir da década de 80, ocorre uma inversão, e  a morte por homicídio passa a ser prevalente. Já  em uma análise regional, as regiões Sudeste e Centro-Oeste possuem as maiores taxas de mortalidade por homicídios em adolescentes(aproximadamente 50% dos óbitos foram homicídios), sendo a maioria no gênero masculino(92,1% dos homicídios em 2005). No estudo de morte de adolescentes por estado, Rio de Janeiro, Pernambuco e Espírito Santo possuem os maiores percentuais, já Tocantins, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte os menores percentuais. No Rio de Janeiro as taxas são estáveis e altas, enquanto na maioria dos outros estados o aumento observado no período(1990-2005) foi bem expressivo(2 a 3 vezes mais elevadas), a exceção de Roraima e São Paulo, que nos últimos 5 anos do período em questão, apresentou decréscimo na taxa). Dentro da análise das mortes nessa faixa etária, cabe também o recorte de raça/cor, dado que 60% das mortes evidenciadas nesses dados acometem a população parda.