O Que e Etnocentrismo
Por: Dezivania Ferreira • 15/7/2021 • Projeto de pesquisa • 1.873 Palavras (8 Páginas) • 147 Visualizações
Se comparássemos o Brasil com os Estados Unidos, e o parâmetro de comparação fosse o futebol, teríamos o Brasil como o mais "desenvolvido" e os Estados Unidos como o mais "atrasado". Se, por outro lado, o referencial fosse o número de grupos de rock, a ordem já seria outra. Cada sociedade possui sua própria cultura, sua própria visão do mundo. A comparação e o confronto entre as diversasarco para o pensamento acadêmico daquela época. Na era das grandes navegações e dos descobrimentos de novos mundos a mentalidade era de que os povos aborígenes (nativos americanos ou escravos) não poderiam considerados seres humanos.
Com a ideia de evolução crescendo eles passaram a olhar as diferenças culturais desta perspectiva evolucionista. Segunda Everardo Rocha a evolução é “é a transformação progressiva no sentido da realização de algo latente (...). É o desenvolvimento obrigatório de uma determinada unidade que revela, pelo processo evolutivo, uma segunda forma mostrando sua potencialidade.” (p.26). Assim passou-se a explicar as diferenças do ‘outro’ porque ele estava em processos de evolução diferente do ‘eu’. Ou seja, o ‘outro’ já não era considerado como inferior ao humano. Ele era incluído na raça humana, porém estava em um estágio mais remoto na escala da evolução. Os principais expoentes dessa antropologia evolucionista foram Edward Tylor, George Frazer e Lewis Morgan.
A grande questão era como haveria de ser definido o padrão para medir o nível de evolução de cada cultura. Para elucidar esse ponto Rocha cita a definição que Tylor dá sobre cultura: “Cultura é este todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, leis, moral, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade.” (p.30) [grifo acrescentado]. Os pensadores da época então definiram que esses itens sociológicos eram a régua pela qual as culturas seriam classificadas em: selvageria, barbárie ou civilização.
Obviamente não podemos deixar de fazer referência a esta perspectiva acadêmica como sendo altamente etnocêntrica. Em todo esse processo de avaliação da evolução das sociedades foi usado como padrão de medida a sociedade do pesquisador. Se todas as culturas do mundo eram classificadas em selvagens, bárbaros ou civilizados é claro que o pesquisador incluiria sua própria sociedade na civilização afirmando com isso que as demais sociedades ainda não chegaram no nível da sua sendo, portanto, menos evoluídas.
Rocha destaca com muita propriedade que, do ponto de vista do etnocentrismo, não há nenhuma diferença entre a mentalidade colonialista do sec, XVI e a mentalidade evolucionista do sec. XIX. Ambas partem do pressuposto de que a minha cultura é a melhor e por isso todas as outras devem ser avaliadas com os meus valores.
No capítulo 3 Everardo Rocha fala sobre como a Antropologia progrediu em suas formulações. Deixando as ideias evolucionistas esta ciência passou para o difusionismo tendo como seu principal representante o alemão Frans Boas que fez escola nos Estados Unidos. O grande dieferencial de Boas foi que ele percebeu a necessidade de estudar as sociedades em si mesmas, sem usar o Ocidente como referencial de análise. Vale a pena citar a declaração que Rocha faz a respeito da inovação de Franz Boas: “Foi ele o primeiro a perceber a importância de estudar as culturas humanas nos seus particulares. Cada grupo produzia, a partir de suas condições históricas, climáticas, linguísticas e etc, uma determinada cultura que se caracterizava por ser única.” (p.40)
Essa mentalidade que valorizava a particularidade de cada uma das culturas levou também a uma mudança no conceito de História. O que antes era visto como a História da humanidade – pois todas as sociedades eram descritas na escala da evolução partindo da História do ocidente – passou a ser visto como um conjunto de histórias de cada sociedade. A perspectiva de Boas ajudou a valorizar a construção histórica particular de cada povo.
Talvez uma das características mais peculiares de Boas foi o fato de ele estudar o passado de uma sociedade para entender seu presente. Um exemplo claro desse fato é o livro “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre. Segundo Rocha quem lê esta obra vai perceber que “a antropologia Social se faz em larga medida na observação de universos microscópicos, pela análise de pequenos quadros do cotidiano, pelo estudo meticuloso do detalhe da prática social.” (p.44). Ou seja, Gilberto Freyre (que foi aluno de Franz Boas) mostra que é possível entender toda a sociedade brasileira olhando para os pontos microscópicos da relação entre os senhores de engenhos e os escravos. O grande problema desse tipo de abordagem é o reducionismo. Não é possível julgar toda uma sociedade complexa partindo de pontos isolados do passado.
Uma crítica que apresento ao autor neste capítulo é a falta de aprofundamento do termo “difusionismo”. Se Franz Boas, chamado “pai do difusionismo” foi um marco importante na história da antropologia, acredito que esse termo deveria ter sido mais bem explicado. Talvez Everardo Rocha tenha diluído este conceito ao longo do capítulo. Caso isso tenha ocorrido faltou um esclarecimento de que, naquele determinado momento, o autor estava definindo o que é difusionismo.
Radcliff-Brown foi outro grande nome da antropologia moderna. Ele discordava dos princípios do difusionismo de entender a cultura de determinada sociedade a partir de um estudo de sua história passada. “Para ele a escola especulativa, conjetural, contrastava fortemente com sua proposta de estudo funcional das sociedades.” (p.59). A Antropologia Funcional, levantada por Radicliff-Brown estuda a sociedade do outro em seu momento atual, sem se preocupar com seu passado histórico, até porque estudar uma sociedade do ponto de vista histórico é valorizar a História, algo que somente a sociedade ocidental de pensamento linear valoriza.
Essa nova perspectiva de fazer antropologia desencadeou a necessidade da visita ao campo. Não era mais suficiente estudar uma sociedade a partir do gabinete. Agora era necessário o antropólogo ir a campo, “morar, experimentar a existência junto ao ‘outro’. Conhecer a diferença, experimentando-se a si próprio como diferente, por estar fazendo ‘trabalho de campo’ no mundo do ‘outro’”. (p.65)
A partir daí Bronislaw Malinowski assume a dianteira da Antropologia tornando-se o primeiro a ir ‘in loco’ fazer pesquisa de campo. Este era até então uma prática impensável para a época até que ele choca seus leitores na introdução do seu livro “Os Argonautas do Pacífico Ocidental” dizendo: “imagine-se o leitor, sozinho, rodeado apenas por seu equipamento, numa praia tropical
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