AS IMPLICAÇÕES SOCIAIS E HISTÓRICAS NA PSICOLOGIA CLÍNICA: UM COMPROMISSO ÉTICO-POLÍTICO
Por: Williane Araújo • 17/5/2022 • Monografia • 5.020 Palavras (21 Páginas) • 91 Visualizações
IMPLICAÇÕES SOCIAIS E HISTÓRICAS NA PSICOLOGIA CLÍNICA: UM COMPROMISSO ÉTICO-POLÍTICO.¹
Williane Karen de Araújo Farias²
Letícia Rezende de Araújo³
RESUMO
A Psicologia Clínica nasceu num contexto positivista, científico, e foi influenciada fortemente pelo modelo médico. Toda essa bagagem refletiu numa percepção limitadora intensa sobre essa modalidade, excluindo aspectos de grande relevância tanto em sua formação, quanto na atuação dos profissionais. Num país como o Brasil, onde grande parte da população está entre a classe baixa, torna-se necessário falar sobre os aspectos sociais que estão para além das paredes do consultório particular. Esse artigo tem como objetivo explanar a respeito das possíveis causas que geraram essa equivocada posição dentro da profissão, assim como reafirmar o papel do psicólogo(a) clínico no país, sem excluir o caráter ético-político intrínseco no seu fazer.
Palavra-chave: Ética. Política. Subjetividade. Psicologia clínica.
ABSTRACT
HISTORICAL AND SOCIAL IMPLICATION IN CLINICAL PSYCHOLOGY: AN ETHICAL-POLITIC COMPROMISSE
Clinical Psychology was born in a positivist, scientific context, and was strongly influenced by the medical model. All this baggage reflected in an intense limiting perception about this modality, excluding aspects of great relevance both in its formation and in the professionals' performance. In a country like Brazil, where much of the population is among the lower class, it is necessary to talk about the social aspects that are beyond the walls of the private practice.
This article aims to explain the causes that generated this mistaken position within the profession, as well as to reaffirm the role of the clinical psychologist in the country, without excluding the intrinsic ethical-political character in its work.
Key-words: Ethics. Politics. Subjectivity, Clinical psychology.
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¹ Artigo apresentado ao Centro Universitário UniFavip/Wyden-PE, como requisito para obtenção do título de Especialista em Psicologia Clínica.
² Psicóloga Clínica, graduada em Psicologia pela UniFavip/Wyden-PE.
³ Psicóloga, Professora do Centro Universitário UniFavip/Wyden-PE.
INTRODUÇÃO
Ferreira Neto (Cf. 2004, p.12), em sua obra “A formação do psicólogo” articula a respeito da Psicologia nos tempos atuais, apontando os perigos existentes da época sobre a formação desses profissionais. O autor também fala sobre o fazer do pesquisador em Psicologia, sobre a importância da produção científica para esse campo. Se posicionando e enfatizando a dimensão ético-política do fazer e do saber do profissional da Psicologia, visualizando-o como um sujeito eticamente posicionado, revelando uma compreensão contrária àquela que afirma ser o psicólogo um técnico neutro.
O autor indica uma necessidade da Psicologia ultrapassar as barreiras da habitualidade acadêmica, mantendo uma comunicação perene com diversas outras áreas, como a arte, a mídia e as novas tecnologias, pensando numa Psicologia comprometida com as dificuldades do seu tempo, numa busca de novas comunicações. Além disso, ele aponta para a importância da criação de novos aparatos clínicos, que ultrapassem os consultórios particulares, desbancando dogmas da clínica que individualizam o “mal-estar” do sujeito contemporâneo. Ele indica os perigos atuais da profissão, que concerne numa suposta formação tecnicista e acrítica. Localizar e enfrentar esses perigos é um trabalho que ainda está em aberto.
Ferreira Neto (Cf. 2004, p.17), declara a dimensão ético-política da investigação como uma ferramenta de luta. Ele toma como sua principal referência as concepções e o pensamento foucaultiano, trazendo à tona o lugar de comprometimento dessa ciência com a sociedade, buscando subsídios para problematizar a subjetividade no contemporâneo brasileiro. Ele indica a Psicologia como uma área heterogênea, usando o termo “campo psi” para se referir às diversas faces dessa ciência. Segundo ele, não existe uma unidade teórico-conceitual no campo da Psicologia. Na área clínica têm ocorrido mudanças as quais vêm adquirindo características de multiplicidade, variando nas formas de ser praticada, e nos contextos diversos. Por essa razão nasce a necessidade de um novo entendimento em suas bases. A Psicologia Social se torna portanto, uma das questões emergentes na formação do psicólogo brasileiro, solicitando uma atenção especial para esse assunto, no sentido de marcar presença nas várias áreas da prática psicológica.
Existe uma falácia que paira sobre o campo da Psicologia Clínica de que o individual estaria totalmente separado do coletivo. O que percebemos, no entanto, no âmbito da atuação clínica é uma interferência direta do social na existência dos sujeitos. Essa prática contém uma dimensão política e deve ser reconhecida pelos profissionais que a exercem. Nesse sentido, Ferreira Neto (Cf. 2004, p.28), busca em seu texto problematizar a formação do psicólogo, articulando a respeito da obra foucaultiana, dividindo-a em três vertentes: campos de saber, formas de poder e modos de subjetivação. Em sua obra, Foucault (Cf. Apud, NETO, 2004, p.18), problematiza a formação do psicólogo nos falando do modelo de atuações tecnicistas atuais para a prática psicológica, e da falta de senso crítico nesse fazer, problematizando o psiquismo contemporâneo. Para ele pensar criticamente traz consigo inerentemente a ação do modificar-se, como um exercício de si mesmo, onde não se sai ileso. Sua obra favorece uma abordagem enriquecedora para uma reflexão sobre a formação do psicólogo no Brasil.
HISTORICIDADE E COMPREENSÃO DA SUBJETIVIDADE E SUBJETIVAÇÃO
Para Foucault (Cf. Apud, NETO, 2004, p.27), o sujeito ético se constrói através de diversas práticas desempenhadas individual e coletivamente sobre si próprio. O sujeito é constituído em práticas reais, historicamente analisáveis, que vão além do jogo dos símbolos proposto pela Psicanálise. São processos que antecedem e constituem o sujeito, que passaram por variações, diferentemente da ideia onipresente de “ordem simbólica” psicanalítica. Para ele a teoria psicanalítica é necessária, porém não é suficiente para abranger a ideia de constituição subjetiva. Não obstante, sua discordância com a Psicanálise nunca foi total. Uma de suas críticas à clínica psicanalítica, por exemplo, é a de que esta opera na produção de uma subjetividade padronizada, baseada numa relação privada, restrita à intimidade do consultório.
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