Mitos e verdades cientifica da Amazõnia
Por: Adiely Amin • 2/3/2016 • Pesquisas Acadêmicas • 2.665 Palavras (11 Páginas) • 415 Visualizações
Atividade mitos X verdades cientificas.
Desnecessário, como introdução, relembrar a importância e o interesse da Amazônia para o Brasil e o mundo. O poder nacional exprime-se de maneira multiforme na região e a soberania política sobre a Amazônia deveria estar fora de qualquer discussão. Uma de suas facetas é a soberania científica, vinculada cada vez mais a aspectos geopolíticos e estratégicos, que o país esforça-se de exercer contra a desinformação e as mistificações.
Além da rede de universidades e institutos de pesquisa da Amazônia, há cerca de 20 anos,pesquisadores da Embrapa Monitoramento por Satélite mantém ali vários sites de monitoramento territorial, caracterizando a dinâmica espaço-temporal do uso e ocupação das terras e os impactos ambientais decorrentes. A Embrapa dispõe hoje um dos maiores acervos de imagens de satélite, banco de dados geocodificados, instrumentos e indicadores para compreensão e monitoramento dos processos de mudança, além de meios e logísticas específicas para pronto emprego na Amazônia(www.cnpm.embrapa.br ).
A Embrapa mantém há vários anos um convênio com o Exército Brasileiro. Ele dá lugar a atuações com diversas OMs, como foi por exemplo, o translado de antena e sistema de recepção de imagens de satélite para Boa Vista (RR) em apoio ao COTER e 7º Batalhão de Infantaria de Selva na operação de combate ao fogo, ocorrida em 1998. O acúmulo de conhecimentos científicos e indicadores ambientais permite argumentar contra cinco mitos, apresentados como verdades absolutas, sobre a Amazônia e seus sistemas ecológicos:
1 – A Amazônia é coberta por uma grande floresta tropical primitiva e homogênea, com ecossistemas estáveis, intactos e em equilíbrio natural (pulmão do mundo).
2 – A Amazônia ainda é um imenso vazio demográfico e humano, a ser ou não ocupado, ameaçada pelo desmatamento e pelos incêndios florestais.
3 – Os solos amazônicos são inadequados para a agricultura e quando desmatados tornam-se um deserto ou pastagens improdutivas.
4 – A Amazônia está insuficientemente protegida por unidades de conservação (parques, reservas etc.) e pela legislação ambiental.
5 – A preocupação com a preservação ambiental é recente e deve-se a presença crescente de entidades não governamentais estrangeiras e internacionais atuando no Brasil.
1 – Uma floresta tropical homogênea, antiga e estável?
A realidade é muito mais complexa. Nesse imenso território encontram-se os pontos culminantes do país, estruturas geológicas completamente diferentes entre calha sul e norte do rio Amazonas e fatores ambientais determinando grande diversidade de ecossistemas. Pela primeira vez, a Embrapa Monitoramento por Satélite concluiu um mosaico com imagens de satélite recentes, recobrindo toda a Amazônia com 15 metros de resolução. Isso exigiu o desenvolvimento de programas computacionais específicos, consumiu milhares de horas de cálculo e, a partir de mais de 250 imagens orbitais, gerou um mosaico de 6.8 gigabytes. Uma versão simplificada do mosaico de cada Estado foi produzida e difundida para uso amplo (www.cdbrasil.c n p m.embrapa.b r ) .
Floresta homogênea? O mosaico de imagens revela o que já era em parte conhecido: uma complexidade de situações que proíbe qualquer generalização simplificadora. São vários tipos florestas de terra firme ou ombrófilas, florestas semicaducifólias, florestas caducifólias, florestas de igapó, florestas de bambu, florestas de palmeiras, florestas de cipó, florestas de altitude ou nebulosas, florestas de mangue, campinaranas, etc., compondo com formações abertas, não florestais, como cerradões, cerrados ou savanas, campos naturais, catanduvas, lavrados, campos abertos de várzea, campos rupestres ou litófilos, vegetações psamófilas, hidrófilas e hidrófitas.
Floresta antiga e estável? Esse mar de florestas com imensos arquipélagos de vegetações abertas nem sempre foi assim. A paleogeografia e a palinologia demonstram que, devido as flutuações climáticas, nos últimos 12 mil anos existiram situações exatamente inversas à atual. Houve mares de savanas e campos naturais, com ilhas de florestas, concentradas ao longo da calha de rios e no entorno de relevos. Várias regressões ou expansões de florestas na Amazônia foram presenciadas por populações indígenas. Hoje tem-se um mapeamento razoável desses momentos (www.soton.ac.uk/~ tjms/adams1.html ).
O pulmão do mundo? O monitoramento por satélite da física e dinâmica da atmosfera na Amazônia e no globo terrestre demonstra que o pulmão do mundo (áreas de grande produção de oxigênio) são os oceanos, em particular nas proximidades do Ártico e Antártida. Na Amazônia, a produção de oxigênio é equivalente ao consumo pela transpiração da vegetação. Sua contribuição dinâmica é equivalente azero. A Amazônia é sim, um dos grandes ar condicionado do planeta. Envia constantemente umidade e calor para as altas latitudes, em quantidades cujo valor monetário “equivalente” é astronômico.
Segundo ele, a vegetação, que cresce por meio da fotossíntese, captura gás carbônico da atmosfera e libera oxigênio, ao contrário do pulmão que transforma oxigênio da atmosfera em gás carbônico. A Amazônia apresenta uma taxa muito grande de fotossíntese e, por conta disso, foi durante algumas décadas comparada a um grande pulmão "invertido", o "pulmão do mundo". No entanto, o professor explica que a floresta também libera gás carbônico na atmosfera, por respiração das plantas, e no processo de decomposição de troncos, galhos, folhas mortas e animais.
Em equilíbrio natural?Estudos antropológicos e paleobotânicos tem demonstrado o quanto populações indígenas alteraram a paisagem amazônica. Pelo uso do fogo, elas ampliaram e ampliam os cerrados em detrimento das florestas (como se vê em imagens de satélite da fronteira do Brasil com o Suriname). A área natural do cerrado seria 40% menor do que a atual. O resto deve-se a influência humana. Outro vetor é a agricultura indígena extensiva, materializada em parte nas “terras negras” amazônicas, formadas sobretudo nos anos anteriores à colonização, quando as populações nativas eram bem maiores. Sua extensão, graças ao estudo de sítios arqueológicos na região de Manaus, calha do Guaporé etc., começa a ser melhor conhecida. Talvez chegue a 10%, o total acumulado de áreas alteradas em floresta por cultivos extensivos, plantios de espécies de interesse ao longo dos caminhos (pabirú), efeitos da caça etc., antes dos portugueses! É graças aos 15.000 anos de presença humana na Amazônia que tem-se conhecimento e disponibilidade de uso de tantas plantas medicinais, produtos alimentares, fibras, madeiras, óleos, perfumes, resinas etc.
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