O Café Deixa De Ser Uma Commodity? Um Estudo Sistemática Da Literatura
Por: Carlos Dias • 1/5/2023 • Artigo • 6.730 Palavras (27 Páginas) • 97 Visualizações
QUANDO O CAFÉ DEIXA DE SER UMA COMMODITY? UM ESTUDO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Carlos Alberto Padilha Dias
Elenice da Silva Moraes
RESUMO: O café é uma das bebidas mais populares e valiosas commodities agrícola, comercializados no mundo. Diante disso, este estudo tem como objetivo identificar na literatura os principais mercados e tipos de cafés especiais existentes a nível mundial, com a finalidade de apresentar o seu posicionamento de mercado. O método utilizado foi uma revisão sistemática da literatura sobre os cafés especiais. A pesquisa resultou em 226 artigos, dois quais foram pesquisados nas bases de dados: Scopus e a web of Science. Para a análise foi utilizas 95 quotas das 116 extraídas na análise dos 18 artigos selecionados. Os resultados demostraram que o café especial é aceito em todos os mercados e a produção aumenta a cada ano em diversos países do mundo. Os eventos são meios para proporcionar experiências inesquecíveis aos consumidores e para desenvolver o melhoramento dos cafés especiais no mercado global.
Palavras-chave: Café Especial; Agronegócio; Posicionamento de mercado; Consumo.
1 INTRODUÇÃO
No âmbito do fenômeno agronegocial no Brasil, o cultivo que deixou marcas mais perceptíveis na história socioeconômica do país foi o café (MARTINS, 2012; LUNA, 2017). A história brasileira, ao ser estudada entre o século XIX e metade do século XX, é periodizada e debatida no contexto dos “Ciclos do Café” (PRADO, 1997; MARTINS, 2012), evidenciando a importância da cafeicultura como parte do processo de desenvolvimento econômico do Brasil.
Diante disso, a grande crise de 1929, além de ter marcado o final do “Ciclo do Café”, pode ser considerada um marco temporal para a descentralização das políticas públicas direcionadas às commodities de exportação (GAZIER, 2009). Nesse sentido, houve uma reconfiguração do setor produtivo brasileiro consolidando uma nova dinâmica de produção agrícola. Nesse contexto, a soja e o milho tornaram-se as maiores commodities de exportação no Brasil, e desde 2019, é o maior exportador global de soja (USDA, 2021).
No período contemporâneo, entre 2016 e 2020 o Brasil exportou em média 40 milhões de sacas de 60 kg de café ao ano, que geraram receita cambial anual de US$ 5,5 bilhões em média, de acordo com dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFE, 2021). Portanto, mais 90 anos após a grande crise de 1929, o café ainda apresenta relevância econômica enquanto commodity de exportação, sendo o 11º produto brasileiro mais exportado (COMEXSTAT, 2021).
Em relação ao consumo, o café é a segunda bebida mais consumida no Brasil, perdendo só para água (FAZCOMEX, 2021). A partir dos anos 2000, de modo mais acentuado, observa-se que o consumo de cafés especiais vem apresentando crescimento de 15% ao ano, enquanto representa aproximadamente 5% do total de grãos consumidos no Brasil (EUROMONITOR, 202; BARBOSA, et al., 2019).
Nesse sentido, os cafés especiais, procurados por consumidores que buscam uma experiência de consumo gourmet, se diferenciam do consumidor de “café commodity” (LEÃO, 2010; LAGES, 2015). Diante disso, o café especial diferencia-se por apresentar controle de origem, certificação por lote, uniformidade dos grãos, ponto de maturação e controle de secagem, tendo seu valor definido a partir de suas características biofísicas e organolépticas (SCA, 2021). Enquanto, por outro lado, os cafés tradicionais têm seus valores definidos a partir de operações de mercado, tornando o produtor um tomador de preços. Dessa forma, um café especial é assim denominado antes do processo de torrefação e obtenção de perfil aromático, apresentando diferenciação de valor quando comercializado em sacas (SAES, 2006; BARRA, 2016; CECAFE, 2021).
O café é uma das bebidas mais populares e valiosas commodities agrícola, comercializados no mundo (TRAORE; WILSON; FIELDS, 2018). Os cafés especiais diferem dos cafés comuns pela ausência de defeitos e seus diferentes atributos qualitativos (BARBOSA, et al., 2019), apresentando sabor único, a preparação por derramamento o qual melhora a experiência de consumo em relação aos métodos de preparo mais convencionais (UFER; LIN; ORTEGA, 2019). Ao ser considerado que existe um padrão pré-estabelecido para a classificação de grãos em “especiais” e “commodity”, definido pela Specialty Coffee Association (SCA) e pela Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), a qual existe características distintivas claras que devem ser observadas nos grãos.
Apesar da centralidade das relações individuais e do foco no consumo ético, a indústria de cafés especiais permanece inserida em uma teia de desigualdade estrutural que existe entre os profissionais de café ocidentais e os produtores nos países em desenvolvimento (COTTER, 2021). No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, os esquemas de certificação do café eram vistos como parte da solução para a pobreza dos pequenos produtores e, desde então, a certificação tem sido amplamente adotada no setor cafeeiro (SCHUIT, 2021). Diante disso, os produtores de cafés especiais devem dar a devida devoção a todas as etapas do processo desde o cultivo, colheita, processamento e armazenamento (UFER; LIN; ORTEGA, 2019).
Diante do contexto, este estudo tem como objetivo identificar na literatura os principais mercados e tipos de cafés especiais existentes a nível mundial, com a finalidade de apresentar o seu posicionamento de mercado. Para atingir o objetivo de estudo se fez necessário responder a seguinte pergunta: quais são as principais características do mercado de café especial e como está posicionado no mercado a nível mundial?
2 METODOLOGIA
O consumo e a comercialização de cafés e as distintas percepções sobre esse tema requerem a aplicação de técnicas que possibilitem a obtenção, estratificação e análise de informações disponibilizadas em diversos formatos. Dessa forma, a seguir serão apresentados os procedimentos metodológicos aplicados para cumprir com o objetivo e responder à pergunta de pesquisa deste estudo.
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