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A PSICOLOGIA E TRABALHO HUMANO

Por:   •  25/3/2017  •  Resenha  •  2.322 Palavras (10 Páginas)  •  604 Visualizações

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APOSTILA 1

PSICOLOGIA E TRABALHO HUMANO

Autores: Milton Athayde*, Wladimir Ferreira de Souza* e Vladimir Athayde**[1]

Esta disciplina pretende colaborar para compreender a dimensão psicológica presente em sua vida e especialmente no seu futuro estágio profissional e, concluído o curso, em seu trabalho.

Vamos iniciar nossa reflexão sobre uma experiência absolutamente fundamental para nós, humanos, vivermos: O TRABALHAR.  

O que é viver, o que é trabalhar, que mundo é esse, o do trabalho? Ou que mundos são esses, os do trabalho, considerando seu caráter complexo e de múltiplas faces. Trabalho-produto e trabalho-processo. Um trabalho que pode se configurar em um produto técnico, como um automóvel, ou um serviço, como em uma consultoria. Quais as características destes produtos, como o trabalho se processa, como nele nos comportamos, em que contextos organizacionais, estabelecendo que relações, ao longo dos tempos e na sociedade atual? E no futuro, ele poderá ser diferente?

  1. Trabalhar: uma experiência constitutiva e estruturante

Trata-se de uma palavra polissêmica, usada com diversas significações. Só na sociedade capitalista ela passa a ser utilizada como uma categoria universal e fundadora de toda a vida social. O mais frequente hoje é que as pessoas considerem o trabalho como algo evidente, óbvio. A Psicologia, enquanto ciência, interroga esta obviedade. Sim, pois não se trata de uma experiência simples, banal, embora esteja sendo simplificada e banalizada, com certa frequência até mesmo degradada. Na verdade trata-se de nossa forma de estar no mundo, uma experiência vital, incontornável, constitutiva da espécie e estruturante da vida psicológica. Ela é complexa (muitas vezes complicada), uma potência enigmática, exigindo muito cuidado de cada um de nós para não deixar decair sua nobreza, gerando perda de sentido e adoecimento.

 O mais frequente é que se considere como sinônimos TRABALHO e EMPREGO, como se o trabalhar se reduzisse ao plano econômico e jurídico. Ao perguntar a um adulto: - “o você que faz?”, a resposta em geral remete ao emprego da pessoa. Nesta situação ele tem um contrato – formal (jurídico) ou informal (de palavra) – com alguém ou uma organização, em que vende seu conhecimento, sua força de trabalho em troca de uma remuneração, um SALÁRIO. Ou seja, trata-se neste caso do regime de salariato, uma relação empregatícia juridicamente estabelecida entre um trabalhador e aquele que o contrata (seu patrão). No Brasil, só no século XX, esta relação virou Lei, o que se chama vulgarmente de “carteira assinada” – a CLT (consolidação das leis trabalhistas) – leis criadas e consolidadas no período de governo de Getúlio Vargas. Estar empregado representa mais que a sobrevivência, é um modo de estar socializado, de ter reconhecimento social, de ter prestígio intra e extra grupal.

Como já se pode perceber, não foi sempre assim na vida da espécie humana, nos diferentes tempos históricos, nas diferentes sociedades. E mesmo hoje esta dificuldade de entendimento continua presente, sendo mais evidente quando se trata de trabalho doméstico. Só mais recentemente é que foi assegurado que o serviço prestado por alguém na casa de outro também é trabalho e deve ser juridicamente considerado emprego. Não obstante, o trabalho realizado por mães e esposas no âmbito doméstico quase nunca é considerado trabalho. Ele é naturalizado como uma atividade inerente às mulheres. No caso do Brasil, esta determinação de gênero se cruza com a cultura escravista.

TRABALHO NÃO É SINÔNIMO DE EMPREGO!

A TROCA – SEMPRE DESIGUAL – ENTRE TRABALHO REALIZADO E SALÁRIO PAGO FOI INVENTADA EM UM DETERMINADO MOMENTO DA HISTÓRIA HUMANA

Encontramos na obra de Gonzaguinha uma música – Um Homem Também Chora (Guerreiro Menino) – cantada também por Fagner, em cuja letra ele diz:

Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho

E sem o seu trabalho
O homem não tem honra

E sem a sua honra
Se morre, se mata

Não dá pra ser feliz
Não dá pra ser feliz!

Claro, toda poesia permite várias interpretações, vamos ter a ousadia de considerar que ele está falando muito mais de ter um emprego. A vivência de felicidade, tranquilidade, não pode ser comprada no mercado, ela é inventada, construída, experimentada, especialmente no plano psicológico, nas relações humanas e sociais.

Na sociedade em que vivemos, sem emprego não somos nada?!... Pior: sobreviver na situação de desemprego dá muuuuito trabalho! Além de preocupar-se permanentemente com o perigo de não entrar ou voltar ao mercado de trabalho (assim como o risco do desemprego é o pesadelo do noite a noite dos que estão empregados). Que contradição! Trata-se, por um lado, de desumanização, quando se impede que um humano exercite esta experiência decisiva para sua própria humanidade. Por outro lado, há que subsistir... e para isso pessoas são submetidas a experiências que destoam das conquistas societárias.

Estamos convivendo também com a tendencial ampliação da “informalidade” (como dizem economistas, sociólogos e juristas). Em outras palavras, o que está sendo imposto, na verdade, é a precarização do trabalho, sua degradação. Se no capitalismo que se instituiu nos países do norte, com a regulação societária fordista, o emprego assalariado formal tornou-se a modalidade de trabalho dominante, a tendência vem sendo o desmonte do que foi sendo estabelecido no pós-Segunda Guerra. 

  1. Trabalhar não necessariamente adoece, mas pode ser sim nocivo...

Outra figura da música popular – Ed Mota – na música Vamos dançar (autoria dele com Rafael Cardoso) nos canta o seguinte:

Eu não nasci pra trabalho
Eu não nasci pra sofrer

Já dirigi automóveis
Já consumi capital
Já decidi que o dinheiro
Não vai pagar,

não vai pagar
A minha paz

Vamos dançar lá na rua
Vamos dançar pra valer
Vamos dançar enquanto é tempo
Nos aplicar a viver

Quando ele nos canta que não nasceu “pra trabalho”, pois não nasceu “pra sofrer”, na verdade ele está se referindo a uma dada forma de trabalhar que se caracteriza como pura exploração, dominação, trabalho nocivo a ser mesmo recusado.

O TRABALHO NÃO É SEMPRE ESCRAVIDÃO, ELE TEM UMA DUPLA FACE:

PODE SER POSITIVO PARA A SAÚDE, PARA VIVER MELHOR

PODE SER NOCIVO, GERAR SOFRIMENTO ADOECEDOR

...

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