ANÁLISE ÉTICA DAS DOENÇAS NEGLIGENCIADAS
Por: Bruna Coêlho • 30/4/2020 • Trabalho acadêmico • 1.210 Palavras (5 Páginas) • 201 Visualizações
CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU
CURSO DE MEDICINA
BRUNA FERNANDES COÊLHO
ANÁLISE ÉTICA DAS DOENÇAS NEGLIGENCIADAS
RECIFE
2019.2
ANÁLISE ÉTICA DAS DOENÇAS NEGLIGENCIADAS
Bruna Fernandes Coêlho[1]*
Há tempos a humanidade é açoitada por patologias associadas à pobreza, que se proliferam às margens da sociedade, sendo tal fenômeno um grande marcador da exclusão social. A Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs a denominação doenças negligenciadas para fazer referência àquelas doenças tropicais endêmicas que recebem pouca ou nenhuma prioridade, pois apresentam baixa taxa de mortalidade. A prevalência de tais morbidades ocorre especialmente em regiões de pobreza, mas não afetam exclusivamente os indivíduos menos abastados. A OMS descreve dentro dessa classificação uma lista com dezessete enfermidades consideradas negligenciadas, são elas:
Cisticercose |
Dengue |
Doença de Chagas |
Dracunculíase |
Equinococose |
Esquistossomose |
Filariose linfática |
Hanseníase |
Helmintíases transmitidas pelo solo |
Hidrofobia |
Infecções alimentares por trematódeos |
Leishmaniose |
Oncocercose |
Tracoma |
Treponematoses endêmicas |
Tripanossomíase humana africana |
Úlcera de Buruli |
A Medicina é uma ciência que tem por escopo servir à humanidade, e não dela se servir; está a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e deve ser exercida sem discriminação de qualquer natureza. Pauta-se, a Medicina, em quatro princípios fundamentais: princípio da não-maleficência, princípio da beneficência, princípio da autonomia e princípio da justiça.
A lista de patologias apresentada elenca doenças que já foram amplamente prevalentes. Muitas, porém, desapareceram gradualmente em inúmeras partes do mundo, à medida em que as sociedades se desenvolveram, bem como a ciência e a disseminação de medidas básicas de higiene se alastraram pelo globo. Atualmente, embora uma grande parcela da população ainda permaneça vulnerável a tais doenças, estas seguem ocultas aos holofotes sociais e políticos, ainda que não possam se esconder do olhar pungente da Ética.
Além de invisíveis aos olhares sociais e políticos, as “negligenciadas” são silenciosas, já que a maioria dos enfermos não têm voz na seara política. Ainda, por estarem associadas a contextos tropicais empobrecidos, não se espalham para países distantes e mais desenvolvidos, não causando maiores impactos coletivos ao afetarem viajantes.
Apesar de serem muito devastadoras para a população de risco, são pouco conhecidas e são mal estudadas em outros locais. Há enorme necessidade de prevenção e de tratamento, mas a pobreza dos que são afetados limita o acesso aos serviços de saúde adequados. Da mesma forma, doenças associadas à pobreza oferecem pouco incentivo aos investimentos na inovação de produtos que visem prevenção e combate de doenças tropicais, pois o público desse mercado que não pode pagar pelos produtos dos quais carece. Percebe-se, então, que sem perspectiva de retorno financeiro, não há interesse para as indústrias como a farmacêutica.
As consequências desse olhar descuidado são avassaladoras tanto para a população afetada, quanto para o sistema de saúde responsável por esses flagelados. Além dos custos com tratamentos, a nação sofre forte impacto econômico quando há sequelas irreversíveis e os indivíduos incapacitados são obrigados a abandonar o emprego. A Declaração do Milênio e seus Objetivos reconhecem a contribuição da saúde para o objetivo abrangente de redução da pobreza. Os esforços para controlar as doenças tropicais negligenciadas constituem uma estratégia de grande alcance em favor das populações pobres. A lógica mudou: ao invés de esperar pelo desaparecimento gradual dessas doenças, à medida em que os países se desenvolvem e as condições de vida melhoram, considera-se agora que um esforço deliberado para provocar seu desaparecimento é um caminho para a diminuição da pobreza que pode, por si mesmo, impelir o desenvolvimento socioeconômico.
A OMS objetiva disseminar as melhores condições de saúde para todos, o que apresenta inúmeros desafios a serem enfrentados para que sejam mantidas e ampliadas as atuais conquistas na prevenção e controle das doenças negligenciadas. Por conta das restrições econômicas das regiões mais afetadas, o apoio dos países mais desenvolvidos é fundamental para que as doenças tropicais negligenciadas sejam, enfim, vencidas.
A Bioética se lançou no enfoque coletivo a partir da década de 1990, fortalecendo-se na década seguinte, transformando-se numa Bioética voltada para questões de desigualdade social e equidade, justiça social, responsabilidade individual e coletiva sobre os cuidados de saúde, alocação e priorização de recursos escassos, pobreza, racismo, saúde pública e políticas sociais e sanitárias. Enquanto forma de valorização da vida, a Bioética deve estabelecer forte relação com as questões que impactam diretamente nas condições de saúde das populações, em especial daquelas mais pobres, não podendo se restringir às questões exclusivamente biomédicas.
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