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Saúde Mental E Coletiva

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Por:   •  30/9/2014  •  Resenha  •  1.590 Palavras (7 Páginas)  •  223 Visualizações

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O depósito de pessoas, o abrigo dos rejeitados, as pessoas-problemas tem uma solução, os hospitais psiquiátricos, a internação.

Este modelo de atendimento ao louco esconde questões referentes a outros níveis de problemas sociais – como o sócio-econômico. A ideia terapêutica da internação, apoia-se em uma suposta ajuda, a qual pode ser considerada uma artimanha para a exclusão do sujeito. Desta forma os hospitais passam a encobrir às “partes frágeis da comunidade”, uma vez que os problemas relacionais são invisíveis frente ao problema da loucura.

Desta forma, o louco recebe destaque, torna-se um perigo para a comunidade. O imaginário social representa o louco como perigoso, este mesmo imaginário agride o louco e apresenta ao mesmo uma visão de si, ou seja, o próprio louco reconhece-se como agressivo frente ao si próprio, frente a comunidade.

Neste contexto o ser louco é transformado em coisa ao adentrar os hospitais, deverá seguir o modelo regido na instituição, logo o que diferencia o louco do não louco nos hospitais psiquiátricos é o jaleco branco, visto que estas instituições são para loucos, assim sendo precisa-se de algo para diferenciar aqueles que não são loucos, o jaleco tem essa função.

Outra questão é segregação, a qual demonstra-se ser tranquilizadora para o não louco, o comum das pessoas representa o sadio e o sadio é não ter doença, a segregação garante a sanidade dos não loucos, pois confirma o estado não-doente.

Neste sentido, a compreensão que tem-se de doença mental está associada à de normalidade cultural, consequentemente entende-se a psicopatologia a partir da lógica do desvio, ou seja, doente mental é aquele que não comporta-se de forma socialmente aceitável, logo o louco será aquele que não segue as concepções dominantes de saúde mental. Para que o doente mental possa ser aceito na comunidade, será preciso que este corrija seu modo-de-ser, reforme-se. Essa reforma no modo-de-ser do louco se dá através de uma terapêutica punitiva, mas por receber o nome de terapêutica pouco questiona-se, já que tal palavra parte de um saber médico, saber inquestionável.

Por fim, percebe-se que nessa lógica de tratamento em doença mental, apenas o internamento não é suficiente, precisa-se reformar esse louco. A exclusão das suas relações familiares e sociais caracteriza-se como uma primeira punição, a segunda punição será a reforma sofrida pelo doente mental nos hospitais. Neste sentido nunca buscou-se compreender a loucura, esta fora tratada, apenas tratada.

Na lógica de tratamento, o psiquiatra apresenta-se como um profissional tecnicista, preparado para operar o maquinário das ditas terapias, entretanto dificilmente estará preparado para compreender às relações no modo-de-ser louco. Desta forma, invalida-se a liberdade e a possibilidade de autonomia do louco, pois esse é incapaz de viver sem o apoio de terceiros, seja da família ou das instituições de tratamento.

A partir desta concepção, se estabelece um local para o louco, um local simbólico que por ele deverá ser preenchido, portanto nos contextos relacionais o doente mental apresenta-se como um reflexo do próprio grupo. Desta forma entende-se que esse sujeito será vítima, fará parte do contexto relacional de determinado grupo e exercerá um papel fundamental no reconhecimento dos não loucos, pois o doente mental será o ponto de referência na diferenciação de loucura e sanidade no próprio grupo, do qual o louco faz parte.

O local simbólico do louco é dado pela sua invalidez, incapacidade de ser autônomo, produção do imaginário social, o local geográfico para o louco é expresso na hospitalização. Será durante o período no hospital que o ser louco receberá a confirmação de uma identidade, a qual antes poderia ser apenas uma hipótese, no hospital será confirmada pelo diagnóstico.

Assim sendo, toma-se a doença como a totalidade do ser, ou seja, o louco só será reconhecido pela sua patologia. Nesta perspectiva, compreende-se que a partir do momento em que confirma-se o diagnóstico, os problemas aumentam, se antes pensava-se em atos de rebeldia, com o diagnóstico pensa-se em patologia. Nestes casos o diagnóstico representa ações discriminatórias e estigmatizantes, as quais o louco irá vivenciar ao longo da sua vida.

Portando, enfatiza-se a violência vivida pelo louco, desde a exclusão no contexto familiar até a hospitalização. Está violência é fruto de um contexto sócio-histórico e cultural, produto de uma resistência em tentar compreender o processo de adoecimento, visa-se curar sem ao menos realizar estudos que aprofundem o conhecimento, não apenas nos sintomas, mas compreenda de maneira mais ampla a condição de doença. Nega-se um problema na tentativa de resolvê-lo, beneficia-se desta negação, pois em um contexto geral vivido pela comunidade, afastar o problema é a mais eficaz solução.

Logo a criação dos hospitais contribui para a condição de invalidez vivida pelos pacientes, parte-se de uma necessidade pro próprio hospital em manter os loucos hospitalizados, pois se não há pacientes não existe hospital. Desta forma o hospital psiquiátrico caracteriza-se apenas sob a função de internação.

Outro ponto referente a internação é a adoção do modelo médico no tratamento das “doenças psíquicas”, modelo este apropriado para tratar de aspectos sintomáticos. A psiquiatria trabalha visando a ausência, logo, visa apenas a doença, visto que o ser saudável é aquele que não é doente.

Neste sentido, um ponto importante sobre a loucura é a faceta que mascara outros problemas, à medida que a comunidade aponta determinado sujeito como louco, este será detentor de um problema, ou seja, o problema está no louco, a comunidade confirma sua crença: não há problemas interpessoais nas relações entre seus membros, o louco é o único problema. Contudo, ressalta-se que existe fatores orgânicos que fazem porte da doença mental, porém apenas fatores orgânicos não serão suficientes para entender a complexidade do adoecer psíquico. Assim sendo, o relacionamento com os outros não deverá ser excluído nos estudos e trabalhos com saúde mental, assim como as questões orgânicas.

Neste sentido, pode-se concluir que os hospitais funcionam para atender uma demanda da própria comunidade. O hospital transformou-se em uma instituição total, em que a única forma de tratar da loucura

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