O Capitalismo, Estados e Dívida
Por: Eduardo Young • 4/5/2021 • Monografia • 842 Palavras (4 Páginas) • 129 Visualizações
A crise de 2007-2008 sempre será lembrada pela quebra do banco americano Lehman Brothers, e a grande disponibilização de hipotecas para famílias de baixa renda. Mas na verdade Thompson defende que o principal fator que levou ao “estouro da bolha” é um esquema muito maior e muito mais antigo enraizado no capitalismo, do qual ele sempre se baseou: o endividamento. O capitalismo depende da relação crédito-débito para sua existência na forma de juros e empréstimos pelos bancos não só para a população mas os próprios estados dependem muito dessa união, o próprio Banco da Inglaterra foi criado em 1694 para financiar as despesas de guerra da Coroa Britânica pois todos os Estado Modernos do Séculos XVI XVII contraíram dívidas astronômicas para manter suas forças armadas. O grande endividamento dos países naquela época também foi decorrente do investimento pesado em infraestrutura e como o tempo em educação e bem-estar social. Grande parte dessas dívidas foram financiadas a partir de emissão de obrigações. Títulos do tesouro, com taxas de juros fixas e datas de vencimento, foram colocados à venda no mercado monetário para investidores e relativamente protegidos com futuras arrecadações do governo. Esta ligação Estados/Investidores era bem estável e funcionava muito bem, mas sabiam dos possíveis riscos. Se o Estado deixasse de pagar suas dívidas, os bancos e investidores iriam à falência como já haviam observado várias vezes ao longo da história dos Estados Modernos. Os bancos e investidores privados sempre buscaram garantias em seus investimentos, e destas garantias podemos citar duas mais importantes: A garantia de uma inflação controlada para que não houvesse uma perda do valor real da moeda, e a garantia de que as receitas estatais seriam o suficiente para pagar os juros e os empréstimos para evitar o risco de inadimplência. A taxa de juros é determinada pela procura por títulos da dívida, e esta depende da confiança que os investidores tem em um determinado governo. Essa credibilidade vem de uma análise de agências de classificação de risco de crédito que buscam verificar se o país tem controlado sua inflação nos últimos anos, e se tem um déficit considerado aceitável para os parâmetros orçamentários. As duas principais agências de classificação de risco de crédito são a Moody’s e a Standard & Poor’s, que avaliam não só empresas privadas como estatais também. A avaliação de crédito certamente não é uma atividade criada recentemente, mas a existência desta atividade por poucas empresas privadas como atividade comercial certamente é. John Moody criou a Moody’s em 1909 enquanto a Standard & Poor’s decorreu da fusão da Standard Statistics Company e da Poor’s Publishing Company em 1941, seu início pode ser traçado até meados da década de 1850, quando Henry Poor começou a divulgar relatórios regulares de investimentos em ferrovias e em outros relativos à infraestrutura. Existia ainda a Fitch criada por John Fitch em 1913 que na verdade era uma editora especializada em estatísticas financeiras. As agências de classificação de risco de crédito inicialmente voltaram seus olhos para ferrovias, canais, empresas industriais e instituições financeiras, que eram as principais atividades econômicas da época. Com o fim do acordo de Bretton Woods em 1971, que fez com que os Estados Unidos acabassem com a convertibilidade do dólar em ouro, e a liberalização da regulação financeira nos anos 70 e 80, estas empresas acabaram ganhando uma relevância absurda visto que cada vez mais investidores as procuravam para orientações de investimento. Elas tem um enorme impacto nos mercados financeiros, suas classificações que vão de AAA (sendo o máximo) e D (o mínimo) tem uma influência muito grande nas taxas de juros que as empresas e governos tem que pagar para quitar sua dívida, sendo assim, organizações com uma classificação mais alta tem um custo menor de empréstimo dada sua alta credibilidade, e as que possuem uma classificação mais baixa terão um custo de empréstimo mais alto graças à sua falta de credibilidade. Portanto, por muito tempo o Estado tinha uma certa aliança com investidores, visto que os empréstimos que recebiam vinham com a responsabilidade de manter uma inflação baixa e manter um déficit controlado, e se fugissem disso seriam duramente punidos. A incerteza gera venda de títulos da dívida, que desencadeiam taxas de juros mais altas (atraindo os investidores) que aumentam o peso da dívida do Estado. Porém, com os investimentos dos governos em programas sociais e tentativa de reduzir a desigualdade social geraram expectativas cada vez mais altas da população quanto à saúde, educação, segurança e outros serviços do Estado, e para atender essas expectativas o governo acaba gerando grandes despesas o que deixa os credores do Estado extremamente insatisfeitos, podendo elevar as taxas de juros e deixando a população extremamente revoltada. A grande mudança entre a relação dos Estados e bancos que ocorreu ao longo dos dois últimos séculos é que nos Estados Modernos o banco financiava as despesas governamentais e sofria o risco de inadimplência soberana, e hoje o Estado é o último recurso dos bancos, e em tempos de crise quando existe a possibilidade de um grande banco quebrar o Estado pode resgatá-lo.
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