Agroecologia

1. Introdução

Na feira orgânica das Graças, localizada no Recife, funciona a barraca de produtos do Senhor Jones Pereira, e foi no trabalho desenvolvido por ele, com ajuda do Instituto Sabiá, que se materializou a base deste trabalho sobre decrescimento e agroecologia. Junto com a sua esposa, ele comercializa alimentos orgânicos preparados por ela, na cozinha do seu sítio, localizado na divisa das cidades de Abreu e Lima e Igarassu, com produtos que são fruto do trabalho de plantação e cultivo desenvolvido por ele.

Mesmo não se autodenominando como alguém que pratica o decrescimento e a agroecologia, foi possível identificar várias características e conceitos estudados, nas práticas desenvolvidas pelo Senhor Jones no seu sítio e no seu comércio. Mesmo obtendo lucros com as vendas, ele não busca o lucro pelo lucro, como é a sociedade neoliberalista; que na ânsia pelo benefício financeiro não se preocupa em fazer uso de práticas ambientalmente conscientes.

Com o estudo, é possível observar o trabalho de alguém que possui uma cooperativa com integração vertical, pois realiza toda a cadeia do processo produtivo, desde o plantio da matéria prima até a produção e venda, que foca em obter o sustento do seu negócio e de sua família, sem agredir o ambiente, sem produzir excedente, sem tirar da natureza mais do que ela pode oferecer.

Como defendem o decrescimento e a agroecologia, a vida do ambiente é valorizada. Nas palavras do Senhor Jones: "Essa vida é mais importante do que a minha vida, pois a minha vida depende dela". Assim como a vida da planta, toda a vida que encontramos na natureza deve ser protegida e valorizada da mesma forma que a do ser humano. Então, respeitando o meio ambiente e trabalhando de forma com que ele dê frutos para as próximas gerações, foi verificado os objetivos semelhantes aos dos aprendidos em sala de aula - o decrescimento e a agroecologia - e que vão de encontro à crise ecológica em que o mundo se encontra nos dias de hoje.

Devido a esse estudo, será possível analisar com mais propriedade a cooperativa que desenvolve produtos de qualidade, extraindo frutos do meio ambiente, mas respeitando os seus limites. O foco está na produção do necessário para a sobrevivência, de forma inovadora, sempre se questionando o que pode ser feito para que se possa alimentar o ambiente com tudo o que ele precisa para depois obter os ganhos que este pode oferecer, ao invés de explorar os recursos naturais na busca do maior retorno financeiro possível.

O objetivo do trabalho é mostrar que é possível, através de práticas inovadoras, desenvolver novos produtos, extrair bens da natureza, obter ganhos financeiros, obter realização pessoal e profissional e atingir metas, sem causar danos ao meio ambiente, realizando todo o trabalho de forma consciente, considerando que muitas vidas e gerações, dependem do consumo responsável e de boas práticas ambientais.

2. Características

Os sistemas de agroflorestas vêm sendo desenvolvidos ao redor do mundo e apresentam resultados surpreendentes. Esse tipo de cultura tem duas características fundamentais: a observação da natureza e a replicação das atividades de seleção natural. Enquanto uma produção convencional se baseia na monocultura, a agrofloresta parte do princípio de que a natureza desenvolveu seu próprio sistema e foi ele quem sobreviveu por tantos anos. Com isso, os pesquisadores apontam que a existência de um ciclo equilibrado é fundamental para a existência saudável de espécies dos mais diversos tipos de cultura.

Um dos fatores apontados por Jones e outros aplicadores desse formato é que não se observam pragas dominando as regiões onde a agrofloresta foi implantada. Quando se observam os grandes produtores, é muito comum identificar pragas que devastam a lavoura e só são controladas com grandes investimentos em insumos agrícolas e químicos industriais. A grande diferença dessas formas produtivas não é a ausência das pragas, mas a forma como coexistem com o meio. Enquanto numa grande fazenda de soja se produz apenas esse tipo de cultura, suas pragas se desenvolvem sem controle, sem qualquer predador e com abundancia de alimento. Já na agrofloresta, existe um controle natural onde várias espécies convivem no mesmo ambiente.

O relato do Senhor Ernst Gotsch, um pesquisador que se mudou para o Brasil e hoje pratica o sistema, aponta exatamente o que foi citado no parágrafo anterior. Em um de seus sistemas é possível ver uma praga que assolaria toda uma plantação de bananas, mas logo em seguida ele aponta para uma aranha, predador natural da praga. Além disso, ele aponta como foi possível fazer controle do pH do solo apenas selecionando espécies reguladoras, como o Abacaxi, e em seguida inserindo outras espécies até que o solo fosse totalmente recuperado. Em seu relato, aponta que não obteve sucesso com produtos químicos.

Este tipo de observação da coexistência entre as espécies faz parte do pensamento quase filosófico sobre a maneira como a natureza trabalha. Os agricultores não limpam o terreno assim como numa cultura comum, aqui é realizado a chamada capinação seletiva. Este trabalho corresponde à um estudo sobre as características do terreno e da região. Limpa-se o chão retirando espécies não benéficas para o desenvolvimento e também é realizada a poda das plantas com o objetivo de organizar os estratos de acordo com o estágio de desenvolvimento da área. Apesar de não serem espécies desejadas, esse material orgânico retirado do chão é picotado e usado para cobrir novamente a terra, juntamente com as folhas e galhos retirados nas podas. Esse processo ajuda a floresta no seu desenvolvimento, garantindo que o solo fique rico em nutrientes e não permita o contato direto com o sol, evitando seu ressecamento.

Outro ponto importante é a estratificação, que se trata da organização da floresta em camadas. Como a criação de ambientes deste tipo demoram anos, os agricultores realizam podas e selecionam espécies de acordo com o nível de estratificação desejado. Além disso, dependendo da região e do nível de desenvolvimento, algumas culturas podem ser retiradas da área para incentivar o crescimento de outras espécies

Sendo assim, os sistemas agroflorestais criam condições ideais que aceleram um processo natural, desenvolvendo de forma rápida uma série de culturas diferentes e que convivem entre si.

Com relação aos produtos oriundos do sítio de Senhor Jones, a maioria deles são transformados para serem comercializados.