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A Iniciação a Agronomia

Por:   •  22/7/2021  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.398 Palavras (6 Páginas)  •  276 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS

CURSO DE AGRONOMIA

DISCIPLINA DE INICIAÇÃO A AGRONOMIA

AUTOR:

Apresente e discuta quais as principais diferenças que devem ser consideradas nos indicadores de sustentabilidade de agroecossistemas quando estes são de estabelecimentos de agricultura familiar e quando são de agricultura patronal (não familiar)?

Os chamados indicadores de sustentabilidade de agroecossistemas são ferramentas de aferição dos efeitos positivos ou negativos de uma intervenção no ambiente.

A unidade básica para análise da sustentabilidade é o agroecossistema. De acordo com Toews (1987) & Lowrance, et al. (1984), agroecossistemas podem ser definidos como “entidades regionais manejadas com o objetivo de produzir alimentos e outros produtos agropecuários, compreendendo as plantas e animais domesticados, elementos bióticos e abióticos do solo, rede de drenagem e de áreas que suportam vegetação natural e vida silvestre. Os agroecossistemas incluem de maneira explícita o homem, tanto como produtor como consumidor, tendo, portanto, dimensões socioeconômicas, de saúde pública e ambientais". Para se avaliar a sustentabilidade de um agroecossistema, deve-se considerar suas características hierárquicas e a complementaridade com o ambiente externo. Isso torna possível a identificação dos processos-chaves e dos organismos envolvidos que governam as quatro propriedades ou comportamentos dos agroecossistemas sustentáveis: produtividade, estabilidade, elasticidade e equidade.

Segundo Toews (1987) pode-se distinguir quatro categorias principais de indicadores:

• Indicadores gerais (estado geral do sistema).

• Indicadores de diagnóstico (porque mostra sinais de degradação).

• Indicadores de estimativa de risco (fatores que conduzem, com alta probabilidade, ao desenvolvimento não-sustentável).

• Indicadores de fitness (robustez).

Os indicadores devem possuir as seguintes características:

• Aplicáveis em um grande número de sistemas ecológicos, sociais e econômicos.

• Mensuráveis e de fácil medição.

• De fácil obtenção e baixo custo.

• Concebidos de tal forma que a população local possa participar de suas medições, ao menos no âmbito da propriedade.

• Sensíveis às mudanças do sistema e indicar tendências.

• Representar os padrões ecológicos, sociais e econômicos de sustentabilidade.

• Permitir o cruzamento com outros indicadores.

Os indicadores utilizados para monitorar o sistema ao longo do tempo devem ser avaliados quanto a sua eficiência em relação as características citadas acima.

Quando levamos em conta a agricultura familiar, devemos priorizar a produção em menor escala, muitas vezes de subsistência. Já na agricultura patronal, o campo se torna uma matriz financeira que visa a obtenção de lucro a partir da produção agrícola. A capacidade produtiva do solo, também pode apresentar diferenças, principalmente devido às diferenças financeiras entre os administradores, os patronais com maior capacidade de investimento tanto no conhecimento técnico como na reposição direta dos nutrientes do solo, e os familiares, quase sempre com dificuldades financeiras para acesso ao mesmo assessoramento técnico e reposição de nutrientes, dependentes assim de uma reposição mais lenta dos nutrientes, faz com que a produtividade da propriedade diminua. Essas diferenças também se apresentam da mesma forma no quesito de manejo dos sistemas de produção. E finalmente, nestes primeiros subíndices, as diferenças na ecologia da paisagem agrícola, normalmente a patronal com monocultura em grandes áreas maquináveis, e a familiar, com pequenas roças e hortas para subsistência familiar e pequenos comércios.

O modelo de agricultura patronal é o modelo de agricultura que se opõe diretamente ao modelo de agricultura familiar. Se, no modelo familiar a agricultura se volta mais fortemente para o consumo próprio, fazendo parte de um cultivo privado e dentro do círculo de familiares, com apenas o excedente que não foi consumido sendo vendido para outros, a agricultura patronal é exatamente o contrário: ela está completamente voltada para o lucro e para a produção, gerando venda de seus produtos.

Existe na agricultura patronal a separação completa entre gestão – aqueles que cuidam e administram lucros e vendas – do trabalho – a mão de obra em si, quem executa os trabalhos no campo. Outra marca forte da agricultura patronal é a especialização de suas culturas – enquanto a agricultura familiar tenta diversificar suas produções, para poder suprir a maior quantidade de necessidades próprias possíveis, a agricultura patronal se especializa em um único cultivo, buscando vender grandes quantidades e, assim, aumentar seu potencial de lucro.

Diante de todos os expostos, os indicadores de sustentabilidade devem ser analisados de forma muito específica em cada meio de agricultura, seja familiar ou patronal. A sustentabidade foi analisada comparativamente por uma tabela da Embrapa chamada ISA (Índice de Sustentabilidade em Agroecossistemas), onde 23 variáveis foram computadas.

Podem citar, comparativamente entre agricultura familiar e patronal as seguintes diferenças:

  1. Produtividade e preço de venda – Normalmente a agricultura patronal apresenta um desempenho superior a familiar neste quesito;
  2. Perfil e diversificação da renda – A patronal baseia-se na rotatividade de duas ou três culturas agrícolas, a familiar diversifica sua produção, embora normalmente não gere muita renda.
  3. Evolução patrimonial – A agricultura familiar tem bastante dificuldade em obter esta evolução, pois não gera grande capital para seus operadores.
  4. Grau de endividamento – Mais um quesito que a familiar apresenta dificuldades, primeiro pela falta de acesso aos financiamentos, e quando consegue tem dificuldade de pagá-los.
  5. Serviços básicos – A familiar tem dificuldade de acesso.
  6. Segurança alimentar – Embora produza seu próprio alimento, devido a fatores climáticos, falta de acesso às sementes adequadas e ao assessoramento técnico, muitas propriedades familiares pequenas podem ter esta segurança afetada.
  7. Escolaridade, capacitação – Embora tenha tido evolução, ainda há diferença muito grande no acesso a estes, entre os operadores da agricultura patronal e familiar,
  8. Qualidade do emprego gerado – A agricultura familiar quase sempre opera com a própria família, ou ajuda mútua entre vizinhos nas mesmas condições. A patronal, embora gere emprego agrícola, muitas vezes não o faz adequadamente, não registra os empregados, contratação apenas de diaristas.
  9. Gestão do empreendimento – A patronal tem implementado a gestão profissional, enquanto a familiar tem dificuldade de acesso ao conhecimento necessário para tal, ou para contratar profissional qualificado.
  10. Gestão da informação – da mesma forma que no item anterior.
  11. Gerenciamento de resíduos – Embora tenha tido evolução nesta área, as duas atividades apresentam dificuldades em implementar tal processo.
  12. Segurança do trabalho – A familiar tem dificuldade devido a dificuldade de investimento, maquinários deficitários, equipamentos inadequados. A patronal consegue investir em equipamentos e maquinário moderno, que apresentam maior segurança para operação.
  13. Fertilidade do solo – A patronal tem maior acesso ao assessoramento técnico e consegue fazer a reposição direta de nutrientes. A familiar não apresenta a mesma facilidade, embora o poder público tenha propiciado assessoramento técnico, principalmente através das EMATER.
  14. Qualidade da água superficial – A atividade patronal apresenta menor qualidade neste quesito, o cultivo em grandes áreas com uso de defensivos, operação da lavoura com maquinários pesados, afetam a qualidade da água superficial.
  15. Qualidade da água subterrânea – Da mesma forma que o item anterior.
  16. Riscos de contaminação – Apresenta-se maior nas atividades patronais devido ao cultivo em grandes áreas, uso de defensivos químicos em várias fases da lavoura. Embora em algumas culturas da agricultura familiar este risco também seja alto, como exemplo na cultura de fumo, normalmente feito pela agricultura familiar em parceria com empresas fumageiras.
  17. Avaliação solos degradados – Ambas atividades podem ter esta dificuldade, a patronal pela extensão em monoculturas em revezamentos, a familiar pela falta de acesso ao conhecimento, análise do solo, falta de reposição de nutrientes.
  18. Práticas de conservação – Infelizmente é difícil termos conhecimento de processos de conservação desenvolvidos nas propriedades agrícolas, tanto patronal como familiar, aquele pelo interesse em maior exploração agrícola, e este pela falta de conhecimento e recursos financeiros.
  19. Estradas – Ambos sofrem por esta dificuldade, são raras as estradas que apresentam condições adequadas durante todo o ano.
  20. Vegetação nativa – Apresenta-se muito degradada em ambas as atividades.
  21. APPs – Embora a lei tenha mudado para exigir que se mantenha maiores áreas de preservação, muitas áreas já foram exploradas e embora devesse ser recuperada, não tem sido. Muitas pequenas propriedades não apresentam estas áreas.
  22. Reserva Legal – Também regulamentada em lei, as principais explorações agrícolas patronais não apresentam, pois a vegetação foi explorada na sua quase totalidade, inclusive próximo aos cursos de rios, arroios, etc. Na agricultura familiar apresenta-se difícil de implantação devido falta de conhecimento e assessoramento.
  23. Diversificação da paisagem – A agricultura familiar, por ser menor, menos comercial, apresenta certa diversificação. A patronal, na sua maioria, não.

Diante disso, fica claro citarmos as diferenças de complexidade em relação a sustentabilidade de cada forma de produção. Deve-se analisar cuidadosamente o manejo, produção e interação homem/ambiente para determinar com um agroecossistema vai se comportar e se manter produtivo em um espaço de tempo.

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