Associação entre a recessão gengival e o movimento ortodôntico
Por: Irene Brito • 21/3/2016 • Monografia • 7.512 Palavras (31 Páginas) • 625 Visualizações
1. INTRODUÇÃO
Em razão dos avanços técnico-científicos obtidos nos últimos anos, no âmbito da Odontologia, são estabelecidos padrões estéticos bastante rigorosos tanto para os dentes anteriores como para os dentes posteriores. Com isso exige-se dentes com tonalidades mais claras, bem contornados e alinhados estabelecendo um padrão de beleza, de apresentação pessoal e saudável.
A estética encontra-se intimamente relacionada ao sorriso, a relação harmônica entre dentes, gengiva, lábios e face como um todo. A falta de harmonia entre esses componentes pode provocar implicações psicológicas ao indivíduo, que variam desde uma simples forma de disfarçar o problema até uma introversão total, anulando completamente a desenvoltura social.
Neste contexto, destaca-se o tratamento ortodôntico cujos objetivos incluem a obtenção da estética e da harmonia facial, oclusão funcional satisfatória, função mastigatória eficiente, estabilidade em longo prazo e saúde dos dentes e das estruturas adjacentes. Enfim, alcançar resultados estéticos e oclusais satisfatórios. Em relação ao posicionamento dentário, prioriza-se a obtenção de dentes verticalizados, raízes paralelas e mínimos danos às estruturas de suporte e dentárias Para alcançar essas metas é necessário que se obtenha controle do movimento dentário, dos sistemas de forças aplicados nos dentes e que se compreenda a forma como esses se deslocam.
Outra especialidade da Odontologia que acompanha essa tendência é a Periodontia, que deixou de ser somente curativa para dar enfoque a aspectos estéticos e funcionais em áreas dentadas e em espaços edentados de bocas dentadas, conforme a última classificação das doenças periodontais, editada pela Academia Americana de Periodontia, em 1999.
As considerações feitas para essas duas especialidades se justificam em razão de haverem indícios que o movimento ortodôntico seria um possível fator de risco para a perda de tecidos periodontais, fazendo surgir um problema muito freqüente e complexo, de caráter estético e funcional, que em muitos casos é de difícil resolução, denominado recessão gengival que se caracteriza como sendo a posição apical da margem gengival em relação à junção cemento-esmalte, com conseqüente exposição da superfície radicular ao meio bucal.(1, 2, 3, 4, 5)
Contudo, tal hipótese encontra-se em plena discussão na comunidade científica, existindo resultados divergentes em diversos estudos clínicos e experimentais.(6) Reconhecendo essa divergência de opiniões entre os pesquisadores, objetiva-se no presente estudo realizar uma revisão da literatura, avaliando trabalhos que se propõem a relacionar à influência do movimento dentário através de forças ortodônticas na etiologia das recessões gengivais.
É fato que o tratamento ortodôntico, assim como o periodontal, visam alcançar resultados estéticos e oclusais satisfatórios. Assim sendo, a investigação de alterações decorrentes de um destes que, por sua vez, interfere no outro, torna-se de suma importância.
No presente estudo, parte-se do pressuposto que o tratamento interdisciplinar Ortodontia e Periodontia se faz necessário, estabelecendo um efetivo programa de manutenção periodontal, assegurando danos mínimos aos tecidos envolvidos durante a mecânica.
A ortodontia e a periodontia são duas especialidades da Odontologia que se dependem da biologia dos tecidos periodontais para obterem resultados terapêuticos. Nesse sentido, estas áreas, em um contexto mais amplo de saúde, não deveriam predispor ou agravar problemas pré-existentes.
2. PROPOSIÇÃO
Objetiva-se no presente estudo realizar uma análise crítica da literatura, a fim de verificar uma possível associação entre a recessão gengival e o movimento ortodôntico.
3. METODOLOGIA
Foi realizada uma busca on-line da literatura científica a partir das principais bases de dados em saúde pública: Medline (Literatura Internacional em Ciências da Saúde), Lilacs (Literatura Latino-americana em ciências da Saúde) e BBO (Bibliografia Brasileira de Odontologia). De forma complementar à busca, foram consultados livros-texto especializados na temática.
Para as consultas nas bases de dados foram utilizados os seguintes descritores: movimento, movimentação, ortodôntico, ortodôntica, dentário, dentária, recessão, gengival, retração, periodontal (e seus sinônimos em inglês).
A pesquisa compreendeu um corte histórico de estudos publicados entre a década de 90 e o ano atual.
4. REVISÃO DE LITERATURA
4.1. Recessão Gengival
Conceitua-se recessão gengival como uma alteração caracterizada pelo deslocamento da margem gengival apicalmente em relação à junção cemento-esmalte, com perda de fibras da inserção conjuntiva.(7) A conseqüência desta alteração se traduz na exposição da superfície radicular ao meio bucal, ocasionando na maioria dos casos hipersensibilidade dentinária e comprometimento estético.(2) Por conseguinte, a sensibilidade térmica e táctil aumentada pode interferir na realização de hábitos diários de higiene oral, proporcionando o acúmulo de placa, aumento do risco de desenvolvimento de cáries radiculares e inflamação gengival.(8.9)
Há que se ressaltar que a sensibilidade dentinária associada à exposição da superfície radicular, causando dor provocada e, às vezes espontânea, leva um desconforto extremo ao paciente, que na maioria encontra-se na faixa etária adulta, em média 40% a 90%.(9) Essa alta incidência de recessão gengival na população adulta é confirmada no estudo epidemiológico realizado por Araújo et al.(10), que avaliando os níveis desta alteração em 110 estudantes do Curso de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco, concluíram que 83,6% dos pesquisados a apresentavam.
Em um outro estudo, cuja amostra foi constituída por 380 indivíduos na faixa etária acima de 20 anos, submetidos a uma avaliação clínica em todos os dentes, considerando as quatro superfícies (mesial, vestibular, distal e lingual), foi observado que recessão gengival, definida como mais de 1mm de raiz exposta, encontrava-se presente em pelo menos uma superfície dentária em aproximadamente 89% dos pesquisados. A prevalência, extensão e severidade desta condição clínica aumentaram com o avanço da idade.(9)
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