A Teoria da Administração
Por: Romulo Maddu • 9/4/2019 • Resenha • 1.467 Palavras (6 Páginas) • 166 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Faculdade de Ciências Econômicas
R. Madureira Pereira
TRABALHO APRESENTADO PARA A DISCIPLINA DE TEORIA DA ADMINISTRAÇÃO I SOBRE OS TEXTO DE MOTTA (ORGANIZAÇÃO E PODER); TRAGTENBERG (BUROCRACIA E IDEOLOGIA) E GUERREIRO RAMOS (ADMINISTRAÇÃO E CONTEXTO BRASILEIRO).
Belo Horizonte
2019
Acerca da burocracia, as obras de Guerreiro Ramos (Administração e contexto brasileiro), Prestes Motta (Organização e Poder) e Tragtenberg (Burocracia e Ideologia) apresentam uma reflexão interligada de como esse sistema age e se instaura na sociedade atual, a partir de diferentes pontos de vista. Esses trabalhos apresentam os âmbitos positivos e negativos da burocracia no universo contemporâneo, além de como esse mecanismo se formou e como perdura até hoje. Para validar o conteúdo apresentado, usam argumentos de estudiosos conhecidos, com Max Webber, Karl Marx, Hegel, Kafka, Crozier e Eisenstadt.
Nos capítulos estudados do texto de Guerreiro Ramos, o autor destaca a diferença de racionalidade funcional e racionalidade substancial. Segundo ele ambos os aspectos são “Pares de origem weberiana que fazem parte da formação do administrador”. Entende-se desse capítulo (2.1) que a racionalidade funcional segue um modelo mais calculista, objetivando sempre os fins. Já a racionalidade substancial importa-se essencialmente com a inteligência de suas ações para que essas alcancem o objetivo final, independendo se seus meios forem um pouco irracionais e emotivos.
Em outro momento do texto de Ramos, esse destaca os pontos positivos e negativos da burocracia, baseando-se em outros filósofos. Dentre os aspectos negativos encontram-se a rigidez de comportamento, o culto alienado as normas e regras e ao monopólio de poder. O autor cita Kafka e Marx ao falar respectivamente, da irracionalidade da burocracia frente a expressão humana e seu poder de segregação. Quanto aos quesitos positivos, Guerreiro usa de argumentos weberianos para ressaltar a burocracia como medida impulsionadora do capitalismo e, consequentemente, da economia, além de seu caráter “indispensável em uma sociedade industrial”, por proporcionar rapidez e precisão em suas ações.
Analisando os citados trechos tem-se que a burocracia é um sistema de ambiguidade de opinião. Os diferentes grupos dentro de um conjunto burocrático, além de poder, têm interesses e pareceres diferentes quanto a procedência desse sistema. O que se tem atualmente é uma sociedade fundamentalmente embasada na racionalidade funcional. O caráter concentracionário fruto da burocracia em vigor em basicamente todas as esferas sociais na contemporaneidade promove a exclusão, desigualdade entre classes e reduz a racionalidade substancial. Apesar disso, é notável sua importância para o crescimento econômico e organizacional dos processos capitalistas.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Prestes Motta discorre sobre a burocracia de maneira mais descritiva e com enfoque em fatos históricos. É possível perceber a tendência crítica de Motta a respeito da burocracia, destacando, assim como Ramos, os prós e contras. Começa explicando a origem histórica desse sistema, durante a consolidação do capitalismo. Descreve a trajetória dos gestores, que quando conscientes de seus interesses comuns, se uniram e formaram uma nova classe.
Ainda equiparado ao texto anterior, Motta ressalta os diferentes interesses das classes que compõem o esquema burocrático. Para os patronatos é importante bloquear as tentativas de mudanças na estratificação
social, dentro e fora de organizações. Modificações nas relações sociais podem afetar diretamente na forma de hierarquização dentro de uma organização burocrática, o que não é proveitoso para os burocratas em questão. Retomando o texto de Ramos, transformações no ambiente interno e externo ao sistema burocrático, geralmente são sinônimo de crise.
Ainda usando de argumentos históricos, Motta atenta ao fato de que no percurso dos movimentos operários recorrentes, existe majoritariamente um resultado de derrotas contra a burguesia (representante, em certos momentos históricos, do movimento burocrata). Com o decorrer do tempo, além do aumento da extração da mais valia relativa (quanto a mão de obra trabalhadora), essa diferenciação se mantém, mostrando cada vez mais a estratificação social presente nesse sistema. Além disso, segundo o autor, as empresas contemporâneas estão cada vez mais interdependentes, o que aumenta o poder da burocracia. Portanto, quanto maior influência esta tem, apesar de inicialmente maior o crescimento econômico, maior também a segregação.
Nesse trabalho, Motta também destaca a relação das Escolas e da Burocracia. A educação patrocinada pelo estado burocrático ou empresas (ou seja, a rede de ensino nacional em sua totalidade) “se volta sempre para a afirmação de uma ordem social e uma dominação”. Essa alienação enraizada por meio de uma das ferramentas sociais mais consolidadoras (correspondente a educação) é responsável pela formação dos profissionais/ trabalhadores que irão compor o mercado de trabalho. Após a análise do trecho de Marx deixado pelo autor, que complementa a ideia em questão, percebe-se que a escola se tornou um espaço de difundir a burocracia, onde o contato mestre-discipulo (termo usado por Marx para professor e aluno) é impessoal e meramente funcional; objetiva apenas “formar meras engrenagens ao sistema”.
O autor fala também a respeito do termo “tecnoburocracia”, que corresponde ao nível mais alto de burocracia, obtentora de altas tecnologias, controle social e responsável pela organização do trabalho. Seus gestores têm poder econômico e principalmente administrativo. O autor situa a burocracia como “um grupo que tende a fazer prevalecer um certo modo de organização que se desenvolve em condições determinadas”. Contrapondo essa citação, Motta disponibiliza em seu texto argumentos de Marx, os quais assumem que a burocracia não satisfaz interesses da sociedade como um geral; é um sistema de opções fechadas e segregadas. Portanto, é um tanto quanto contraditório, em uma visão moralista da situação, que o sistema burocrático domine e determine como as ações de trabalho serão executadas, em uma sociedade formada majoritariamente pelos “comandados”.
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