A CONSTRUÇÃO CIVIL E OS RESÍDUOS SÓLIDOS
Por: Bruno Deparis • 3/7/2018 • Trabalho acadêmico • 6.106 Palavras (25 Páginas) • 185 Visualizações
INTRODUÇÃO
A atenção com as questões ambientais e a tentativa de redução do desperdício em todas as atividades geradoras de resíduos, tem aumentado consideravelmente nos últimos anos movida, principalmente, pela percepção das vantagens econômicas e sociais que ações sustentáveis podem trazer a médio e longo prazo. Estas ações podem ser desenvolvidas desde o simples, mas também importante, trabalho de coleta de materiais recicláveis nas ruas por catadores, à separação seletiva por empresas e a população, geradoras de grandes volumes de rejeitos. Porém os índices de bom aproveitamento de matérias primas e produtos finais ou a destinação dos mesmos após o término de suas funções primárias, ainda estão longe do ideal, muito pela falta de programas educacionais voltados à conscientização da população pra o tema e para a importância da destinação correta dos resíduos que produz diariamente, quanto pela falta do enraizamento de uma cultura de sustentabilidade dentro de empresas e grandes indústrias responsáveis também por grande parte da geração deste problema.
Para se ter uma ideia do quão preocupante este assunto é para o futuro do meio em que vivemos, pode-se fazer uma relação entre o lixo produzido e os habitantes do planeta. Assim, como a produção de resíduos sólidos cresce em conformidade com o aumento da população mundial, ou seja, quanto maior o número de consumidores no mundo, maior a geração de tais resíduos, estima-se que nas próximas décadas a formação dos mesmos aumentará muito mais que a população, visto que nos últimos anos este aumento já atingiu um número duas vezes maior que o crescimento populacional (Gimenez, 2005). Diante dos fatos e da estimativa de que até 2050 o mundo estará abrigando cerca de 9 bilhões de pessoas; com a permanência da cultura do consumismo desmedido somada as atividades industriais, esta problemática poderá atingir níveis irreversíveis caso medidas de redução de resíduos entre produção e o descarte não sejam tomadas.
Dentro desta temática de produção de resíduos sólidos e a forma como tais rejeitos são manipulados e eliminados na natureza, o presente trabalho focará como o setor da construção civil, considerado um dos maiores geradores de resíduos, lida com o problema do acúmulo de rejeitos presentes em cada etapa do processo produtivo das edificações levantando os aspectos e impactos ambientais e como as leis municipais e nacionais agem sobre estas atividades.
Como modelo e exemplificação de gestão de RCC, utilizou-se o município de Itajaí do estado de Santa Catarina cujas atividades no ramo da construção civil têm tido um crescimento exponencial nos últimos anos. Para isso, foram realizadas pesquisas em órgãos competentes sobre o assunto e em legislações municipais que regulamentam o manejo de tais rejeitos, bem como o acompanhamento de atividades de uma construtora local, da qual não se obteve permissão para a divulgação do nome. A análise nesta empresa se ateve à utilização de materiais cerâmicos empregados como revestimento, demonstrando o ciclo de vida do mesmo desde a sua chegada até a rejeição dos restos produzidos no final das construções, a fim de detectar quais são as fases da obra que mais contribuem para o desperdício destes materiais. E então, ao final do trabalho, serão abordadas alternativas e ideias para a diminuição do desperdício dos revestimentos cerâmicos como também para uma melhor gestão dos recursos no município em questão.
A CONSTRUÇÃO CIVIL E OS RESÍDUOS SÓLIDOS
A área da construção civil é essencial pra o bom desenvolvimento socioeconômico de um país. Sua função é a de transformar o ambiente natural no ambiente construído, para que este se torne adequado e apto para que diversas atividades sejam desenvolvidas (JOHN, 2000, p. 5, apud BRANCO, 2010). Para isso, seus projetos devem ser bem planejados e executados em conjunto com normas e planos de gerenciamento urbano, para sim, garantir comodidade à população e facilitar o dia a dia.
Em contrapartida, este pode ser considerado um dos setores que mais geram impactos ambientais quando relacionado ao grande volume de rejeitos produzidos em suas atividades e à modificação significativa que pode exercer na paisagem de uma cidade, afinal é um grande consumidor de importantes recursos naturais de qualquer economia, seja em quantidade ou diversidade (AGOPYAN et al., 2004; JOHN,2000; apud BRANCO, 2010).
As causas vão além das obras propriamente ditas, pois os impactos já podem ser percebidos nos processos mais primários de um projeto, que vão desde a escolha errada da utilização de certos materiais e uma estimativa precipitada da quantidade a ser utilizada- resultando em um descarte desnecessário - à extração intensa de matéria-prima sem a devida atenção as limitações da natureza. São nestas atividades de extração, por exemplo, que podem ocorrer os impactos e danos mais significativos ao ambiente agredido, afinal resultam em desmatamento, erosão do solo, poluição do ar e da água e a diminuição da “saúde das florestas [...] e outros ecossistemas sensíveis”, desarranjando-se imensas áreas para, relativamente, poucos ganhos.(FRENCH, 2000, p. 194; YOUNG, 1992 apud SCHNEIDER, 2003)apud
Falando em extração de matéria-prima, que em sua maioria são provenientes de recursos naturais não renováveis, segundo o Anuário Mineral Brasileiro de 2011, cerca de 40% do volume de recursos naturais foram destinados para este construção civil, além deste ramo ter sido responsável pelo consumo, em 2011, de aproximadamente 75% do total de areia extraído do meio natural e 85% de brita (DNPM, 2012, apud SANTOS, 2013).
A produção de RCC (resíduos da construção civil) e o consumo excessivo de materiais, portanto, se dá em diversas fases durante a vida útil dos empreendimentos (Agopyan; et al, 2003), como mostra a tabela 1, indo da concepção e construção da edificação à demolição ou em reformas e manutenções. Na fase da construção, há uma perda e descarte significativos de materiais, devido muitas vezes, à falta de mão de obra especializada e tecnologias que diminuam as perdas. Nesta etapa, como também nas de demolição e reforma, constata-se um desperdício não só de materiais inerentes à construção como cerâmicas, concreto e madeira, mas também de água e energia, fatores que consomem grande parte dos recursos naturais disponíveis. O problema se agrava ainda mais quando os rejeitos se acumulam e tornam-se locais propícios a ploriferação de vetores ou ainda quando os resíduos que são produzidos são tóxicos (como tintas, solventes e óleos), pois muitos rejeitos acabam indo para os rios e causando o assoreamento dos mesmos.
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