Fichamento Psicodinâmica do Trabalho

FICHAMENTO

Psicodinâmica do Trabalho: teoria, método e pesquisas. (cap. 3, 4 e 5, p. 65-126). Ana Magnólia Mendes, organizadora. São Paulo: All Books, 2007.

Cap. 3

Pesquisa em psicodinâmica: a clínica do trabalho

“Nesse sentido, a clínica do trabalho é o modo de revelar as ligações que ocorrem entre o sujeito e o real. É a tradução do real pela escuta e pela fala, é tornar a situações de trabalho inteligíveis”. (p. 65)

“[...] fazer pesquisa em psicodinâmica é desvelar as transformações da organização do trabalho, a eficácia das estratégias, a emancipação dos trabalhadores, a reapropriação de si, do coletivo e das suas condições de poder, das suas funções política e social. Considera-se que a experiência de trabalho é um meio de se apropriar de si, de se transformar e de expandir a subjetividade. Interessa saber como se dá essa transformação do sujeito pelo trabalho, e como o sujeito se mobiliza para se engajar no trabalho. Para isso, é necessário trazer as contradições de discurso para torná-las explícitas. O objetivo da pesquisa em clínica do trabalho é a escuta do sofrimento, a elaboração, que levam o trabalho a recuperar sua capacidade de pensar e de agir, resgatando a sua emancipação como sujeito. A pesquisa é o momento para irrigar o pensamento, transformando-o num mobilizador para as mudanças na organização do trabalho [...]” (p. 66)

“O método pode ser definido como um conjunto de procedimentos e técnicas a serviço do objeto da pesquisa. Os procedimentos são o modo de realizar e tratar os dados da pesquisa, e as técnicas são os meios necessários para avaliar o real que jamais é observado diretamente”. “O capítulo aborda técnicas de coleta e análise de dados que vêm sendo utilizados pelo nosso grupo de pesquisa, desde 1994. Aplicam-se como técnicas para coleta de dados entrevistas semiestruturadas abertas individuais e coletivas, e como técnicas de análise a análise dos núcleos de sentido (ANS), inspirada e adaptada na análise de conteúdo categorial desenvolvido por Bardin (1970).” “O objetivo é sistematizar o conhecimento sobre essas técnicas e buscar articulá-las ao objetivo da psicodinâmica. Para tal, devem ser sentadas na escuta, na fala e na interpretação.” (p. 67)

A entrevista como fonte de dados

“[...] prioriza a escuta [...] “O pesquisador deve estar livre para escutar o que está fora de sua expectativa. As hipóteses devem acompanhar as questões, as quais não devem seguir um roteiro ritualístico. É importante a concentração e envolvimento emocional, não colocando o sujeito da pesquisa na condição de objeto.” (p. 67-68)

“[...] atitude clínica [...] "Sem essa escuta da fala não é possível investigar os elementos reguladores do latente encobertos pelos elementos falados e escritos no discurso manifesto.

Não havendo espaço para escuta, que pressupõe dúvida do que está posto, haverá um comprometimento da interpretação final dos resultados."(p. 68)

“[...] define-se a entrevista como uma técnica para coletar dados, centrada na relação pesquisadores-pesquisados e na fala-escuta-fala dos conteúdos manifestos e latentes sobre a organização do trabalho, as vivências de prazer-sofrimento, as mediações, e os processos de subjetivação de saúde-adoecimento." (p. 69)

“[...] objetivos da entrevista em psicodinâmica, esses se assemelham aos propostos nas entrevistas aplicadas a pesquisas em ciências humanas e sociais. São eles (a) compreender detalhadamente os sentimentos, crenças, atitudes, valores e motivações em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos; (b) compreender o objetivo de pesquisa sob a perspectiva dos entrevistados e entender como e por que eles têm essa perspectiva particular; (c) investigar o significado e/ou processo de uma unidade social e/ou dos fenômenos para o grupo pesquisado; (d) investigar a história individual; (e) realizar estudos descritivos e/ou exploratórios; (f) validar, clarificar e ilustrar dados quantitativos para melhorar a qualidade da interpretação; e (g) desenvolver e testar conceitos [...]” (p. 69)

"As entrevistas devem ser conduzidas levando-se em consideração a linguagem do sujeito e a utilização de técnicas como a associação livre, deflexão e estimulação. Associação livre refere-se à evocação de conteúdos referentes ao trabalho que não estão necessariamente conscientes. Solicita-se ao entrevistado que fale do que lhe vem à mente quando ouve a palavra trabalho." (p. 69)

"É importante que as entrevistas, de maneira geral, sejam individuais ou coletivas, obedeçam a um roteiro temático definido com base no referencial teórico descrito no capítulo 1." (p. 70)

"Este roteiro tem por objetivo investigar basicamente quatro temas: o primeiro refere-se ao contexto de trabalho". "O segundo tema diz respeito aos sentimentos no trabalho". "O terceiro tema se refere aos modos de enfrentar a organização o trabalho". "O quarto tema trata das patologias sociais decorrentes da organização do trabalho a saúde e os riscos de adoecimento." (p. 70-71)

"É recomendável a participação de no mínimo três sujeitos e no máximo seis. Geralmente é realizado um encontro para coleta de dados, podendo se estender para dois." (p. 71)

"Por fim, a clínica do trabalho requer, para fins de análise, que as entrevistas sejam gravadas e transcritas na íntegra, considerando que são a fala do sujeito, o dado essencial para apreensão do objeto e para a interpretação dos dados." (p. 72)

Análise dos Núcleos de Sentido – (ANS)

"A ANS consiste no desmembramento do texto em unidades, em núcleos de sentidos formados a partir da investigação dos temas psicológicos sobressalentes do discurso. É uma técnica de análise de textos produzidos pela comunicação oral e/ou escrita. É aplicada por meio de procedimentos sistemáticos, que envolvem definição de critérios para análise." (p. 73)

"É recomendável que a análise seja realizada por mais de um pesquisador, que, após a leitura geral de cada entrevista a marcação das falas que representam os temas psicológicos/semânticos, classifique e agrupe os temas em núcleos de sentidos. Os temas são categorizados pelo critério de semelhança de significado semântico, lógico e psicológico." (p. 73)

"Núcleo de sentido: "É a única coisa que sei fazer...". Definição: o trabalhador gosta do trabalho que realiza. Trabalha em um ramo que sempre sonhou. Demonstra desejo de estar sempre no ambiente de trabalho e de permanecer no ramo profissional." (p. 73-74)