Análise de discurso da musica como nossos pais

O filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, de Michel Gondry conta a história de Joel Barrish (Jim Carrey) e Clementine Krzuncinski (Kate Winslet), dois namorados que após alguns conflitos resolvem solicitar os serviços da Lacuna Inc., uma empresa que promete uma nova vida aos seus clientes apagando memórias indesejadas, geralmente ligadas a relacionamentos amorosos malsucedidos. Esse processo se dá através de um mapeamento de lembranças que são apagadas para sempre, deixando uma lacuna no conjunto de sua memória. Tal processo se da em três etapas, sugerindo as três espécies de rastros propostos por Paul Ricoeur‭. A primeira etapa para esse mapeamento é feita através da entrega de todo o material físico que remete qualquer lembrança da pessoa a ser apagada (rastro escrito); a segunda etapa é feita através d‬e uma máquina que grava todos os pensamentos e memórias referentes a pessoa a ser apagada, presentes no cérebro do paciente (rastro psíquico); e a última etapa se da através do mapeamento de todas essas memórias, onde a partir dele é possível apagar todas as memórias referentes a pessoa a ser apagada (rastro cortical). ‭“...Propus distinguir três espécies de rastros: o rastro escrito que se tornou, no plano da operação historiográfica, rastro documental, o rastro psíquico que é preferível chamar de impressão, no sentido da afecção, deixada em nós por um acontecimento marcante ou como se diz, chocante, enfim, o rastro cerebral, cortical, tratado pelas neuro ciências... O rastro cortical está do mesmo lado que o rastro documental, ele pode ser alterado fisicamente, apagado, destruído...” (‬RICOEUR; Paul, 2007 , ‭p.425). ‬

Segundo Paul Ricoeur, a construção real da memória é derivada da potencialidade do esquecimento. Para ele, o esquecimento momentâneo de algo é o que torna possível a rememoração, ou seja, o ato de trazer à tona a lembrança. Buscar uma lembrança perdida significa reencontrá-la em uma memória coletiva. No filme, Joel não consegue lembrar de nenhuma situação em que Clementine não estivesse presente, porque mesmo as memórias do passado ficaram relacionadas a ela. Uma vez que criaram intimidade, existe a troca dos momentos mais significativos de suas vidas e a memórias dessas vidas, antes individual, torna-se uma memória compartilhada (corpo - vivido).

O filme Para Sempre Alice é baseado no livro homônimo da neurocientista e escritora Lisa Genova e tem como personagem principal Alice Howland (Julianne Moore), uma mulher de 50 anos, bonita, bem-sucedida na carreira (como professora de Linguística na Universidade de Columbia) e na vida pessoal (três filhos crescidos, um marido atencioso).

Aos 50 anos, mesmo com hábitos saudáveis, apresenta esquecimentos esporádicos e em seguida recebe o diagnóstico de Alzheimer e, como estava no subgrupo de portadores da doença “antes dos 65 anos”, teve que dolorosamente concluir que suas funções cognitivas seriam afetadas rapidamente. Além disso, havia, também, uma grande possibilidade de seus filhos virem a ter os mesmos sintomas no futuro, pois nessas situações a doença é transmitida geneticamente. Com ela, iniciamos o processo de esquecimento, a estranha arte de perder (erosão da memória), vimos suas tentativas de manter as palavras na memória a partir do uso de jogos em seu smartphone. O filme relata todo o desgaste emocional e psicológico que a doença