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Sindrome Do Intestino Grosso

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Por:   •  26/5/2014  •  6.903 Palavras (28 Páginas)  •  404 Visualizações

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Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7330

TANNURI U

RESUMO – OBJETIVO. Em 1979 o autor utilizou, pela primeira vez no Brasil, a nutrição parenteral prolongada domiciliar em criança. O objetivo deste trabalho é o de apresentar a experiência da utiliza- ção deste método no tratamento de crianças com síndrome do intestino curto nos últimos 23 anos. MÉTODOS. Dezenove crianças com esta afecção (ressecção de mais de 75% do comprimento intestinal) foram tratadas inicialmen- te em hospital e a seguir no próprio domicílio. Os períodos totais de terapia nutricional variaram de quatro meses a quatro anos e meio, enquanto que as crianças permaneceram em nutrição parenteral domiciliar por períodos que variaram de uma semana a quatro anos, com mediana de oito meses. As soluções nutrientes completas, contendo aminoácidos, glicose, emulsão lipídica, eletrólitos, vitami- nas e micro-elementos foram administradas através de catéteres venosos centrais do tipo Broviac ou Hickman. No domicílio, as soluções foram administradas durante o período diurno ou noturno, segundo a preferência dos familiares. RESULTADOS. Em todos os casos verificou-se ganho ponderal,

INTRODUÇÃO A síndrome do intestino curto representa condição clínica muito grave, caracterizada pela deficiente absorção intestinal de nutrien- tes e que na criança leva ao óbito por desnutri- ção grave, se não adequadamente tratada. Alguns autores preferem a denominação de “síndrome do intestino encurtado”, em virtude do problema ser geralmente decorrente de ressecção de extensos segmentos intestinais. As causas desta síndrome incluem afecções congênitas e adquiridas que resultam em per- das de grandes áreas de superfície de absorção intestinal, tanto in útero quanto pós-natal. Até o final da década de 60, pratica- mente todas as crianças com esta síndrome faleciam por impossibilidade de suporte nutricional adequado. A partir de 1968, com a descrição do primeiro caso de nutri-

ção endovenosa por tempo prolongado em um recém-nascido com atresias intes- tinais múltiplas e conseqüente intestino curto congênito, passou-se a se obter índi- ces progressivamente maiores de sobre- vida em crianças com esta afecção e outras disfunções intestinais graves. A seguir, gra- ças ao melhor conhecimento dos mecanis- mos fisiopatológicos da absorção dos nu- trientes, percebeu-se a utilidade do uso clínico das dietas elementares, quimica- mente definidas e desprovidas de resídu- os, em pacientes com síndrome do intesti- no curto. Tais dietas foram primariamente formuladas para a primeira viagem do ho- mem à Lua, em 1969. Em 1970, foi descrita pela primeira vez a possibilidade de utilização da nutrição paren- teral prolongada no domicílio do paciente. Nos primeiros casos, as soluções nutrientes eram administradas através de shunts veno- arteriais, semelhantes aos utilizados para hemodiálise em pacientes com insuficiência renal crônica. Este programa terapêutico foi

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crescimento e desenvolvimento satisfatórios, semelhantes aos obtidos durante nutrição oral. Obstruções do cateter, altera- ções hepáticas e infecção devida ao cateter foram as complica- ções mais freqüentes. Sete crianças (37%) sobreviveram e estão fora de tratamento. Doze crianças faleceram (dez com resecção total do intestino delgado), sendo 11 por complica- ções relacionadas à nutrição parenteral (nove por infecção sistêmica e dois por embolia pulmonar maciça) e uma por complicação neurológica, dois meses após transplante duplo de intestino e fígado. CONCLUSÃO. A nutrição parenteral domiciliar em crianças com síndrome do intestino curto traz indiscutíveis benefícios, permite redução do período de internação hospitalar, tornando possível a adaptação funcional do intestino remanescente e manutenção do estado nutricional com a via oral exclusiva.

UNITERMOS: Nutrição parenteral domiciliar. Pediatria. Suporte nutricional. Síndrome do intestino curto.

Artigo Original SÍNDROME DO INTESTINO CURTO NA CRIANÇA - TRATAMENTO COM NUTRIÇÃO PARENTERAL DOMICILIAR

UENIS TANNURI Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP e na clínica particular do autor, São Paulo, SP.

denominado “intestino artificial”. Entre os pa- cientes estudados, nesta fase inicial, dois deles eram crianças portadoras de afecções intesti- nais crônicas graves1. Durante a década de 70, alguns pacientes submetidos à ressecção total do intestino del- gado, com anastomose do duodeno com o colo ascendente, puderam sobreviver por períodos prolongados de até cinco anos graças à utilização das fístulas veno-arteriais.2 Entre- tanto, verificou-se que a trombose dos shunts ocorria em todos os casos em virtude da alta osmolaridade das soluções infundidas, o que tornava inviável a continuidade do tratamento. Tal complicação não ocorre em pacientes re- nais crônicos, em decorrência da constante hipervolemia e da reduzida adesividade plaquetária, alterações características dos urêmicos crônicos. A partir de 1976, os autores passaram a usar, com indiscutíveis vantagens, cateteres especiais de silicone introduzidos até o átrio direito, conhecidos universalmente como ca- teter de Broviac ou Hickman, em virtude das

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SÍNDROME DO INTESTINO CURTO NA CRIANÇA

modificações introduzidas por esses autores. Graças a estes dispositivos tornou-se possível a realização da terapêutica nutricional endo- venosa por períodos de vários anos, com a possibilidade de tratamento no domicílio do paciente, o que constituiu um marco impor- tante no tratamento de pacientes com síndrome do intestino curto3-5. No Brasil, a nutrição parenteral domicili- ar foi utilizada pela primeira vez pelo autor em 1979, em criança submetida, com 24 horas de vida, à ressecção total de intestino delgado e ceco devido à necrose irreversível causada por volvo do intestino médio. Após período inicial de nutrição endovenosa em hospital durante sete meses, a criança foi conduzida ao seu domicílio para continuida- de do tratamento. Após este caso inicial, pôde-se constatar os inquestionáveis benefí- cios da terapia nutricional domiciliar além do maior conforto propiciado aos familiares6. Nos últimos cinco anos, o surgimento das empresas especializadas em assistência mé- dica no domicílio do paciente (“home-cares”) ampliou as perspectivas e possibilidades de realização

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