A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA
Exames: A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 28/4/2014 • 971 Palavras (4 Páginas) • 329 Visualizações
A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA
A pedagogia histórico-crítica está fundamentada no materialismo histórico dialético e designa uma teoria pedagógica preocupada com os problemas educacionais decorrentes da exploração do homem pelo homem. Para compreendê-la, é preciso situar-se (ainda que brevemente) no interior do pensamento que lhe dá sustentação. A pedagogia socialista se postula em duas formulações teóricas: do socialismo utópico e do socialismo científico. O socialismo utópico criticava o capitalismo, mas não conseguia explicá-lo, restando-lhe apenas repudiá-lo. Buscava-se a transformação da ordem capitalista burguesa pela educação, que proporcionaria uma sociedade “com todos participando da produção e fruição dos bens segundo suas capacidades e necessidades” (SAVIANI, 2007b, p. 1). No entanto, ao colocar a educação como mola propulsora das realizações da sociedade, a desconsiderava enquanto apenas um dos mecanismos da sociedade capitalista. Já o socialismo científico buscava captar a estrutura do capitalismo de forma a negá-lo “no processo revolucionário de transição para o comunismo conduzido pelo proletariado” (SAVIANI, 2007b, p. 1). Em consonância com essa formulação teórica, a pedagogia socialista é vista como a concepção de educação decorrente da concepção marxista da história, como mecanismo da engrenagem social e não como decisivamente realizadora das transformações da sociedade.
A concepção filosófica marxista partiu do pensamento hegeliano (idealista), fez sua crítica, incorporou as contribuições da filosofia moderna e instaurou uma visão filosófica realista: o materialismo histórico dialético. Isso significa O empenho em compreender e explicar a problemática educativa a partir dessa concepção superadora do pensamento burguês moderno, eis o que se configura como uma teoria marxista da educação. Tal teoria claramente realista, em termos ontológicos, e objetivista, em termos gnosiológicos, move-se no âmbito de dois princípios fundamentais: 1. As coisas existem independentemente do pensamento, com o corolário: é a realidade que determina as idéias e não o contrário; 2. A realidade é cognoscível, com o corolário: o ato de conhecer é criativo não enquanto produção do próprio objeto de conhecimento, mas enquanto produção das categorias que permitam a reprodução, em pensamento, do objeto que se busca conhecer (SAVIANI, 2007b, p. 7).
Em relação ao conceito de pedagogia, é preciso destacar que “nem toda teoria da educação é pedagogia” (SAVIANI, 2007b, p. 7). Exemplos de teorias de caráter marxista que analisam as relações da educação com a sociedade são os trabalhos de Althusser e Baudelot e Establet (Cf. SAVIANI, 2007a). No entanto, estas obras não se refletem como teorias pedagógicas, pois não se voltam às questões da prática educativa.
Parece, pois, ser possível, sem maiores dificuldades, concluir que a pedagogia socialista compatível com o marxismo será aquela que, fundando-se na perspectiva do “socialismo científico”, busque equacionar o problema da relação professor aluno, orientando o modo como se deve realizar o processo de ensino e aprendizagem, com tudo o que essa ação implica e que deverá ser sistematizado na teoria pedagógica correspondente (SAVIANI, 2007b, p. 8). A elaboração de uma pedagogia inspirada no marxismo deve levar em conta a “apreensão da concepção de fundo (de ordem ontológica, epistemológica e metodológica) que caracteriza o materialismo histórico” (SAVIANI, 2007b, p. 10). Essa apreensão está na base da pedagogia histórico-crítica, que começa a ser organizada teoricamente no final da década de 1970. Para compreendê-la é preciso situar seu contexto histórico de formulação.
A pedagogia histórico-crítica no contexto da educação brasileira
Em se tratando da pedagogia histórico-crítica, que é o objeto central dessa discussão, suas ideias se iniciam nas discussões da primeira turma de doutorado da PUC-SP, em 1979 e avançam em termos de sistematização com a publicação do texto “Escola e Democracia: para além da teoria da curvatura da vara”, publicado na revista da ANDE em 1982. Esse texto integra a obra “Escola e Democracia” (2001), lançada em 1983, onde Saviani faz um diagnóstico das principais teorias pedagógicas, seus limites e contribuições, denuncia a escola nova como antidemocrática, reacionária e pseudocientífica e delineia as características de uma nova teoria pedagógica que esteja articulada com as classes populares pois entende que “uma teoria crítica (que não seja reprodutivista) só poderá ser formulada do ponto de vista dos interesses dos dominados” (SAVIANI, 2001, p. 30). Nesta obra, Saviani aponta que “uma pedagogia articulada com os interesses populares valorizará, pois, a escola e (...) estará interessada em métodos de ensino eficazes” (SAVIANI, 2001, p. 69). Para tanto, o autor propõe a organização metodológica4 desta teoria “à semelhança dos esquemas de Herbart e Dewey” (SAVIANI, 2001, p. 70), superando por incorporação as contribuições destes pensadores.
Em 1984, Saviani assume definitivamente a nomenclatura pedagogia histórico-crítica, para diferenciá-la de outras interpretações para o termo “pedagogia dialética”. Há correntes, por exemplo, próximas à fenomenologia, que utilizam a palavra dialética como sinônimo de dialógico, ou seja, referente ao diálogo, à troca de idéias, à contraposição de opiniões, e não propriamente como teoria do movimento da realidade, isto é, teoria que busca captar o movimento objetivo do processo histórico. Outro motivo da opção por pedagogia histórico-crítica foi a ocorrência de diferentes visões da palavra dialética, considerando que, quando a pronunciamos, cada um tem na cabeça um conceito de dialética – em conseqüência do que a expressão pedagogia dialética acaba sendo entendida com conotações diversas (SAVIANI, 2003, p. 87, grifos do autor).
É importante salientar que a pedagogia histórico-crítica não se coloca acima de qualquer suspeita ou de outras contribuições importantes feitas ao longo da história para a educação. O que ela pretende e vem fazendo é “explicitar as relações entre a educação e seus condicionamentos sociais, evidenciando a determinação recíproca entre a prática social e a (SAVIANI, 2003, p. XIII). O autor explica: o que eu quero traduzir com a expressão pedagogia histórico-crítica é o empenho em compreender a questão educacional com base no desenvolvimento histórico objetivo. Portanto, a concepção pressuposta nesta visão da pedagogia históricocritica é o materialismo histórico, ou seja, a compreensão da história a partir do desenvolvimento material, da determinação das condições materiais da existência humana (SAVIANI, 2003, p. 88, grifos do autor).
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