AS PRINCIPAIS ZOONOSES OCORRENTES NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS: revisão de literatura
Por: Pâmela Karine • 8/3/2021 • Trabalho acadêmico • 4.952 Palavras (20 Páginas) • 316 Visualizações
PRINCIPAIS ZOONOSES OCORRENTES NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS: revisão de literatura
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a Saúde Pública Veterinária é a soma de todas as contribuições para o completo desenvolvimento físico, mental e bem-estar social do homem e animal. Suas principais atribuições estão relacionadas à vigilância epidemiológica de doenças zoonóticas e emergentes, bem-estar animal e segurança biomédica e alimentar. Quanto às zoonoses, o Médico Veterinário desempenha papel importante no diagnóstico, controle e vigilância, realizando estudos epidemiológicos e análise de dados, desenvolvimento e implantação de programas de educação em saúde e controle populacional de cães e gatos. Assim, os sistemas de vigilância em saúde animal se compõem como importantes medidas na promoção da sáude coletiva, visto que estes são reservatórios de diversas doenças que podem ser transmitidas para o homem (GUIMARÃES et al., 2010). A crescente urbanização, industrialização e avanço da pecuária para áreas de floresta constituem fatores de risco para a reemergência de doenças por causar desequilíbrios ambientais. A presença de animais silvestres com maior proximidade à comunidades, a aquisição de animais de companhia provenientes do tráfico e comércio ilegal, a permanência de animais legalizados em cativeiros e a convivência cada vez mais próxima de animais de estimação como cães e gatos com humanos podem representar riscos à estas populações. Nesse âmbito, o papel desempenhado pelo Médico Veterinário Epidemiologista, Infectologista e Sanistarista é de fundamental importância para o controle de doenças zoonóticas (BARBOSA; MARTINS; MAGALHÃES, 2011).
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2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Esporotricose
A esporotricose é uma doença zoonótica causada por fungos difórmicos, sapróbios e geofílicos do complexo Sporothrix, que envolve diferentes espécies micóticas. A S. schencki é a principal espécie associada à enfermidade e é comumente encontrada em solos ricos em matéria orgânica em decomposição, árvores, espinhos de plantas, musgos e folhas secas. Acomete diversas espécies animais, manifestando-se no meio urbano principalmente nos felinos domésticos, humanos, cães e equinos (BAZZI et al., 2016). Cresce em forma micelar em temperatura ambiente (25oC) e em forma leveduriforme em temperatura corpórea (37oC). Melhor se desenvolve em umidade entre 92 a 100% e seus esporos podem ser veículados por via aerógena (LARSSON, 2011; PIRES, 2017).
A transmissão zoonótica até o início da década de 1990 era majoritariamente ligada à acidentes traumáticos envolvendo trabalhadores rurais e jardineiros, motivo pelo qual a doença também é conhecida como “doença da roseira” ou “doença do jardineiro”. Após a década de 1990 ocorreu um aumento considerável do número de casos em humanos, que envolvem em sua maioria à inoculação fúngica através de arranhaduras, mordeduras ou contato direto com as lesões cutâneas de felinos infectados (BAZZI et al., 2016). Para que ocorra a infecção, é necessário uma lesão de descontinuidade da pele que favoreça a penetração fúngica. Após a entrada do agente no tecido, o patógeno pode permanecer no local e promover uma lesão denominada “esporotricoma”, que é a representação do ponto inicial de infecção e que apresenta dificuldade e tempo prolongado de cicatrização; ou pode disseminar- se através da via hematógena ou linfática, formando o “rosário esporotricótico”, caracterizado por lesões nodulares e subcutâneas que seguem vasos, afetando diversas regiões. Além disso, a infecção pode ocorrer pela via aerógena e resultar em sinais respiratórios, como dispnéia e secreção nasal. O período de incubação é variável, podendo ser 3 a 84 dias, sendo em média de 21 dias em seres humanos e diverso em felinos, de acordo com a capacidade imunológica do hospedeiro (PIRES, 2017; REIS, 2016).
Os felinos são particularmente sensíveis à infecção por apresentarem maior carga fúngica nas lesões devido à particularidades de seu sistema imunológico e por seus hábitos comportamentais, como caçar, subir e afiar suas garras em árvores, esfregar-se no solo e disputar territórios e fêmeas com outros felinos (LARSSON, 2011). Os gatos machos, jovens
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e adultos, não castrados e de vida livre representam o principal grupo afetado (PIRES, 2017). Em gatos, as lesões são indolores e apresentam-se como pápulas nodulares ou placas cutâneas, que podem estar ulceradas ou não, trajetos fistulosos, presença de secreções purulentas ou serosanguinolentas e áreas alopécicas. As principais áreas afetadas são os membros e a cabeça, principalmente a região nasal (BAZZI et al., 2016; PIRES, 2017). Ademais, a doença pode apresentar-se na forma sistêmica e disseminada, afetando órgãos internos, sistema respiratório, vasos linfáticos e tecido ósseo (REIS, 2016).
Em seres humanos, a doença é particularmente importante em imunocomprometidos, como pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV), Hepatite C, Diabetes mellitus, e pacientes alcoolátras e em tratamentos imunossupressores, como quimioterápicos e corticoterapia. Médicos veterinários, auxiliares e enfermeiros veterinários e cuidadores de animais também estão incluídos no grupo de risco. É importante ressaltar que a doença não é transmitida entre humanos. As formas clínicas são classificas em cutânea localizada ou disseminada, cutânea-linfática e extracutânea ou sistêmica. A infecção linfocutânea localizada após a inoculação traumática é considerada a apresentação mais frequente. As formas disseminadas são raras e afetam principalmente indivíduos imunossuprimidos (BAZZI et al., 2016; LARSSON, 2011; PIRES, 2017; SANTOS et al., 2018).
2.1.1. Características epidemiológicas, vigilância em saúde e saúde pública
Epidemiologicamente, é considerada nos tempos atuais como universal e cospomolita por ser evidenciada principamente em meio urbano, e apresenta maior ocorrência em regiões de climas tropicais e subtropicais. No Brasil, teve seu primeiro surto epidêmico e zoonótico no estado do Rio de Janeiro, entre o período de 1998 a 2004, no qual diagnosticou-se 2.326 pacientes, sendo 1.503 felinos, 759 humanos e 64 caninos. É considerada uma doença de notificação obrigatória neste estado (LARSSON, 2011; PIRES, 2017). Nos outros estados não se caracteriza como doença de notificação compulsória, o que dificulta a correta análise de prevalência por insuficiência
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